terça-feira, 25 de maio de 2010

A casa

   
     A viagem dela àquele lugar é, só em aparencia, um retorno a casa de seus pais. Depois de trinta anos ausente ela é apenas uma estranha em sua casa. Aos poucos descobre que voltou à casa não apenas para presenciar e dirigir os funerais de sua mãe e sua avó; mas para um renascimento que tanto pode ser pessoal quanto familiar.
        São de lembranças e revelações os dias que seguem aos enterros e missas de suas ¨maiores¨. Ao mesmo tempo que se ve empelida a reconstruir uma historia que se fez sem sua participação direta, esta mulher precisa zelar pela memória da família e pelas tradições do lugar.
       A medida que vai refazendo sua história familiar percebe que cada habitante tem algo a lhe revelar sobre o mundo de cada pessoa que ali viveu. A casa encontra-se num estado de total abandono e decadencia. Não se trata apenas de destroços materiais, mas do próprio tempo desmoronando o que um dia foi um lar. Sua tarefa? Encontrar uma nova forma de salvar a casa e levar adiante uma história que, além de pessoal e familiar, é também conjugal e de destino humano, uma vez que fazem parte de seus sonhos designar novos quartos para suas filhas, netas e afins.
      O tempo não para... Ao final de um ano ela e seu marido comemoram algumas benfeitorias. Então, mais certos dos passos dados e dos por vir entendem que a vida pode estar na casa ou ser ela. A casa vai tomando ares de lar novamente. E a mulher percebe que sua historia junto com a da casa vai ressurgindo em cada objeto garimpado em brechós e antiquários, apresentando-se como partes dela mesma que se vão compondo como um quebra cabeça capaz de cicatrizar, até certo ponto, as feridas deixadas por tão grandes perdas.
      Ao transpor mais este portal de luto e dor, a casa e a mulher se misturam e se embaralham em cúmplice atitude de paz e fé no futuro e na vida. Atitudes estas, de profunda reverencia e gratidão, que reforçam tanto o poder da mulher quanto o da casa.

Um comentário: