segunda-feira, 16 de agosto de 2010

De quando queria ser palhaço

   Email de Ana Austin. São as fotos que ela, gentilmente, ficou de escaniar para mim. Fotos da minha infância. De quando queria ser palhaço. Percebo-me relembrando fatos ocorridos quando tinha seis anos. Do amiguinho que eu amava que era filho de nossa faxineira.
       Quem não se lembra do circo que pegou fogo em Niterói? Eu, meu irmão e os dois filhos da Dona Eucléria teríamos ido ao circo naquele dia, se ela não fosse pobre. E minha mãe solidária. Explico melhor. Amávamos o Fred e o Carequinha. Dois palhaços da época. Dias antes o marido da Dona Eucléria me perguntara o que eu queria ser quando crescesse. Respondi que queria ser palhaço de circo.  Assim nossas mães prometeram nos levar ao circo. Mas, felizmente o salário do Sr Almir, marido da dona Eucléria ,acabou assim que ele comprou o arroz e o feijão pro mês. Sem graça ela veio dizer à minha mãe que seus filhos não iriam. O que fez mamãe trocar nosso circo por algumas pipocas no quintal. Justo naquele dia o circo pegou fogo matando 500 pessoas. Uma tragédia. Minha mãe ficou anos agradecendo a pobreza da amiga.
       Voltando às fotos lembro dos tempos idos, de minha mãe, dos meus amiguinhos, de meu irmão. Alguém disse que a criança é a mãe da mulher. Hoje vejo que realmente foi a criança que fui que cunhou a mulher que sou. O mesmo riso. A mesma esperança de quem acredita numa outra vez. Aquela que, em tempos difíceis, ainda hoje  me sustenta.
         Numa época muito difícil para mim, meu terapeuta me ensinou um ritual simples. Eu teria que ter uma foto  de quando era criança no meu quarto e  recorrer a ela todas as vezes que o mundo me magoasse. É uma experiência incrível. Quando olhamos para a criança que fomos um dia, algo nos fala à alma. É uma tomada de consciência. Olhamos para a foto e percebemos que precisamos cuidar melhor de nós mesmos. Ou, não permitir que nos magoem tanto. É claro que a vida segue e outras mágoas virão, mas a nossa atitude de cuidar da nossa criança é reforçada toda  vez que voltamos a ela.
         Os rituais, como os arquétipos, tem força própria. To lembrando Bookends. Música de Simon e Garfunkel . ..Time it was. And what a time it was. A time of innocence. A time of confidences. I have a photograph. Preserve your memories...
      Revendo as fotos me pergunto o que o olhar, ao mesmo tempo inocente e confiante daquela criança, traduzia. Me vem a resposta: Quero ser palhaço!
Foto de Carequinha, "O palhaço!" da minha infancia.

Um comentário:

  1. Lindo amiga...muito lindo.
    Vc pode nem perceber, mas alcançou o seu objetivo: vc é palhaço!

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