sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Bla Bla Bla

          Eu tinha uma tia que se chamava Rosa. E todos diziam que eu era a cara dela. Nem a filha parece tanto com a Rosa como a Angela, filha do Lito! diziam. Sinceramente eu não achava tanto assim quando era jovem. Agora sim; a mesma cara, o mesmo jeito, as mesmas flores o mesmo jardim...
Ela falava muito, sabe? Eu também. Quer dizer... eu falo muito. Só há pouco tempo a ficha caiu que quando me comparavam com ela era do "falar demais" que se referiam.
Se ela te parasse para te cumprimentar só te soltava  quarenta minutos depois. Quantas vezes a vi na rua (moravamos no mesmo bairro) e fingi não te- la visto para não perder o onibus.
          Eu ainda era bem nova, tipo 10 anos, quando mamae disse que tinha aprendido a desligar de mim ou enlouqueceria com a minha fala compulsiva.
          Certa vez, ainda casada com o pai das minhas filhas, estava escolhendo umas fotos para por em um porta retrato. Escolhe daqui escolhe dali acabamos escolhendo uma onde eu estava com a boca aberta; falando. Comentei o detalhe com o Zé. No que ele comentou: Mas é assim que todos te conhecem! kkkkkk
Logo eu que sempre gostei de conversar?  Eu que sou aberta ao diálogo? Tipo eu falo voce escuta!?
           Mas tem um fato curioso. Não gosto de falar ao telefone. Quero terminar logo a chamada.  Mas falo muito mesmo assim. Quantas vezes Bia precisa me lembrar que foi ela quem ligou. É que eu to com a boca cheia de palavras, digo.
          Dia destes me peguei comentando com um amigo que gostaria de um dia fazer palestras. Quem sabe sobre a arte de ouvir mais e falar menos? sugeriu ele.
Ah isso eu já aprendi! disse. Quando vou a um Bingo. Tem coisa mais cacete do que ir à Bingo? Tem sempre alguém fazendo psiu!!! pra gente.
Pescaria ? To fora! Se a gente fala os peixes se assustam e se mandam. Ah nem!!!
          Quando estudei na UnB aprendi em psicologia da infancia que os meninos andam primeiro e as meninas falam primeiro. Ora, então nao é característica minha. É do feminino. Mas as professoras não sabiam disso. A Angela é ótima, mamãe ouvia nas reuniões, só que conversa demais! Muito conversadeira! "E espaiadeira" diria o Davidson, amigo da Marina. Um goiano com linguagem própria! Conhece alguém que tenha sua própria linguagem? Este é o Davidson. Qualquer dia desses volto aqui para falar um pouco dele.
          Depois de aposentada fui estudar filosofia. Que delícia  usar a fala como instrumento de raciocínio, questionamento, oratória etc e tal... Ter um álibi e poder falar sem culpa. Um barato!
          Outra tia minha costumava  dizer que eu falava mais do que a preta do leite. Me lembro de pensar... Não sei quem é essa preta e não me interessa saber.
          Sou capaz de ficar horas falando. E muitas das vezes to falando  pra pessoa o que eu mesma não consigo ouvir.
          Bom mesmo é discutir a relação. Até porque os homens não gostam de falar e aí a gente fala pelos dois; ou melhor pelos cotovelos!  E acorda ótima no dia seguinte, afinal o coitado ouviu tudo calado. Tudo bem. Talvez tenha cochilado de olhos abertos. Ou não. Para mim dá-se lo mismo. Eu precisava ser "ouvida". Eu me senti ouvida! Valeu companheiro, Bola pra frente. A vida continua. E ainda tem mulher que se queixa!!!
          Penso que cada um de nós vem a este mundo com uma estrela, uma missão. Talvez no meu caso  a profecia tenha sido. " Primeiro se fará o verbo... depois a palavra... e  mais tarde o bla bla bla..."
Mas... como eu ia dizendo...

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