sexta-feira, 4 de março de 2011

Clarinha se foi

        Dia desses Amanda foi ao aniversário de sua amiguinha mais chegada e trouxe de lembrancinha da festa um peixinho coral a quem deu o nome de Clarinha. Providenciados aquário, comida e um local estável ( se é que isso é possivel numa casa com crianças, cachorro e um biso quase cego) o peixinho ficou legal. Nadava bastante.
Desde então a primeira coisa que Amanda fazia quando alguem chegava em sua casa era mostrar sua Clarinha. Até que...
              Hoje cedo falei com Bia que pesarosa me contou da morte de Clarinha e sua repercussão em Amanda.
             A princípio não aceitou a morte do peixinho. Se indignou. Perguntou depois a mãe porque ele havia morrido e  então o diálogo ficou mais ou menos assim:
Filha acho que este aquario era muito pequeno para eles . Os peixes pertencem ao mar, aos lagos, aos rios.
E porque voce não me falou antes? E agora?
Agora ele morreu.
Mãe mas porque ela tava em pé e não deitada? Perguntinha capiciosa essa ,não?
Porque quando a gente morre.... Não pera aí...
Pera aí, o que?
Mais tarde voce vai estudar isso, filha.
Mãe me compra outro peixinho?
Isso, filha eu compro outro.
Porque então quando ele morrer eu vou jogá lo no lago.
E que nome voce vai dar ao novo peixinho?
Ainda não sei, mãe. Ainda to com saudade da Clarinha!!!
            Sei que é muito cedo para  ela entender a morte do modo como nós, os adultos entendemos. Se é que conseguimos um dia. Mas isso não faz com que ela não sinta a impotencia e a frustração que vem do apego doendo em seu peitinho infantil.
           Nada está errado nesta vida, sabe? É de pequenino que se começa a trabalhar as perdas. Faz parte, tento me convencer.
          Me lembro agora que quando pequena as vezes nossas mães compravam um peixinho ou um pintinho na feira para nós. Puxa elas sabiam que os bichinhos estariam com os dias contados num ambiente doméstico, mas acho que pensavam. Por que não deixá-los curtir uns dias de alegria?  Além do mais a gente estava aprendendo a cuidar. Quer dizer, nem sempre. Jayme, aquele meu primo  danado de uma postagem anterior, afogou alguns pintinhos no tanque de sua casa.
          Eu por minha vez tive de tudo um pouco, graças a Deus. Mas tive preás que eu amei muito até o dia que uma elas teve filhotes e no dia seguinte eu vi que ela própria tinha comido metade de um deles. Essa imagem nunca saiu da minha cabeça de criança, quiçá da de adulta. Meu coração fechou para as preás.  Nunca mais me chamaram a atenção.
         Arrisco me  a terminar o texo com uma musiquinha para a Amanda.
         Atravessei o rio à nado em cima de um barquinho, arriscaria a minha vida pra salvar o seu peixinho.
         No que ela diria: Chuva vai, chuva vem, chuva miúda não mata ninguém.

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