terça-feira, 30 de novembro de 2010

De bruxa para bruxa

Bruxa Ana postou o texto abaixo em seu blog QUER SABER DE MIM ME PERGUNTE

Não nascemos mulher, nos tornamos, disse Simone Beauvoir e eu concordo com ela. Hoje é o aniversário da minha amiga loba, bruxa, Ângela, uma mulher que construiu-se, tornou-se, amparada, embasada, curtida em suas experiências, em tudo que viu e sentiu; uma mulher que fez seus caminhos, foi e voltou todas as vezes que isso foi necessário; uma mulher que tem a magia das que sabem voar em suas vassouras e correr com os seus lobos. Sou sua fã.

Bruxa Angela comentou.

Muitas idas... muitas voltas.... A cada esquina uma oportunidade de farejar lobas que corram comigo. Ana, vc é mais uma da meia duzia de tres ou quatro que farejei. Nosso troféu? A vassoura! Quietinha num canto a nos lembrar a preservação do nosso self. E viva a Baba Yaga!!!

domingo, 28 de novembro de 2010

Guess what! ( A riddle )


O que a lutadora tem que as outras não tem?
Resposta: Tem a ceifeira caçadora como mãe.
O que a árvore de louros, a divindade da paz e a deusa ondina tem em comum?
Resposta: Elas tem a lutadora como mãe.
E o que a deusa ondina tem que as outras não tem?
Resposta: Tem a mensageira como filha.
E o que a mensageira tem que as outras não tem?
Resposta: Tem  duas filhas: a que faz as pessoas felizes e tem a força que vem do mar.
O que a que faz as pessoas felizes tem que a que vem do mar não tem?
Resposta: Tem a que é digna de ser amada e tem a energia da juventude.
O que a que é digna de ser amada tem que a outra não tem?
Resposta: Tem como madrinha a força do mar.
E o que a força do mar tem que todas tem?
Resposta: Tem a força da terra, do mar, do fogo e do ar .
Tem muita coisa pra contar.


A árvore do louro

Houve um tempo que não volta mais.
Um tempo de bordados e pasteis
E houve uma tia que largou a agulha
jogou fora  a frigideira
sumiu na poeira.
Assim como houve uma árvore de louro no quintal.
Preciso buscar a árvore e identifica-la
Vou chamá-la de laura.
O nome da tia.
O nome da árvore.
Do mais é lembrança, tempero e  ancia
Do mais é carinho, saudade, cheiro de infancia.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Não era o Perereca!

          Gente o que a "cachaça" não faz...
          Este caso merece que eu vá dormir um pouco mais tarde. Hoje pela manhã Marina me ligou dizendo que tinha dois convites para ir assistir a uma palestra do pianista e regente João Carlos Martins sobre superação de limites. Ok, claro que vamos.Voce me pega?
          Ficou marcado de nos encontrarmos num bar da cidade as 19 hs pois a  Marina, e a Lia iam estar num Happy Hour fazendo hora para a palestra.
          Para quem não conhece a Lia, ela é uma amiga queridíssima nossa. Vale ressaltar que existe uma equação inevitável nesta amizade. Assim: Marina mais Lia é igual a "Cachaça". Tipo eu não to bem, voce também não, bora beber uma cervejinha pra por o papo em dia.
          Costumo ser pontual e às 19 hs eu estava chegando no bar e percebo que Marina está só na mesa. Oi, filha. Kd a Lia? Banheiro? Não, mãe tá ali na outra mesa . Encontrou um amigo que não via Há tempos e, olha só... o cara tá com o Perereca, um amigão dela. Olhamos em direção a mesa e Lia esta travando um diálogo animado com os dois amigos. Marina tá tomando uma gelada e eu peço um guaraná. Coisa boa é rever amigos de tempos idos. Ficamos meio que felizes por ela. 
          Conversa vem, conversa vai, volta a Lia meio que atabalhoada. 
          Oi tia. Oi Lia, e aí? revendo o Perereca. Não. Como assim, não? Não era ele. Como não era ele? Sei lá, tia, no meio do papo eu percebi que não era o Perereca. Mas, e daí? pergunta a Marina.
 Daí que conversei assim mesmo. Mas não era ele , mesmo? Acho que não. Que eu saiba Perereca não se casou e este sujeito ostentava uma aliança de casado. Trágico, se não fosse comico.
          Lia, pergunto eu, mas vc não confirmou se ele era o Perereca? Não tia. Não deu tempo. Eu ainda tava em dúvida.
          Como ou quando vc soube que não era ele? Quando percebi que ele não sabia que eu estou estudando para concurso. Perrereca sabe tudo da minha vida. Estranho... Risos...
          A gente sabe que as aparencias enganam:  Assim o rapaz deve ter ficado com uma interpretação na qual a Lia era mais uma a se jogar para um homem  num bar. Mais um flerte. Deve também ter imaginado que ser chamado de Perereca fosse mais uma gíria, para quem sabe, gatinho ou tigrão!?
          Lia, voce tava " dando em cima "do cara com aliança no dedo! Mas o que a cachaça não é capaz de fazer com o nosso cérebro?
          É... as aparencias enganam. Assim como o apelido que deu origem ao título desta postagem engana também.
          Haverá quem se pergunte... Por que o Perereca e não a Perereca?
         Outros pensarão: Ah... não importa o genero, vai!
         Coisas da Lia...

Nos bailes da vida

          Os sonhos mais lindos sonhei... enquanto rodopiava pelos salões dos clubes cariocas nos tempos em que ainda me chamavam de mocinha. Ao som de Ed Lincon, Ed Maciel, Tabajara e outras orquestras maravilhosas. Costumo dizer que a vida foi muito boa para mim. E foi mesmo. Vivi um tempo em que sonhar fazia parte e dentro do nosso coração tinhamos a certeza da concretização do sonho um dia. Fechávamos os olhos, nos deixávamos conduzir e só acordávamos com o final da musica ou com um discreto pisão nos  pés.
          Os rapazes puxando um pouquinho mais o nosso corpo de encontro ao deles e nós empinando cadinho mais o quadril para trás.  Faces ardentes, mãos geladas, coração descompassado, olhos cerrados, aquela música, aquele perfume ... e a noite tava ganha. Simples assim. Sem promessas de ligações no dia seguinte, muitas vezes sem nem um beijo de boa noite.
          De quimeras mil um castelo erguia... a cada vez que alguém vinha até a minha mesa e cordialmente me tirava para dançar.
          O teu corpo é luz, sedução. E era mesmo. Uma luz que iluminava a alma, aqui dentro. Iluminava a nossa vida, o nosso futuro, o nosso destino. Poema divino cheio de emoção.
          Quando a orquestra cessava as quatro da manhã íamos flutuando para casa com o peito enorme e a cabeça nas nuvens. E aquilo nos abastecia de fantasias por meses. Ou melhor, até o próximo baile. O próximo vestido, a próxima aventura.
          Daria tudo para voltar a ouvir Teu sorriso prende, inebria, entontece... como ouvi várias vezes quando nos finais dos bailes nos despedíamos com os olhos fixados nos olhos do outro. És fascinação. Amor!!!
Quem já viveu a experiencia sabe do que eu estou falando. Quem ainda não viveu, porque não buscar? Ainda dá tempo!
Foto de Henri Cartier Bresson

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Viver a vida! (um brinde a 2011)

"Para celebrar o meu envelhecimento, certo dia eu escrevi as 45 lições que a vida me ensinou.
É a coluna mais solicitada que eu já escrevi."
Meu hodômetro passou dos 90 em agosto, portanto aqui vai a coluna mais uma vez:
1. A vida não é justa, mas ainda é boa.
2. Quando estiver em dúvida, dê somente o próximo passo, pequeno .
3. A vida é muito curta para desperdiçá-la odiando alguém.
4. Seu trabalho não cuidará de você quando você ficar doente. Seus amigos e familiares cuidarão. Permaneça em contato.
5. Pague mensalmente seus cartões de crédito.
6. Você não tem que ganhar todas as vezes. Concorde em discordar.
7. Chore com alguém. Cura melhor do que chorar sozinho.
8. É bom ficar bravo com Deus Ele pode suportar isso.
9. Economize para a aposentadoria começando com seu primeiro salário.
10. Quanto a chocolate, é inútil resistir.
11. Faça as pazes com seu passado, assim ele não atrapalha o presente.
12. É bom deixar suas crianças verem que você chora.
13. Não compare sua vida com a dos outros. Você não tem idéia do que é a jornada deles.
14. Se um relacionamento tiver que ser um segredo, você não deveria entrar nele.
15. Tudo pode mudar num piscar de olhos Mas não se preocupe; Deus nunca pisca.
16. Respire fundo. Isso acalma a mente.
17. Livre-se de qualquer coisa que não seja útil, bonito ou alegre.
18. Qualquer coisa que não o matar o tornará realmente mais forte.
19. Nunca é muito tarde para ter uma infância feliz. Mas a segunda vez é por sua conta e ninguém mais.
20. Quando se trata do que você ama na vida, não aceite um não como resposta.
21. Acenda as velas, use os lençóis bonitos, use roupa chic. Não guarde isto para uma ocasião especial voce é especial.
22. Prepare-se mais do que o necessário, depois siga com o fluxo.
23. Seja excêntrico agora. Não espere pela velhice para vestir roxo.
24. O órgão sexual mais importante é o cérebro.
25. Ninguém mais é responsável pela sua felicidade, somente você..
26. Enquadre todos os assim chamados "desastres" com estas palavras 'Em cinco anos, isto importará?'
27. Sempre escolha a vida.
28. Perdoe tudo de todo mundo.
29. O que outras pessoas pensam de você não é da sua conta.
30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo ao tempo..
31. Não importa quão boa ou ruim é uma situação, ela mudará.
32. Não se leve muito a sério. Ninguém faz isso.
33. Acredite em milagres.
34. Deus ama você porque ele é Deus, não por causa de qualquer coisa que você fez ou não fez.
35. Não faça auditoria na vida. Destaque-se e aproveite-a ao máximo agora.
36. Envelhecer ganha da alternativa -- morrer jovem.
37. Suas crianças têm apenas uma infância.
38. Tudo que verdadeiramente importa no final é que você amou.
39. Saia de casa todos os dias. Os milagres estão esperando em todos os lugares.
40. Se todos nós colocássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos todos os outros como eles são, nós pegaríamos nossos mesmos problemas de volta.
41. A inveja é uma perda de tempo. Você já tem tudo o que precisa.
42. O melhor ainda está por vir.
43. Não importa como você se sente, levante-se, vista-se bem e apareça.
44. Produza!
45. A vida não está amarrada com um laço, mas ainda é um presente.
Escrito por Regina Brett, 90 anos de idade, que assina uma coluna no The Plain Dealer, Cleveland, Ohio.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Saudade do medo do escuro

          Receio fazer algo e não sei bem porque. Isto me dá uma ansiedade enorme porque sei que o receio é só um aviso de perigo. Mas já não seria o bastante? ... mas qual é o perigo? pergunto baixinho para mim mesma. Lá bem no fundo de mim mesma sei que o medo saudável é um respeito por nossos limites. Mas a questão é saber quando o medo deixa de ser saudável para ser neurótico(?!)
                   Insisto. E, mais uma vez, intuitivamente penso que seria bom se  agisse com moderação.Mas sou teimosa e mais uma vez...Não ouço  a velha amiga, a intuição, e me esqueço da precaução. Resultado...Sofro as consequencias do meu gesto.
                  Sigo brincando com minha intuição, meus receios e minhas precauções de araque. Até que um dia, não lembrando mais onde as coloquei, o medo se instala.
A cada movimento repetido no receio parece que soa uma sirene de alarme dentro do meu peito a me dizer Não!!!
De nada adianta. Sou teimosa. Penso que não posso ter medo. Que devo experimentar de tudo, ouvindo minha voz interior. Mas já não a ouço.
E sigo com medo....
Até que a repetição faz com que este sentimento tome ares de malfeitor e se torne panico.
Junto vem  a frustração. Depois a culpa de não ter sido mais prudente. De ter agido com insensatez.
Me resigno a acreditar que vou fazer diferente da próxima vez.
Prometo ouvir a minha intuição, agir com precaução, respeitar meus receios, evitar o medo e atravessar para o outro lado da rua para não encarar o panico outra vez.
Sou capaz de jurar com a mão sobre a bíblia que agirei com a dose de sensatez que me faz bem.
Será? Sei não. Tomara!
Tenho saudades de quando o medo era do escuro e bastava cobrir a cabeça com o lençol!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Maktub

           Estava escrito. Eu precisava de uma vassoura Xamanica. Não que pretenda usá-la como meio de transporte. Para isso tenho um Logan que me atende direitinho. Mas por ser a vassoura um amuleto a me lembrar que muitas vezes estaremos "varrendo o nosso chão". Uma mulher que varre seu chão sabe o que isso pode fazer por ela.
          Outro dia algo me chamou a atenção na W3 Norte. Uma pedinte está fazendo ponto em frente a Colegial na 502 Norte. Ela fica o dia todo sentada num colchão de casal com alguns pertences em volta de si mesma. Curioso é que do lado do colchão pode se ver duas vassouras encostadas na parede. Clarissa Pinkolas saberia explicar o motivo das vassouras. Eu apenas presumo que a presença delas seja para que possa manter sua "nova morada" limpa. A cena é  de nos  fazer pensar...
          Qual seria o arquetipo da vassoura? Seria a união do masculino com o feminino. Na cultura celta a vassoura é a representação da integração da enegria masculina (o cabo) com a energia feminina (a palha). Juntos varrem a sujeira da terra. Assim, toda vez que uma mulher estiver varrendo o chão cantando, quiça dançando, saberemos que estará se religando ao  seu self. De uma maneira ou de outra absorvendo forças telúricas.
          Minha avó costumava dizer que quem varre e  canta, seus males espanta. Penso que seus males espanta porque neste simples "ritual" algo toca nosso self profundamente, nos devolvendo o poder pessoal, muitas vezes esquecido.
          Mas eu pensava... queria que fosse feita por uma bruxa. Sabe como é, a energia de uma vassoura confeccionada por uma bruxa é diferente!!!
Numa de nossas conversas  dia desses,  Ana, uma bruxa do Recife que admiro muito, comentou  que já confeccionou muitas vassouras  xamanicas numa época de sua vida. Tive vontade de perguntar? Voce não tem carro? kkkkkkk
          Maktub! Ana está fazendo a minha. A Ana! Uma bruxa, se optarmos pela tradução celta  da palavra bruxa como aquela que cuida.
          E eu nem preciso me preocupar com o custo da mesma, uma vez que vou mandar a conta pro meu genro e dizer a ele que é meu presente de natal.
          Depois de ficar pasma ao ver que a profecia  se realizaria por uma bruxa tão... arteira, decidi que vou levá-la para O arco da velha em janeiro.
          Fico pensando que com os atrasos dos voos, se eu me irritar nem preciso fazer check in! Já estarei no aeroporto com minha vassoura em mãos!
          Mais vale prevenir que remediar...
          Aúúúúúúúúúúú

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A lista

          Chega uma hora, geralmente no final do ano, que a gente faz um balanço. Balanço do que serve e do que podemos descartar. Descartamos  roupas,  compromissos,  amigos para enviarmos cartoes, preocupações, lembranças,  esperanças, emoções.        
Outras vezes nos deparamos com amigos que já estavam esquecidos numa gaveta qualquer e fazemos promessas de nos vermos com mais frequencia. E a lista cresce.
          Tudo é ciclico. O que servia ontem hoje segue  rumo dando lugar ao novo. A ordem é esvazias as gavetas, abrirmos espaços. Buscar a inteireza que vem do vazio.
Enxuga-se o pranto, os sonhos,os gastos, os contatos,as expectativas, o número de fotos, os compromissos, os espelhos da casa, a poupança, a mala, a herança. Descartar o excesso acumulado  para que a alma flua num corpo  mais leve. Mais pleno de si.
Um exercício de escolha, desapego, leveza, renovação. E por que não dizer um exercício de constatação, como sugere Oswaldo na letra abaixo.

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Então é natal...


Vem chegando o natal e com ele a esperança que as coisas se ajeitem.
Venho, agora, insistir na teoria de que nada que nos acontece está errado.
Talvez pudéssemos deixar um pouco de lado a  busca pelas respostas.
E seguirmos mais confiantes e fortalecidos.
E uma vez fortalecidos, ver  ,ou não,as mudanças acontecerem.
Que cada papai Noel acima represente uma das palavras abaixo.
Entrego, confio, aceito e agradeço.
Logo, entrego as ciscunstancias do meu momento atual à Deus.
Confio que entreguei em mãos competentes.
Aceito o que vier, uma vez que veio de tamanha luz.
Agradeço o rumo que as coisas tomarem.
Tão simples e tão complexo.
Um convite para que experimentemos o novo.
Ainda que o novo nos pareça tão antigo.
Uma renovação  na maneira de ver as coisas
Vale tentar.
Feliz Natal.


The 60's

Os anos Sessenta ...
do Movimento Tropicália,
da Jovem Guarda,
do Movimento Hippie,
 da Repressão,
 dos festivais da canção,
da mini saia,
 do Pasquim,
da Leila Diniz,
da Bardot,
da Cardinalle,
do golpe de 64,
  Da UNE,
do figurino doGil Brandão,
do incendio do circo,
 da censura,
 dos Beatles,
do Women's lib,
dos Assad,
do pisa firme que Este Chão e TEU!
do Instituto de Educação,
dos bailes de formatura,
com vestidos à rigor,
da promessa do País melhorar,
eu Amar, me casar e Formar ...



domingo, 14 de novembro de 2010

Assadiando-me








         Costumo dizer que a vida por si só, se encumbe de muita coisa. Um bebe precisava de leite materno. Minha mãe estava me amamentando. Era leite demais. Por que não amamentar mais um? Assim mamãe  conheceu  os pais do bebe. Maria e Antonio.Os Assads, para nós. Pais de sete filhos. Moradores da Maria Amália. Um ladeirão na Tijuca, Rio de Janeiro. E a nossa vida  se expandiu.
          Estas pessoas entraram para a nossa família, somamando  até os dias de hoje, 55 anos depois.
          Mariazinha, só por conta do tamanho. Mais justo seria chamá-la Mariazão. Ou a Grande Maria.Criou sete filhos e alguns netos. Fez os melhores quibes já provados no Rio de Janeiro e jogou tanto buraco que perdi as contas. Jorge, José, Nely,Neuza, Neide(Que absurdo!), Julia e Tony(meu irmão de leite) eram os filhos dela.
          Gente inteligente, brilhante. Com o dom da oratória, prestativos e até hoje queridos no meu coração. 
Jorge, José e Nely eram os mais velhos, de modo que minha convivencia foi maior com os outros quatro.
          A casa era grande. Lá na Maria Amalia, 618, Onde Neide quer que joguem suas cinzas depois de cremada. Até eu gostaria.  E era lá, naquele grande coração, que a gente ía nas férias, feriados ou quando a saudade batia.
          Tinha o Bob e depois o  Tarzan, um cachorro amarelo. Tinha quintal com balanço e pomar. E, gente, eles tinham telefone. Um luxo na época. O pobrezinho vivia ocupado. Dificílimo falar com eles. Ou as meninas estavam penduradas no telefone namorando ou algum vizinho que vinha pedir para usá-lo rapidinho. A porta desta casa só fechava à noite, de modo que era só ir chegando.
          Durante o carnaval mamae costurava as fantasias que escolhíamos para montar os blocos do ano. Assim foi que fui levada para o primeiro baile noturno de adulto, sem os meus pais, pela Julia, Neuza e Neide. Todas  vestidas  de bruxa.
          Até a morte de minha mãe ela sempre lembrava da Julia cantando... E E bruxa E E E! com carinho e rindo de todos os momentos que vivemos naquele endereço. Jogávamos buraco, Julia fazia sorvete de abacate, cantávamos as músicas da Tropicália, testemunhávamos altas discussoes sobre tratados da medicina e outras coisinhas mais, durante os almoços que aconteciam  numa mesa de dez lugares.
Jorge , José, Neide, Tony e Liva, hoje marido da Neide, faziam medicina. Nely e Julia eram professoras e Neuza era psicóloga.
          Tia Maria só tinha empregados homens. Teve o Riqueza (apelido dado pelos meninos) que matava um de rir. Riqueeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeza! chamavam todos ao mesmo tempo e o pobre rapaz quase morria correndo pra um e pra outro sem parar. Kd minha meia? Vai ali me comprar cigarros! Descasca umas laranjas pra nós! Certa feita se jogou no chão e começou a pedir desesperado que cada um o chamasse de uma vez. As vezes, cansado ía pro banheiro e não voltava. Acho que cochilava.
          Estávamos de férias jogando cartas e o Paulão, então namorado da Neuza já tinha gritado o nome dele n vezes e ele não aparecia. Nely, de fala mansa passava por nós e dizia ... Paulo ele tá no banheiro! Depis de um tempo o Paulo foi no banheiro abriu a porta e levantou o coitado do vaso com as calças ainda descidas. Vai comprar meu cigarro Riqueza! disse. No que o rapaz exclamou que ainda morreria de tanto subir e descer a ladeira. Realmente era só o moleque chegar para alguém lembrar que tinha esquecido de pedi-lo para trazer algo e ele já ia descendo a rua novamente.
          As meninas competiam qual delas imitava  melhor a Neide Aparecida, garota propaganda da época. Nos faziam sentar e assistir a encenação. Era muito bom. Bom estar lá e bom ouvir o texto que nunca mudava. Se voce deseja adquirir um televisor...  tantas polegadas vá a To ne lux!!! A mais bonita loja da cidade! Todas faziam bem; de modo que cada dia escolhíamos uma para ser a Neide Aparecida da vez. Um dia a Júlia, noutro a Neuza e noutro a Neide.
          Neide tinha  o apelido carinhoso de "Q absurdo", devido ao hábito de continua repetição desta expressão. Assim combinamos que na sua a formatura quando no auditório chamassem o nome dela todos gritaríamos...Que absurdo!. E o fizemos em coro uníssono.
          Tempos depois eu fui estudar numa escola onde ela trabalhava o que fez com que estreitássemos os laços, uma vez que ela me dava carona no taxi de volta para casa. Naquela época no Rio era comum mocinhas serem desviadas de seu trajeto pelos motoristas de taxis. Guardiã da minha virgindade, ela descia do taxi na Tijuca e eu continuava até o Grajaú. Como  o horario da escola era o noturno tinhamos uma senha. Quando ela descia ela pagava e dizia... Anginha quando chegar me liga... e piscava o olho. Ou seja se o motorista estivesse pensando em me iniciar em qualquer coisa que moça de família não fizesse, já desistiria.
          Teve uma época na minha vida que eu não queria nada com a hora do Brasil. Tinha terminado o segundo grau e tava  tudo bem. Até que Neide me procurou  me chamando de discarada porque eu não ia ter um dra na frente do nome já que eu não estava fazendo faculdade. Tanto fez que um dia me ligou e falou que eu arrumasse os documentos porque na semana seguinte iríamos fazer a inscrição para o meu vestibular. Lembro que ela passou para me buscar num taxi e que no trajeto fomos discutindo que curso eu faria. Isso é o que eu chamo de escolha consciente! kkkkkkk .Mas vamos lá. Tudo  para não ter que depender de marido, o que era uma coisa antiquada pra época. Assim foi que mais uma vez ela influenciou a minha vida.
Anos antes, ainda estudantes de medicina, ela e o Liva tinham salvado minha vida me tirando de um edema de Glótis.
          Mas, voltando ao vestibular,como não dava tempo de frequentar um cursinho pre vestibular o Tony me deu umas aulas durante quinze dias e os outros me ensinaram a "Chutar as respostas" que eu não soubesse.
          Observando Julia aprendi o que era a determinação, a doçura e a facilidade de pintar os olhos com crayon e usar um rímel. Afinal eram os anos 60 . E aprendi  que a matemática podia ser atraente. Anos mais tarde foi a minha filha quem aprendeu com ela a matemática, melhor dizendo, a problemática nossa de cada dia. Apelido que eu havia dado quando no ginásio,  matéria  me tirava o sono.
          É, mas legal mesmo eram os natais que passavamos juntos em Itaipava todos casados ou descasados com os filhos adolescentes. Com discursos da Neuza, preces e muito apetite. Como se comia!!! Às vezes digo que nossa geração tinha apetite pela vida. Muito. Apetite de liberdade, emancipação, mudança.
          Cada um fazia uma especialidade e depois acertávamos os gastos. Num destes natais foi que o Tony disse para a Julia que os bombons dela estavam mais caros que os bombons Godiva. Risos...
E que o Luiz Alberto, marido da Julia, depois de tomar um chazinho para a digestão pediu uma fatia fina de panetone para acompanhar a bebida que a princípio seria um recurso digestivo.
          Bom demais!Tudo que foi, é e ainda será vivido com esta família que é tão minha também.
Mariazinha já se foi, assim como já se foram seus filhos mais velhos, minha mãe e meu irmão. Resta nos a esperança que eles estejam num lugar tão rico de experiencias, quanto foi a casa da Maria Amália em nossas vidas.
Há pouco tempo soube que a casa não existe mais. Pode até não existir mais fisicamente, mas vive indelevel em nossos corações, assim como tantas outras lembranças que nos remetem ao amor vivido naquele endereço. As festas de aniversário que Neide faz anualmente, onde nos reencontramos inclusive com amigos não citados aqui, que o digam.
           O natal tá aí. Quanta coisa não gostaríamos de pedir ao bom velhinho. Que voltassemos no  tempo. Que nossos filhos e  nossos netos vivam um pouco do que  vivemos juntos. E que os que já partiram estejam rodeados de luz. A mesma luz de amor que emanaram, enquanto encarnados. Amém!
Prometo voltar  com mais casos Assadianos numa próxima postagem! Aguardem!
Este texto tem como arte uma abstração lírica que influenciou os anos 50 e 60