Tava aqui pensando como é reconfortante ouvir sinos tocando. Daí lembrei de igreja, de missa, de órgão, do Miserinha e lembrei que numa postagem anterior prometi voltar e contar mais uma historia.
Lá no Miserinha tínhamos aulas de canto. (Pode?) As aulas eram no adro da capela. Lá no alto, onde ficam os órgãos numa igreja.
A professora era a irmã Rutinha. Uma irmã velhinha surda e Pequena, de andar lento e cabisbaixa. Igualzinha a irmã Dulce. Como era lenta no caminhar, já cansado pela idade, muitas vezes nosso grupinho chegava à capela antes dela só para desafinar o órgão; o que fazia com que a irmã tivesse que sentar e reafinar o instrumento. Fazendo com que as teclas graves voltassem a soar graves e as agudas voltassem a soar agudas.
Por tudo isto a gente adorava as aulas de música porque eram como uma pausa no academicismo do quadro negro. E, ainda tínhamos que nos deslocarmos do pavilhão das salas para a capela, o que não deixava de ser uma aventura pelos jardins ensolarados do colégio.
Naquela época haviam lançado um brinquedinho simples que era um saquinho de pano , do qual soava uma gargalhada escandalosa cada vez que se apertava determinado ponto do saquinho.
Ora, o grupo era criativo. Logo decidimos levar o dito saquinho para a capela. Depois de afinar o órgão a irmã, já sentada, olhava para trás e acenava com a cabeça sinalizando estar pronta. Concordávamos com a cabeça e, no momento em que ela se virava de costas para nós, a gargalhada vinha estridente confundindo a pobre velhinha que levantava, ollhava uma por uma e se espantava de não nos surpreender rindo, enquanto o saquinho escondido debaixo de um dos bancos gargalhava sem parar.
Nestes momentos tinha sempre uma aluna mais saliente ou mais corajosa que dizia para a irmã que a risada vinha lá de baixo. Do pátio. A irmã se arrastava até a janelinha e pedia silencio com um “psiu!” fraquinho, enquanto com agilidade desligávamos o dito saquinho.
Assim foi que um brinquedo bobo conseguiu criar uma cumplicidade no nosso grupo da qual tenho saudades. E assim foi que no dia do meu casamento me emocionei quando o órgão soou os primeiros acordes. E assim é que, neste momento, me pego pensando na irmã Rutinha e me ponho a rezar por sua alma. Que ela descanse em paz num lugar de música suave vinda de algum orgão bem afinado... Assim seja!
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