terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Somos mais que pessoas. Somos o universo.

 
          Todos nós já fomos, alguma vez na vida, chamados de a filha da dona Fulana, ou o neto da Ciclana, 
Ora, esse chamado tem o poder de nos situar num tempo, num espaço ou  numa tribo; no caso a tribo familiar. Sentimo-nos inseridos. Fazemos parte. Melhor, pertencemos..
      A constelação Familiar, enquanto trabalho terapeutico, defende que precisamos reverenciar nossa ancestralidade. Sempre e embora algumas vezes tarde. Tipo entendendo que nossos ancestrais abriram trincheiras, cruzaram mares, batalharam para que hoje estejamos aqui, etc.
Estando de volta ao lar, aquele que foi o lar de meus pais e minha avó. No sítio Do arco da velha, isso parece que fica à flor da pele. Todos conhecem todos de longa data. Há trinta anos temos como vizinhos um casal que testemunhou as alegrias e adversidades de meus pais, assim como meus pais testemunharam algumas dores e muitas delícias de suas vidas. Quem conheceu a Charlote que o diga. Uma senhorinha francesa mãe de Célia e sogra de Paulo.
      Desta vez não alugamos carro. Queríamos testar nossa disposição para subir e descer de onibus. O argumento era.... Não fazemos isto no exterior?  
Conseguimos de certa forma; mas ninguém é de ferro, teve horas que apelamos para o taxi. Conversa vai conversa vem Seu Carlinhos, motorista de taxi há quarenta anos em Itaipava, descobre que sou filha do Sr Domingos, "aquele velhinho bom de papo". Sr Carlinhos se desdobra em nos atender, dá desconto e, de quebra, ainda nos pede encarecidamente que levemos um forte abraço para meu pai. Concordo e prometo que em Janeiro, quando aqui de novo, promoveremos um encontro dos dois. Um cafezinho, quiçá um bolo.
      Estando por aqui Célia nos convida para almoçar num domingo qualquer e então ouço do Dr. Paulo elogios e elogios sobre minha mãe. Seu gesto lava minha alma. No último domingo , já no cafezinho que se extende para que todos consigam contar e compartilhar as últimas, me surpreendo com Dr Paulo pegando minha mão em reverencia e dizendo..... Mas, Angela eu quero te dizer que voce está cada dia mais parecida com a |Ilse e isto me dá um enorme prazer de estar em sua companhia porque sua mãe foi muito querida para mim, etc etc. Fala do time de futebol dela, do dele, dos biscoito que ela lhe fazia e por aí vai. Passos firmes, andar concentrado, olhos miudos segue com a fala mansa de baiano que é  nos levando até o portão, onde mais uma vez se despede segurando meu rosto, como se no gesto quisesse ter  por instantes minha mãe perto de si. Venho para casa e comento com o Negão como é bom ter tido meus antepassados abrindo meus caminhos. É como se estes almoços fossem por eu ser filha da Ilse.Uma homenagem.
       No outro dia saio para comprar o jornal e ouço a Neia dizer ao sr João da padaria... A Angela da Dona Ilse tá de volta... Penso: não preciso nem ter o dinheiro para pegar o jornal. To em casa.Fico pensando....Somos mais que nós mesmos. Muito mais....Tantíssimos que nem imaginamos. Aqui a separatividade tão pontuada por Deepak Chopra quase inexiste.A gente aqui se expande e deixa de ser uma pessoa  a parte para ser um micro universo.
       Janeiro tá chegando e com ele a família toda.... Logo vou estar ouvindo.... É a Bia... filha da Angela, A Marina neta da Ilse ou, melhor, A Amanda e a Jully, netas da Angela....
 Passado abrindo caminho para o futuro. Assim segue a marcha, assim caminha a  humanidade no compasso dos nossos  coraçoes..
Fica a pergunta: O que um motorista de taxi tem em comum com um engenheiro de portos?
Resposta: A capacidade de me enraizar despertando em mim minhas velhas e minhas crianças, me contextualizando num campo familiar...
     Volto para Brasilia mais uma vez com um sentimento de pertinencia que me faz lembrar a frase de um personagem de Mia Couto ..."Não se preocupe com o meu coração, doutor. O que me ancora é a lembrança. Minha mulher ainda lembra de mim."

Um comentário:

  1. Pois é, eu tb já tive um monte dessas referências; era bom. Depois, tornei-me referência para um monte de gente; legal! Hoje, sou amiga de Ângela. Olha que bacana! Adorei! ...hehehe...

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