quarta-feira, 4 de maio de 2011

O pior abandono é o abandono auto imposto

                                                                                     

          Houve uma época difícil na vida de Marina em que eu repetia quase que diariamente o pedido: "Não desista de voce, filha."
Hoje me peguei falando algo parecido para outra pessoa que amo. Eu disse: "Não se abandone, por favor. O pior abandono é o abandono de si mesmo!"
Uma coisa é o abandono sofrido quando alguem nos descarta ou falece.....A gente olha para um lado e para o outro e só tem vontade de sair correndo em busca de colo. Ás vezes encontramos, outras vezes não. Buscamos o efemero que um copo de cerveja ou um Lexotan proporcionam e no dia seguinte a dor volta dobrada.
          Já disse em outro texto que o problema com a despedida é que a aceitamos com a cabeça, mas a negamos com o coração. E algo fica martelando..... E se eu ligasse..... E se eu mudasse.... E se.....Mais parecendo Drumond no poema  E agora José?
Em outro texto falei da necessidade de dançar na chuva em vez de esperar a tempestade passar.
Perdas, dores, quem não as tem?
Todos nós.
          Força para ir voltando a nossa rotina ainda que em ritmo lento.... poucos tem. São as pessoas que se perderam pelo outro e, assim não se tem mais como companheiras.
Ora quem mais além de nós mesmos acompanhou cada sucesso e cada derrota. Cada choro e cada gargalhada. Estivemos ali o tempo todo. Foi ou não foi? Para e pensa!
Já bastam aqueles dias difíceis. Quando queremos dormir na vã esperança de esquecer.
Sorte ou competencia nossa chega o dia que a gente se olha no espelho e, sentindo-se abandonado por si mesmo, reagimos. Olhamos firme no espelho e  um brilho nos invade o rosto. Um brilho aconchegante. Nesta hora se olharmos para trás veremos que criamos caudas. Recebemos uma visita especial. É ela que vem, acende a lareira do nosso olhar e nos lembra que restou alguém. Nós mesmos.
          Clariça  Pinkolas em seu livro A ciranda das mulheres sábias nos fala deste colo confortador que as mais viejas nos dão. A time to sit and rock. Sobrou aquela cadeira de balanço para que possamos nos auto embalar com todo o carinho que faríamos a um amigo ou amante.
A cadeira aqui pode ser a nossa cama e um filme legal ou o seriado Brothers and sisters. Ou uma taça de vinho depois de um banho quente. Pode ser uma musica que gostamos tocando baixinho enquanto queimamos um pauzinho de incenso. Ou pode ser escrever, ler e reler muitas vezes uma carta de amor que escrevemos para nós mesmas.
A cadeira aqui é o momento em que tomamos consciencia que podemos ser a protagonista de um final feliz.
Assim escolhi para esta postagem mais uma foto de Henri cartier Bresson (fazer o que se sou sua fá?)
Me recusei a ilustrar o texto com a figura de alguém vendo o outro virar-lhe as costas. Preferi uma foto de alguém  se fazendo companhia. Uma mulher lendo papeis que podem ser o que a gente imaginar. Uma carta ? Não precisamos ver a foto por inteira  para percebermos que existe um cuidado e eu diria até um postura interessante de quem curte sua companhia. De quem se gosta.
Isso não só ajuda mas nos protege porque propoe que sejamos nossos maiores cuidadores. Do jeitinho que faríamos para terceiros.
Fica aqui mais, do que uma sugestão, um apelo. Não nos abandonemos.
A proposta? Eu comigo mesma.
 Juntos como era  no inicio, agora e sempre. Repito__ Ninguém, além de nós mesmos, esteve tão próximo de nós. Esta coisa que, segundo Saramago, há dentro de nós que não tem nome mas que é o que somos.
Viver é aprendizado. Ser feliz é opção e competencia.
Foto de Henri Cartier Bresson

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