sábado, 23 de outubro de 2010

Over 55 ?

          Deixei de pintar meus cabelos. Parece que envelheci. Será? De repente as pessoas estão mais cuidadosas comigo. É claro que as vezes isto é ótimo. Pago meia no cinema, me dão o lugar numa sala de espera, etc... Mas daí a me olharem e me dizerem que eu devo ter sido muito bonita começa a incomodar.
          Recém chegada da Europa tenho que assumir que economicamente é legal ter os cabelos grisalhos. Tirei vantagem dos cabelos nos museus, galerias e restaurantes uma vez que os "over 55" tem certas regalias por lá.
Mas é duro viver num país onde a maioria ainda pinta os cabelos. Hoje fui ao cinema. Compramos duas meias. A mocinha legal ou realista(?) não me pede mais identidade. O duro foi ouvir do porteiro do cinema que a sala tinha elevador! Gente eram só dois lances de mais ou menos dez degraus cada para chegar na sala 8. Olho pro negão, pisco e respondo ao rapaz: "Valeu, mas tudo bem com as escadas".
          Passar pelo Conic? Nem pensar! Gente demais me oferecendo empréstimos miraculosos. Se ainda pintasse os cabelos talvez não me abordassem. Quer dizer estou focando os cabelos grisalhos porque sou otimista e prefiro acreditar que meu rosto ainda não denuncia   mais do que meus 55. Ou denuncia?
É difícil ser grisalha antes dos setenta. Voce ainda não se sente velha mas as pessoas te veem assim. Fazer o que?
Semana passada fomos ao cinema. Compramos os ingressos e fomos ao cafezinho ao lado. Neste meio tempo o Negão perdeu um dos ingressos. Voltamos ao guiche e explicamos o fato. Não tivemos que comprar outro. A moça foi super simpática gritou de lá para a moça que recolhe os ingressos. "Deixar  o casal de idosos entrar. Tudo certo!" É mole? Idosa é" la santa madressita que te ha parido", pensei eu. Não que seja uma doença envelhecer, mas "idosa"? Menos!!!
Voltando ao cinema de hoje, quando saímos encotramos uma amiga "dos velhos tempos" com a filha. Uma alegria tão grande tomou conta de mim que eu diria que ganhei o dia não fosse o embaraço do qual me vi tomada quando quis perguntar pelo marido, pelo filho, pelo pai e senti medo. Medo do pai já ter morrido e o marido infartado ou separado. Tenho o raciocínio rápido e engatilhei um " Como vão todos?" e ouvi que o marido estava bem, o pai ainda vivia e o filho havia casado. Ufa!
          Outro dia, numa loja de calçados, buscava algo baixo, confortável. Trabalhei trinta anos no salto, pra mim deu. Agora posso usar os mais baixos. A mocinha num tamanco de deixar Carmem Miranda com inveja insiste em trazer sapatos altos. Explico que agora que aposentei quero estar de férias, à vontade; não adianta, escuto a seguinte pérola: " Ah mas não é porque aposentou que vai andar relaxada". Negão, meu fiel escudeiro, me puxa para fora da loja tentando me poupar. Ou poupar a moça. Ele me conhece e percebe que sai da loja com a boca cheia de palavras. Com ar de relaxada tava ela com aquele tamanco vulgar. Oh coisa feia o tal do tamanco! E quanto mais alto, pior. Belem belem nunca mais eu to de bem. Negão, me leva embora daqui agora, please! Faz de conta que eu nunca entrei nesta espelunca!!!
          Convivo com algumas pessoas que, embora tenham a minha idade ou mais insistem em me saudar com um -"Como vai a senhora?" Come on, pega leve!"
 Graças à Deus ainda tem muita gente que me trata por Angela. Minha massagista, alguns lojistas, colegas da Bio, amigos das minhas filhas...
          Embora tenha nascido na década de cinquenta nunca chamei minha mãe ou minha avó de senhora, gesto comum na época. O respeito que sentia por minha avó, minhas tias, minha sogra e minhas professoras  universitárias estavam muito além de um pronome de tratamento.
          Dia desses bia tentava me convencer a fazer psicologia. Me lembrei de Vera, minha amiga irmã que resolveu voltar para a faculdade e se surpreendeu quando no primeiro trabalho de grupo percebeu as colegas chamando a de tia. Vera é bastante assertiva e bastou uma reuniãozinha para mostrar as colegas que não era por aí.
          Ana Marta conta que quando estudava artes  no Dulcina se surpreendia com algumas colegas dizendo ser  estranho ter  uma colega com a idade das mães delas. Mas não é de dar preguiça uma maldição destas?
          Reconheço que o tema é complexo. Uma coisa é perceber o guardador de carros me chamando de colega e não gostar. Que me lembre não fiz faculdade ou trabalhei com ele. Outra coisa é ouvir o meu porteiro me chamar de Dona Angela. Acho legal.
          Faço aqui um apelo aos  que perambulam por este blog. Quando estiverem em dúvida se me tratam por voce ou por senhora lembrem se que senhora tá no céu! Gosto de ser tratada pelo meu nome, Angela, ou por voce. Do mais a mais, como diz a Ana "nunca fui santa", pra que tanto "respeito", tanta mesura ? Prefiro que repeitem  minhas ideias, opiniões e atitudes, nem sempre comuns.
 Me sentirei  mais inserida, seja lá no que for.
P.S.  Envelheço e, ocultamente, resplandeço! ( Affonso Romano de Santana)

2 comentários:

  1. Ah amiga, nem me fale...Depois dos quarenta vc é coroa, depois dos cinquenta vc já é idosa. Se vc não disser a idade que tem, ninguém fala nada, mas se confessa (porque parece crime estar viva e bulindo depois dos cinquenta) aí o bicho pega. Nossa cabeça está a mil, temos ideias, temos vontades, somos muitas, mas somos obrigadas a calçar o chinelinho, vestir o robezinho florido e tomar chazinho na cadeira de balanço em frente à janela. Qdo estava na faculdade Dulcina algumas pessoas demonstravam espanto e outras ficavam indignadas; ouvi gente falando que é um absurdo as fauldades estarem cheias de pessoas na "terceira idade", querendo ocupar o lugar dos jovens no mercado, quando deveriam estar dentro de casa cuidando dos netinhos. É mole?! Então se vc se atreve a sobreviver aos cinquenta anos, é ativa, produtiva, equilibrada, esperta e, ainda por cima, gostosa, vira alvo de inveja e preconceito, nessa ordem. E não se iluda, tem gente que pensa bem assim, bem pertinho de nós...hehehe...Fazer o quê?! Se somos tantas e tem gente que é tão pouca...Mas vc está linda de cabelos grisalhos, eu espero que os meus fiquem assim logo, embora eu já esteja pendurada na perninha dos sessenta...
    E lembrei de um lance legal que vivi com minhas amigas mais novas; elas não queriam que eu dissesse a minha idade para que elas não parecessem mais velhas...hehehe...não é ótimo? Mas é o caso...

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  2. Sim, senhora! rsrs
    Você é a própria juventude em pessoa!

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