terça-feira, 25 de maio de 2010

A caverna

      
       Como eram boas as calçadas quando ainda eram chamadas de “passeio” e ali nos humanizávamos mais...
        Num destes domingos, estive numa academia para encontrar um grupo de Biodança (terapia que se propõe a humanizar o homem para que este “dance” sua vida) e percebi com tamanha tristeza que todas as esteiras estavam ocupadas. É... as pessoas estavam malhando com velocidade artificial e usando headphones.
        Lá fora da "caverna" fazia um sol gostoso de inverno; destes que a gente aproveita para abrir  janelas, ir para a varanda, para o jardim, para o clube, ou para o parque. Mas, isto seria natural demais e estamos "acorrentados" no nosso próprio isolamento.
       Olhando aquelas pessoas pensei nas marchas dos soldados em filmes de guerra ou nas modelos desfilando em passarelas; estas com o mesmo olhar vazio daqueles. Até a marcha que os operários empreendem às 5h da manhã nos metrôs das grandes cidades tem mais vida.
      Pensando desta forma, preciso de um parêntese para parabenizar o Parkshoping de Brasília por ter colocado recentemente em revistas e outdoors uma foto de um rapaz que é belo porque belo é o olhar que ele nos dirige. Um olhar penetrantemente humano.
      Mas, voltemos à academia. Nada contra o espaço físico, no entanto, tudo contra o supeficialidade do falso mito de beleza, que mais é o da vaidade. Naquela ocasião, era domingo e fazia sol. Talvez, ao ar livre aquelas pessoas trocassem pelo menos um bom dia, só para variar e serem menos autônomos ou anônimos nesta grande selva que nos engole e nos pode roubar a alma.
       Falando em alma, ressalto a minha profunda reverência à atitude do menino da casquinha do sorvete. Aquele tinha recheio! Talvez eu nunca mais o veja, ou o reconheça, mas seu gesto tocou a minha alma numa feira barulhenta, tumultuada e num espaço fechado mais uma vez.
       De forma geral, penso que na atual sociedade procuramos espaços e pessoas que reflitam nosso isolamento interno, o que nos leva a perguntar: até quando?

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