segunda-feira, 11 de outubro de 2010

226 Grajaú - Largo da Carioca

          Moça do Grajaú. Não precisa dizer mais nada. Aos dezoito anos havia começado a trabalhar e honrar seus compromissos. Levantava-se cedo e encarava o ônibus lotado para às oito horas estar na repartição. O Rio de Janeiro ainda não tinha metrô. Trajava um terninho que era seu uniforme. De pé do Grajaú ao Largo da Carioca de segunda a sexta não tinha graça alguma, assim como não tinha graça alguma os engraçadinhos que se aproveitavam das moças que não conseguiam um lugar para sentar e aproveitavam para tirar uma casquinha.
          Num dos ombros a bolsa à tira a colo. No outro o cansaço de ir segurando lá em cima tentando um equilíbrio perdido. Muitas vezes se tirasse o pé do chão seguia com ele no ar. Impossível tentar recolocá-lo no chão. Vou numa perna só, pensava. Pelo menos não perdi o ônibus.
          Checa a mão no alto e sente falta de seu relógio de pulso. Presente de quinze anos presente de sua avó. Olha de soslaio e percebe que o bonitão que se dava bem às suas costas era um negão. Não quer escândalos. Vira-se discretamente e diz. Devolve meu relógio. Como? Pergunta o negão. Põe o relógio na minha bolsa quietinho, seu palhaço!
          Com parte da dignidade recuperada segue tranqüila até a esquina da Presidente Vargas com a Rio Branco. Desce. Sacode os ombros para que o blazer volte a cair naturalmente. Surpresa! Seu relógio está no pulso. Era um seiko dos pequenos, daqueles que a correia abre à toa. Aliviada imagina que o mesmo havia escorregado para o cotovelo e estivera oculto pela manga do blazer.
            Minha carteira?! Pensa imaginando ter sido vingada por sua insolência. Olha dentro da bolsa e percebe algo brilhando. Confusa remexe um pouco e dá de cara com o enorme relógio masculino. Oops! Constrangida percebe ter assaltado o negão!
           Tenta uma saída. O ônibus já vai longe. Esperançosa pensa na oportunidade de reencontrar o sujeito. Em vão segue buscando-o dia após dia no ônibus. Mas o pobre homem segue perdendo a hora até perder o emprego e quiçá a vontade de se encostar em outra no futuro. Não numa moça do Grajaú! Cidade grande tem cada uma!!!





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