sexta-feira, 15 de outubro de 2010

"Pai, me ajuda a olhar"

          Recebo um email de Bia falando sobre a relação pais e filhos. Respondo o email dizendo que muito da confusão que esta relação se tornou nos últimos tempos acontece porque os adultos confundem as palavras autoridade com autoritarismo.Ninguém quer posar de autoritário, mas  e quanto a exercer sua autoridade? Que tal tentar, pelo menos?
          "Pai, me ajuda a olhar!" pediu um menino de quatro anos ao pai, quando este pela primeira vez o levou para ver o mar. Como diz Lya Luft "esse episódio, quase cena de filme, é um dos mais emblemáticos que conheço para nos referirmos à autoridade necessária para cuidar e orientar, também ensinar".
          Muitas vezes trocando ideia com Marina percebo que o que ela me pede, embora nas entrelinhas, nada mais é que eu a ajude a olhar. Olhar a situação. Olhar no sentido de  postar os olhos com atenção sobre algo ou alguém para então aprender, compreender, formar um julgamento, uma opinião.
Ora para se ajudar a olhar precisa-se ter autoridade. Não falo de uma autoridade comprada na feira das vaidades,de um posto ou um cargo, experiencia passageira. Falo da autoridade de quem já viveu um pouco mais. Os pais, muito mais do que o cara legal, devem ser alguém a quem vc recorrerá para ter uma boa escuta, e uma boa palavra. Isso ajudará a olhar não só o grande oceano que é a vida como também os próprios limites, o que os fará, no mínimo mais humildes. É claro que a vida segue e um dia serão estes filhos que estarão ajudando os menores a olhar oceanos futuros.
          Se abrirmos mão da complexidade  do raciocínio adulto e analisarmos a situação com os olhos da simplicidade, concordaremos que um adulto, por ser mais alto que uma criança, terá uma visão de maior alcance que esta.
          Nossa missão ou papel mais importante  talvez seja este de emprestar nossos olhos aos filhos, amigos e familiares sempre que solicitados; ou não. Olhar junto uma situação promove a parceria, a escuta, o diálogo, a troca, a relação.
          Quantas vezes estive insegura quanto ao que olhava mas não pedi ajuda porque entendia que se o fizesse estaria passando recibo de "menos sábia" (será?). Enquanto posava de Deus em atitudes como esta deixei de crescer na minha humanidade. Encolhi porque restringi a experiencia a uma só ótica. Perdi o bonde que é poder trocar e sair acrescida, amplificada, expandida.
           Quanto a autoridade penso que deveria ser a última coisa a ser  evitada por nós que queremos parecer modernos; afinal precisamos de pai e mãe até quando adultos, não é mesmo? Ao longo da vida entendi a autoridade toda vez que cedi o meu lugar no onibus a uma senhora, toda vez que cuidei dos meus cadernos e toda vez que prendi o riso numa hora imprópria. Atitudes que fizeram da criança a mãe da mulher que sou hoje. Sou professora, embora aposentada. Me nego a dize-lo no pretérito, assim como me nego a considerar-me ex aluna de qualquer coisa. Sou aprendiz da vida. Isto sim. A vida é construção. E  uma andorinha só, não faz verão! Olhemos juntos, pois. Você me ajuda?
          

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