quinta-feira, 16 de setembro de 2010

De quando me joguei no mar

          1966...Naquela época era muito comum os colégios aproveitarem os dias comemorativos e levar os alunos para passeios, por exemplo.... em Paquetá. Este texto se dedica a contar mais uma de minhas aventuras. Desta vez acompanhada de Jayme, um dos primos que eu amava e queria por perto na minha juventude.
          Já falei antes que eu adorava menino? É. Eu achava as meninas um saco. Cobravam muito e não eram corajosas como os meninos, naquela época pelo menos.Eu achava menino o máximo. Eles podiam tudo. Eram inventivos e me protegiam em qualquer situação.. Até que...
          A escola do jayme ia levar a turma dele para passar o dia do estudante em Paquetá e cada aluno podia convidar alguém. Era comum entre nós dois um convidar o outro e o outro convidar o um. Ele falou comigo, que falei com minha mãe, que falou com o meu pai, que deu o dinheiro, etc...Fomos...
         O Jayme, talvez por ser super levado ou por ser menino e exibido parecia o dono da ilha, o que me deixava vaidosa de ser a escohida dele para o passeio.
         Sorvete, bicicleta, barco. . . Foi aí que o drama começou. Ele foi falar para a professora que íamos alugar um barquinho. Ela disse que custava dinheiro. Ele disse que tínhamos o dinheiro. Alugamos.Remamos, remamos e quase afundamos. Quem conhece Paquetá sabe que ali, acolá tem pedras que lembram ilhotas por todo lado.
          O barco estava se afastando muito rápido da praia. A professora foi ficando pequenininha. Lá na areia gritando, o que não dava para ouvir , mas podíamos imaginar, pelos gesto que fazia com os braços. Jayme, vamos voltar! Tá com medo? Não se garante? Claro que não! Já cansei de te dizer que não tenho medo de nada! Não parece!, é que  Jayme a professora tá do tamanho de uma mosca! E nós estamos navegando em círculos!
          Havíamos encalhado numa das pedras. Panico! Ele era bem intencionado e machão. Eu que me acalmasse porque ele tava pensando no que fazer. Numa estratégia. E..... me mandou pular no mar. Simples assim! Anginha pula e empurra o barco. Ora, vivíamos (se é que ainda não vivemos) num mundo masculino. A palavra de um menino valia mais do que a de uma menina. Pulei... Gente... eu to dizendo que pulei. Pode? Me lembro de beber litros da água salgada e suja de Paquetá. Não dava pé pra mim. Agitado, mas sem perder a pose, gritava. Anginha dá um mergulho dos bons até teu pé chegar no fundo,  impulsiona e quando subir empurra o barco. Primeira vez que me senti usada por um homem. Logo ele? O meu herói? O cara que me levou pela primeira vez à matine do Cine Bruni Grajaú? Como? Tava confusa demais para desobedecer. Me joguei no mar. Já cansada de movimentar o barco em circulos agradeci a Deus quando a professora, percebendo o perigo, mandou que o salva vidas fosse nos tirar de lá.
          Jesus, Maria e José! Passamos o resto do dia sentados na areia de castigo. Mas estávamos vivos, o que parecia irritar a professora que ficava repetindo. Podiam ter morrido! Merendamos o lanche que nossas mães haviam preparado e ficamos vermelhos do sol.
          Agora faço como minha amiga Ana Marta... Saudade de mim quando achava que sabia remar e que a praia tava perto. Como tudo tem dois lados, acho que valeu. Embora tenhamos ficado de castigo nos olhávamos com um sentimento de termos feito algo que os outros coleguinhas não ousaram fazer e, eu particularmente tive minha primeira lição de não confiar tanto em alguém, ainda que se tratasse de um homem.
          Voltei várias vezes a Paquetá com namorados. Olhava para a ilhota onde havíamos encalhado e ria, perplexa  mas orgulhosa, lembrando da vez que obedeci cegamente meu herói infantil...Criança faz cada uma!!!


Um comentário:

  1. Ai amiga, que medo!!!
    Passei por uma situação parecida, mas não tão criança, na verdade já havia passado dos quarenta. Foi na Praia de Pirangi do Norte, uns 20km. de Natal/RN; junto com umas amigas da época, fui andar de "jet ski", na carona, é claro, porque nunca fui afoita e dada a grandes aventuras dentro dágua. Lá pelas tantas, o bicho para e a amiga não consegue dominá-lo, e ele vira; caimos, as duas, e, mesmo com o colete salva-vidas que me devolveu imediatamente à tona, só conseguia pensar nas minhas perninhas balançando ali no alto mar, servindo de isca para os tubarões; sabe como o litoral nordestino é famoso pelos ataques dos tubarões, né? Então, não demorou muito, vieram nos ajudar e voltamos à praia salvas e quase sãs; adorei a experiência, principalmente pela certeza de que nunca mais vou repetí-la.

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