segunda-feira, 5 de julho de 2010

Tia Lurdinha



       Meu Deus, to triste, Beatu Salu se foi.Tia lourdinha, irmã de minha sogra, faleceu. Zé a chamava de Beatu Salu, porque ela buscava muito a religião; e, quando se é jovem não valorizamos tais posturas. Não me lembro dela dando palpites, lembro-me dela sempre tentando somar. Tentando abrir os nossos olhos quanto aos valores que permeiam nossa sociedade. Era quietinha. Mais observava do que falava. Quase uma sombra. Aqui e acolá vinha a Itaipava para uma visita. Não tinha carro. Vinha de ônibus mesmo. Pura doação. Assim como era pura doação as visitas que ela insistia em fazer aos doentes e necessitados, aplicando Johrei( daí o apelido). Como queria ter dito a ela que seus móveis e lençóis teriam sido bem vindos. Eram lindos e sua intenção, mais bonita ainda. Acho que em algum momento se perdeu um pouco, assim como todos nós. Toda vez quem vinha nos ver ficava em mim a impressão de que não tinha falado tudo, ou o mais importante. Quantas dores, amores e medos se perderam naquelecorpo? Quantas alegrias simples seu coração experimentou.
         Mas que vida é esta que a gente vive tão junto e tão distante dos que estão próximo? Onde é que está escrito em letras garrafais que tentar se aproximar é invasão? Parece que precisamos ser o mais discretos possível. Quase formais. Como se não fosse de bom tom nos envolvermos. Será que quem não se envolve se desenvolve? Me parece que não. Quantos momentos perdidos, quantas chances de estreitamento dos laços foram ignoradas. Estaremos cegos, surdos, engessados? Alguém aí tenha a bondade de me ajudar a entender em que momento decidimos que é mais criterioso ser discreto? Sim, porque caso se interessar pelo próximo seja errado, gostaria de rever estes valores. Tanto já se falou de amor, de união. Tudo teoria? A vida não para...E nós reféns da cautela e do medo perdemos tanto... Oh Deus, não deixe que eu continue perdendo. Se tiver que ser intrometida, que seja. Se o melhor ainda é arrepender-se do que foi feito em detrimento do que não foi. Que eu enfim me permita humanizar-me "invadindo" ao máximo aqueles que me toquem o coração. Sem arrependimentos. Eles um dia compreenderão...






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