José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
E porque citei Drumond na última postagem lembrei de como gostava de suas poesias e as do Manoel Bandeira quando era jovem. Mais particularmente quando estudava Letras no Rio de Janeiro.
E porque citei Letras me lembro de como minha mãe amava este poema e recitava todinho de cabeça. E de como ela gostou quando Paulo Diniz musicou o poema em plena ditadura e houve quem duvidasse de sua capacidade para tal e seu sucesso na musicalização do mesmo. Depois Drumond afirmou numa entrevista não mais conceber seu poema sem musica.
E porque me lembrei de minha mãe e de Drumond me lembrei com que entusiasmo e perseverança ela juntou dinheiro para me dar um livro de poesias do Drumond. E depois prometeu me dar o do Bandeira.
E porque citei Bandeira me lembro que meu irmão de leite, outro entusiasta das Letras, hoje médico, me deu o livro do Bandeira, o que rendeu umas economias para mamãe..
E porque citei Drumond, Bandeira, Tony e Mamãe (assim com letra maiúscula) fica a pergunta:
E agora José?
José, e agora?
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