quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Não nascemos prontos


         Parece que estou ouvindo a voz de minha mãe. “Angela, minha filha, devagar e sempre se vai longe.”Ok. Mais do que entender, eu compreendi a mensagem. Não se está pronto de uma hora para outra. Se é que um dia estivemos ou estaremos.
        É a possibilidade que me faz continuar e não a certeza. Explico. Se tenho certeza de que estou pronta, cruzo os braços e não faço mais nada por mim. Assim, empobreço, encurto, emburreço. Não mereço subtrair-me. Ninguém merece. Por outro lado se vislumbro uma pequena possibilidade e acredito nela, corro atrás e então espalho-me, alargo-me, cresço.
        Gosto de filosofia. E gosto mais ainda porque ela encara o ser humano como uma obra incompleta, inacabada. Cortella prega que o homem não nasce homem, ele se faz homem. Sócrates já dizia o mesmo quatrocentos anos antes de Cristo. Aprecio Leonardo Boff quando diz que o ser humano é um projeto infinito. Como posso, um dia, olhar para meu filho e considerá-lo concluído? Iludir me pensando: Pronto! Tá feito! Do mesmo modo que a gente termina de pintar um quadro e assina? Ou acaba de preparar um jantar e o desfruta com amigos?
        Monica Filizola, facilitadora de Biodança, diz que o oposto do amor é o medo e não o ódio, porque o medo nos paralisa, nos congela e o amor nos leva ao movimento, a busca, a concretização de nossos projetos. Quem não quer sentir-se vivo? Na engrenagem? No“ pão nosso de cada dia” ? Entenda-se “ na vivencia nossa de cada dia”?
        Não é que eu queira. Eu preciso estar na vida, ou o alemão me pega. Logo eu? Sagitariana? Elemento fogo? Se posso atear fogo no “rabo” alheio, tenho que poder atear no meu dito. Também! Me recuso a deitar no sofá. Gostaria que, quando eu morresse, as pessoas dissessem... “Logo agora que ela queria...”
        O grande desafio do ser humano é resistir à sedução do repouso, pois nascemos para caminhar e não para estagnar, pois se queremos crescer,não podemos nos satisfazer com as coisas como estão. É bom nos conscientizarmos de uma vez por todas que leva-se muito tempo para sermos o que nos propomos ser. 
Yung dizia que só podemos levar o outro até onde já fomos. Não nos conformemos em ser galinha. Queiramos ser águia. Infinitas são as possibilidades. Mais do que superar o nosso vizinho, precisamos superarmos à nós mesmos. Ou corremos o risco de ao nos perguntarem- Qual é a tua obra? Nos sintamos embaraçados ou pequenos. Amém?

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