segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Senta-te aqui que quero falar-te!

          E agora, gentil senhor, vá te chegando por que quero falar-te. Não te demores ou terei que puxar tuas orelhas pela 2° vez. Senta-te perto e ouve esta gaiata  com atenção, já que a vida ainda te permite ouvir.
Bem sabes que minhas lembranças são tuas também como são teus, alguns gestos meus; mas não me olhes assim. Brinco apenas. Não te pavoneies caso eu o elogie um pouco. Te aquieta e ouve só com o coração.
          De ti herdei os olhos estranhos, de encantos tamanhos, como cantava outrora a musica.Herdei o nome, graças à Deus, numa versão feminina inteligente e sábia. Já imaginastes tu me chamando de Domingas?
          Carrego também esta vaidade que às vezes, me faz menor. Ah... e o raciocínio rápido... matemático, pragmático.O bom caráter e o zelo extremo para com os nossos.
          Contigo aprendi a gostar de tango, fado e filmes, bolero, café e cigarro.Aprendi a gostar da língua portuguesa e a usar dicionários numa rapidez precisa.Aprendi a implicar com quem arrastasse os pés perguntando às pessoas se estavam cansadas.
          De ti peguei o habito de ouvir repetidamente as musicas que gosto a ponto de mamãe pedir para parar antes que o disco furasse.De tanto ouvir-te dizer que “quem conta um conto aumenta um ponto”, não fugi à regra e aumentei pontos e pontos inúmeras vezes em minha narrativas.
          A melancolia, ora fugaz ora preguiçosa, que se instala, quando saudosos, lembramos do passado.      A teimosia e uma certa cafonice.
          A mania de querer por a alma em tudo o que se faz, desde escrever cartas para o papai Noel ate sair pra comprar uma samambaia num domingo quando se preparava um bom cozido. E por quê? Porque uma “casa portuguesa” sem samambaia é inconcebível. Menos, vai!
          E o tom dramático ao ouvir qualquer música mais triste que nos lembrasse os nossos?A Severa, por exemplo. Te falei que estive no Severa em Lisaboa?  Que saudosismo o nosso, né mesmo? Somos meio que Marialbas, embora já não frequentemos a noite tanto assim.
           Herdei de ti a vontade de aprender e a escuta atenta que isto requer. Ainda me lembro de você me perguntando algo sobre os templários e da tua atenção ao que eu explicava.
           Sou distraída como você. Lembra te do guarda-chuva perdido12 horas após teu velho pai te-lo comprado?
          Algo tem que você não precisava ter me passado. Pra que mudar tanto de idéia ou de propósito ou de rota ? Que inquietação é esta? Há quem diga que somos incoerentes ou imprevisíveis.  E por quê temos que defender uma tese, caso venhamos a comer algo mal feito; como os quindins em Brasília? Não os experimente! São de matar qualquer desavisado.
          Poderíamos continuar aqui a ponderar semelhanças, não fosse a pressa que se instala estes dias.
          Assim deixo-te agora prometendo voltar  noutra hora,se tivermos sorte, noutro lugar. Eu volto. Volto para te buscar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário