domingo, 26 de dezembro de 2010

Mia Rosa

          Mia Rosa era o papagaio de minha vizinha, Célia, em Itaipava. Naquela época a casa de Célia era o hotel de dona Charlote, sua mãe.
          Mia Rosa era criado solto e era super esperto. Atendia o telefone dizendo: "Alo, 2494" (os telefones só tinham quatro números) e, pasmem.... Mia Rosa cantava modinhas de carnaval ensinadas pela velha cozinheira do hotel. Seu repertório incluia marchinhas como: Sassaricando, me dá um dinheiro aí e outras.
          Certa vez Dr Paulo, marido de Célia, foi pegar algo no guarda roupa e deu de cara com Mia lá dentro. Aborrecido com a falta de limites do papagaio reagiu xingando o coitado e mandando que ele saísse de lá imediatamente. Ao que Mia respondeu cantando: Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira!!!
          Por outro lado Mia  era um sujeito legal. Catava as pulgas de Zeca, o cachorro do hotel.
          Um dia fugiu mas voltou e logo depois apareceu morto. Voltou para morrer "em casa".
          Que Deus o tenha e o mantenha cantando no céu....

sábado, 25 de dezembro de 2010

A imaginação é a memória que enlouqueceu

Mais um caso de Vera.
O avô de Fred, seu ex marido, consertava geladeiras e certa vez acidentou-se vindo a ficar cego.
Assim passou muito tempo de sua vida explicando aos curiosos como havia sido o acidente.
Já no fim de sua vida, quando bate aquela preguiça de explicar coisas pela enésima vez, ao ser questionado sobre o ocorrido, respondeu prontamente... " Sou cego de nascença".
Pois bem. A certa altura de nossas vidas  Vera e eu fizemos caminhadas num grupo que se chamava Cabra. Companheiros andarilhos de Brasilia.
Numa de nossas caminhadas na Chapadas da Diamantina, Jesus, uma amiga querida, havia molhado os tenis numa cachoeira no dia anterior  e percebeu que não havia levado outro par. Para não perder a caminhada decidiu  faze-lo de sandálias havaianas. As legítimas!!!
Assim foi que durante a caminhada nove a cada dez  participantes do grupo perguntaram-lhe porque os chinelos e não os tenis, mostrando preocupação com uma possível mordida de cobra. Jesus é muito doce e  pacientemente explicava que os tenis não haviam secado durante a noite.
Vera já cansada de ouvir a mesma explicação várias vezes e  tendo, na véspera, nos contado o caso do avô de Fred parou por um instante e soltou a seguinte pérola:
Jesus, querida, por que voce não diz a eles que os chinelos são de nascença???
kkkkkkkkkkkkkk

Pastéis de bacalhau

Diálogo travado num bar de Lisboa entre uma brasileira ávida por um bolinho de bacalhau e o portugues que a atendeu:

Bom dia! Por favor queremos bolinhos de bacalhau.
São brasileiros, pois não?
Sim somos brasileiros. Mas como soube?
Porque pediram bolinhos de bacalhau.
E?
A cá não se chamam bolinhos de bacalhau, mas pastéis de bacalhau.
Ora, pois pois. Então que seja! Pastéis de bacalhau!
Desejam algo especial, pois não?
Sim. Viemos de longe; queremos algo especial.
Terá que ser com o meu concorrente. Vão sair, virar a direita e dobra na  próxima esquina à esquerda.

Equivoquei-me de muerto!!!

          Conta a Vera que a tia Almerinda era uma mulher bem ... digamos... espalhafatosa no modo de vestir. Quase uma viúva Porcina, o que a fazia "perceptível demais". Daquelas pessoas que CHEGA nos lugares.
                    Muito bem, Tia Almerinda estava vivendo na Espanha e tinha um ...amigo(?)
                    Fato é que o dito faleceu numa época em que as rosas na espanha eram caríssimas.
                   Depois de muito pensar decidiu a tia a comprar um buquet de rosas e aparecer no velório. Uma homenagem aos bons tempos vividos com o  amigo.
                   Não querendo chamar muito a atenção entrou na capela e vendo a mulher, a mãe e a filha do morto  em volta do caixão parou ao pé do mesmo com seu buquet em mãos e, discretamente, pousou as flores em atitude contrita. Ali fez sua oração de despedida enxugando uma lágrima solitária que insistia em descer por seu rosto.
    Passados alguns minutos, percebendo que a família se afastara um pouco, tia Almerinda se aproxima  do rosto do morto e...surpresa percebe que esta no velório errado!
Gente, as rosas tinham sido caríssimas. Não titubeou, voltou para os pés do morto e,constrangida, recolheu as rosas  dizendo alto e em bom som..." Equivoquei-me de muerto!"
Tem gente que consegue ser assertiva mesmo em situações difíceis.

Celebrando o dia dos namorados

          Vera e Nilda gostam de crepe e uma vez por mes as duas saem a saborear a iguaria. Até aí, tudo bem. Contava Vera hoje no almoço de natal que meses atrás as duas foram a uma creperia e perceberam que especialmente naquele dia a creperia estava lotada, O que não impediu que o garçon, já conhecido, as cumprimentasse com intimidade.
Estranho... pensou Vera.
                    Conversa vai, conversa vem as duas só perceberam que era o dia dos namorados quando, a certa altura, o garçon chegou discretamente com um sorriso cumplice no rosto e, pedindo licença, salpicou pétalas de rosas pela mesa das duas!
                     A vida nos prega cada peça!!!
                     Como disse numa postagem anterior todo mundo é bem intencionado, né mesmo?
                      É...

A excêntrica familia de Angela

          Julia começou a fazer movimentos pro engatinhar há mais ou menos uma semana. Hoje, 25 de dezembro,  a criança já com sete meses, progrediu para uns pinotes. O que nos faz crer que engatinhará antes do ano novo. Há quem aposte que Julia engatinhará em Janeiro, em Itaipava. Sei não...
          Filha de psicóloga, neta de professora, irmã de duas moças , sobrinha de Marina e sendo criada com cachorros a sua volta podem apostar  que é bastante estimulada.
          Sabe como é, tem aquela estória do estímulo.
          De uns dias para cá toda vez que ela está em seu tapetinho e passo por ela e coloco um brinquedo  ou até mesmo os meus óculos um pouco distante dela para ve-la tentar alcança-los.
         Todos são bem intencionados, E de louco e de didático todos nós temos um pouco, né não?
          Pois bem. A certa altura do almoço de natal olho para o tapetinho e vejo Marina engainhando  a certa distancia de Júlia mostrando-lhe nada mais nada menos que um brownie. Acho que é porque no fundo todos nós somos chocólatras. Vale aqui fazer rápida referencia ao amigo oculto que fazemos onde as pessoas podem roubar os presentes um dos outros. Papai havia tirado o numero um e correu a pescar uma caixa de bombons. Para nossa surpresa logo logo a caixa estava pela metade. Talvez tenha pensado que se alguem o roubasse logo adiante já teria saboreado alguns. Alguns?
          Mas a coisa não para por aí. Bia,  a mãe da nenê tem uns setenta pares de sapatos. Abafa!!!         Ninguém é perfeito! Para nossa surpresa(?) no decorrer do almoço pegamos Bia com apenas um dos sapatos nos pés. Amarelos, é claro! Olho mais detalhadamente e percebo que o outro pé  de sapato está sendo sacudido como estímulo para que Julia engatinhe.O que me acalenta é saber que todos nós escolhemos os pais e a família certa para nossa evolução!? Será?
          Como diz Lya Luft  múltiplas são as escolhas que fazemos.
          Queira Deus que Julia não se arrependa um dia!!!
Um adendo: Maio de 2011. Julia já fez um ano. Balbucia algumas palavras, tais como: Amanda, papai, mamãe e sapato.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Euforia ou eufolia???

         A palavra euforia tem sua origem no grego euphoria e designa um estado de excitação plena, empolgação, alegria intensa, mesmo que não corresponda à realidade de quem o experimenta; o que na maioria das vezes é verdade.
          É como se precisássemos estar alegres e eufóricos para nos convencer de que somos felizes ou de que estamos bem. Estejamos ou não.
          Fico pensando que a mudança de uma única letra: o R pelo L talvez traduzisse melhor o nosso estado.    
           Sendo assim diríamos que aquela pessoa está experimentando uma folia. Folia pessoal. Por que não dizer uma Eufolia???
           Me pego pensando na musica... São tres dias de folia e brincadeira... voce pra lá eu pra cá..... até quarta feira. Lá lá lá lá lá lá
          Tal como um carnaval que é folia chega uma hora que a euforia acaba.Quiça numa quarta feira. Quiça numa quarta feira de cinzas. O próprio nome parece sujerir que alguns cartuchos são queimados virando cinzas. Lá lá lá lá lá lá!
          Fazendo um paralelo entre a euforia e o carnaval é duro  pensar que para quatro ou cinco dias de  euforia, ou  melhor, de eufolia  serão necessários 360 dias para nos auto regularmos...Ora, matemáticamente não é legal  tamanha discrepancia.
          Melhor seria se aprendessemos a ver a vida e suas adversidades com mais serenidade entendendo que  os desafios  fazem parte  e que dias virão nos quais não estaremos  tão alegres.
          Quem sabe então não nos tornaríamos  verdadeiros foliões do cotidiano?
          Lá lá lá lá lá lá.
         
         
         
         

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sara, eu?

          Dificilmente me lembro de uma piada contada por alguém. Porém tem umas tres ou quatro que sempre me lembro e passo adiante. Assim sendo tem uma da Sara que conto tanto que já virou motivo de  graça junto a minha família. Embora, as vezes, a graça não tenha graça alguma.
         Vamos a piada em si: Um dia Salim acordou diferente e, a primeira vista muito circunspecto e agradecido a Sara. Dizia ele no café da manha: Sara, eu estive pensando a noite toda em voce e acordei mexido demais. Que isso meu filho! exclama ela. Sério! responde ele. Lembra quando eu perdi as tres lojas que tinha? Pois é. Voce Sara não saiu do meu lado. Quando perdemos nosso filho no desastre automobilistico. Voce Sara, ali comigo. Perdi dinheiro no jogo e voce, Sara, comigo. Tive aquele cancer que até hoje não entendi e voce, querida ali comigo. Deixa de bobagem, diz ela. Não fiz nada de mais. Fez sim Sara. Eu me peguei pensando.... Sara, voce me dá um azar filho da puta. KKKKK
          Muito bem. Sabe como é. Final de ano. Natal chegando. Era uma tarde de sol bonita e me vem um sentimento de gratidão tão grande desses que só dá uma vez ou outra. Pensei, preciso expressá-lo. Olho para o Negão e penso como é bom ter o Negão por perto (quando ele não come o meu juízo) e me decido por expressar. Estamos voltando de algum lugar. Ele ao volante. Passo a mão na perna dele e digo.... É Negão mais um ano juntos. Ano difícil esse, né Negão? Ele exclama: É... Sara!
Magoei....
 Belem Belem, nunca mais eu to de bem!
 Pronto bloguei!
( Eu disse a ele que perpetuaria meu desapontamento e frustração. Sem graça!!! )

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Consumismo

Final de ano. Férias agendadas. Natal chegando. Um reboliço no shopping!
Será que alguma vez na historia da humanidade se consumiu tanto?
Sei não. Os manobristas é que estão se dando bem.
Fico imaginando estes apartamentos apertados de hoje em dia com armários mínimos guardando tanta coisa
Fui ao shopping com Marina e Zé e a minha filha estava em extase. Ela diz " Que delícia, mãe. O que? pergunto. Ela responde: "esta porrada de sacola na mão!
Realmente é legal trazer um vestido novo para casa. A pergunta é: Legal até quando? Parece que  tres dias depois já não faz tanta diferença e queremos comprar algo mais.
Estive pensando.... Em analogia com a expressão em espanhol consumismo significa consigo mesmo. Con su mismo.
Assim  parece que o que obtemos nas compras é um momento de profunda relação  conosco. Será? Ora, se for, tá explicado. Afinal andamos muito distantes de nós mesmos estes últimos tempos.
All right! Não preciso querer pouco. Podemos querer tudo. Mas que tal ficarmos agradecidos e felizes pelo que conseguimos?
Pode se comprar a bolsa e ter prazer com isso, mas há um espaço de contentamento interno que precisa permaneccer com ou sem a bolsa. Né não???

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Mia Couto

"O amor acontece para a gente desacontecer."
"Não é o coração que me ancora a esta vida. É a lembrança. Minha mulher ainda se lembra de mim"
"É o esquecimento e não a morte que nos faz ficar fora da vida".
"Tenho medo de ao fazer amor contigo não regressar de ti".
"O hospital é um lugar doente".
"Não sou preto. Sou extremamente mulato".
"Viver é um verbo sem passado".
"Não é que eu seja infeliz. Eu não sou é feliz".
Frases do último romance  do Moçambicano Mia Couto entitulado Venenos de Deus, remédios do diabo

domingo, 12 de dezembro de 2010

Uma cigana do Maranhão

"Sou do riso e do mar" me disse ela certa vez. Tenho sangue de cigana. Meu nome é Risomar.
Risomar Waquim, a mestra. Sim porque sempre tem um conselho para nos dar sobre o viver.
Mãe de quatro filhos homens, um deles meu amigo, e mais uns agregados pode ser considerada uma figura lendária no Maranhão.
Amiga dos Sarneys, amante da pintura, cozinheira, rezadeira,  caridosa e , antes de tudo, uma mulher forte.
Dia desses reencontro com ela na festa de aniversário de seu filho Jorge. O sexagenário mais sexy de Brasília. Sua mulher que não me ouça! Reencontrá-la é sempre motivo para rir e brindar a vida. Sabe aquele sentimento de se sentir inteira? É o que acontece nestes encontros. Como se a presença dela nos  fortalecesse um pouco.
Conversávamos sobre as pingas que aprecia, sobre filhos, netos e bisnetos animadamente. Porque não dize-lo rindo até chorar  e manchar a maquiagem.
Em certo momento da festa ela nos conta da vez que bateu num moço em sua casa. Se lamentava de não ter batido mais. O motivo? Ter o mancebo abusado da confiança de sua agregada.
Tem porte de arma. Como confirmou seu filho Elias  ela tem um 38 e um 22. Sem contar com o arpão de arraia que leva consigo camuflada na roupa para qualquer necessidade atróz.
Contava ela que anos atrás pegou um taxi no Maranhão e percebeu que o motorista estava dando voltas a fim de fazer com que a corrida rendesse mais.
Não teve dúvida desembainhou a dita arma e passou levemente pelo pescoço do motorista dizendo..." agora deixa de enrolação e vai direto para o endereço, doçura". Segundo ela o pobre homem de repente começou a suar frio, mas rapidamente chegou no endereço solicitado anteriormente.
Conta das vezes que cozinhou para ministros e gente famosa. Conta das peixadas que fez na vida, dos pobres que ajudou e da fé inabalável que tem na vida, da necessidade de terrmos juizo.Conta dos cinco ultimos anos que conviveu com o Alzheimer do marido e de como emagreceu vinte quilos nesta luta. Relembra a mudinha de louro que minha mãe fez para ela certa vez no sítio e se emociona ao dizer que me conhece há mais de trinta anos.
Ia me esquecendo. Quando na festa cheguei deparei logo com ela e sentei em sua mesa  beijando-a e dizendo-lhe que estava me sentindo uma dama naquele lugar tão requintado.
Automaticamente sinto que ela me puxa os dois braços e me olha como se quisesse me aterrizar um pouco e diz ... "Voce é uma dama!" e pede que eu nunca me esqueça disso. Na hora até concordo com ela, sei não. Mas fica uma sensação de ser  apenas um projeto de  dama, uma vez que dama, dama mesmo? É ela!
Dona Risomar Waquim. Minha velha amiga que tanto é riso como é mar.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Two women "reading"!?

Encanta-me esta foto de Henri Bresson, assim como todas as outras.
Suas fotos dispensam texto. São fotos que parecem pulsar como qualquer ser humano pulsa.
 Pulsa no medo, na apreensão, na solidão, no vazio, na pausa, na dúvida, na inveja, na admiração, na paz de espírito, na solitude, na imaginação, no sonho, no devaneio, na sede, no aquietar-se, na reflexão, na curiosidade.
Mais do que isto elas nos revelam a natureza humana em detalhes.
 Como se suas fotos radiografassem o que está além. O que tá dentro.
Nossas dores e nossas delícias.
 Nossos mais discordantes aspectos .
Nossa tão grandiosa mentira.
Nosso tão pequenino engano.
Nossa insistencia em ser feliz.
Nossa covardia ao desistirmos de nós.
Nossa coragem para retomar.
Nossa confiança desconfiada.
Nossa ausencia presente.
Nosso grande gap.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O homem integrado à natureza

Quantas vezes  já não ouvimos que precisamos nos religar à natureza?
Parece tão difícil. Melhor, dificílimo!!!
Para tanto precisamos de workshops xamanicos, meditação e outras parafernálias que nos ajudem a aquietar a poluição sonora que temos dentro de nós, pobres moradores dos grandes centros, mortais sobreviventes do caos diário.
No entanto......
Fiquei perplexa semana passada ao perceber que meu caseiro no sítio estava aparando a cerca e aproveitou para limpar as pedras cobertas de limo. Até aí, tudo bem.
Estávamos na piscina e nem percebemos que a bomba que enche a caixa d'agua da casa dele estava ligada.
Passou um tempo e vimos sua companheira sair correndo de casa para avisar-lhe da necessidade de desligar a dita bomba.
Gente, ela não chegou a dar cinco passos e ele já vinha correndo.
Detalhe :Jordeny estava trabalhando no portão e a casa dele fica há mais ou menos cem metros de distancia!!!
Sim senhor,cem metros!
Ficamos perplexos de ver que ele tinha ouvido a água correndo e nós não. A diferença? Seus ouvidos estão ligados a seu ser e seu ser está no aqui e no agora. Eckhart Tolle em seu livro O poder do agora diz que para contemplarmos  o espaço infinito em uma noite clara, para escutarmos o som de um riacho numa montanha na floresta ou o som de um melro ao cair da tarde a mente precisa estar serena; do contrário voce olhará mas nao verá, ouvirá mas não escutará. E completa: Estar totalmente presente é fundamental.
Tal como um maestro que rege uma orquestra, meu caseiro consegue reger e reger-se junto à natureza.
Sujeito e objeto de  uma harmonização vivenciada pelos índios com tamanha naturalidade que faz com que nós, cidadãos civilizados, pensemos duas vezes antes de trocarmos o campo pelo grande centro estando de férias ou aposentados.
Como diz o meu livreiro de Itaipava .... "Há que se fazer o caminho inverso"!
                                                                                       
Jordely com um galho de caquis

Lya Luftiando-me a little



Mês passado participei de um evento sobre o Dia da Mulher.
Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de todas as raças, credos e idades.
E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha e, como não me envergonho dela, respondi.
Foi um momento inesquecível...
A platéia inteira fez um 'oooohh' de descrédito.
Aí fiquei pensando: 'pô, estou neste auditório há quase uma hora exibindo minha inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho? Onde é que nós estamos?'
Onde não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado 'juventude eterna'. Estão todos em busca da reversão do tempo
Acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas.
Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas mesmo em idade avançada.
A fonte da juventude chama-se "mudança".
De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora.
A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas.
Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos.
Mudança, o que vem a ser tal coisa?
Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme em que morou a vida toda para um bem menorzinho.
Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu.
Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos.
Rejuvenesceu.
Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia sempre que tem sol.
Rejuvenesceu.
Toda mudança cobra um alto preço emocional.
Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza.
Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face.
Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna.
Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho.
Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente escolhe viver.
Olhe-se no espellho!!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Somos mais que pessoas. Somos o universo.

 
          Todos nós já fomos, alguma vez na vida, chamados de a filha da dona Fulana, ou o neto da Ciclana, 
Ora, esse chamado tem o poder de nos situar num tempo, num espaço ou  numa tribo; no caso a tribo familiar. Sentimo-nos inseridos. Fazemos parte. Melhor, pertencemos..
      A constelação Familiar, enquanto trabalho terapeutico, defende que precisamos reverenciar nossa ancestralidade. Sempre e embora algumas vezes tarde. Tipo entendendo que nossos ancestrais abriram trincheiras, cruzaram mares, batalharam para que hoje estejamos aqui, etc.
Estando de volta ao lar, aquele que foi o lar de meus pais e minha avó. No sítio Do arco da velha, isso parece que fica à flor da pele. Todos conhecem todos de longa data. Há trinta anos temos como vizinhos um casal que testemunhou as alegrias e adversidades de meus pais, assim como meus pais testemunharam algumas dores e muitas delícias de suas vidas. Quem conheceu a Charlote que o diga. Uma senhorinha francesa mãe de Célia e sogra de Paulo.
      Desta vez não alugamos carro. Queríamos testar nossa disposição para subir e descer de onibus. O argumento era.... Não fazemos isto no exterior?  
Conseguimos de certa forma; mas ninguém é de ferro, teve horas que apelamos para o taxi. Conversa vai conversa vem Seu Carlinhos, motorista de taxi há quarenta anos em Itaipava, descobre que sou filha do Sr Domingos, "aquele velhinho bom de papo". Sr Carlinhos se desdobra em nos atender, dá desconto e, de quebra, ainda nos pede encarecidamente que levemos um forte abraço para meu pai. Concordo e prometo que em Janeiro, quando aqui de novo, promoveremos um encontro dos dois. Um cafezinho, quiçá um bolo.
      Estando por aqui Célia nos convida para almoçar num domingo qualquer e então ouço do Dr. Paulo elogios e elogios sobre minha mãe. Seu gesto lava minha alma. No último domingo , já no cafezinho que se extende para que todos consigam contar e compartilhar as últimas, me surpreendo com Dr Paulo pegando minha mão em reverencia e dizendo..... Mas, Angela eu quero te dizer que voce está cada dia mais parecida com a |Ilse e isto me dá um enorme prazer de estar em sua companhia porque sua mãe foi muito querida para mim, etc etc. Fala do time de futebol dela, do dele, dos biscoito que ela lhe fazia e por aí vai. Passos firmes, andar concentrado, olhos miudos segue com a fala mansa de baiano que é  nos levando até o portão, onde mais uma vez se despede segurando meu rosto, como se no gesto quisesse ter  por instantes minha mãe perto de si. Venho para casa e comento com o Negão como é bom ter tido meus antepassados abrindo meus caminhos. É como se estes almoços fossem por eu ser filha da Ilse.Uma homenagem.
       No outro dia saio para comprar o jornal e ouço a Neia dizer ao sr João da padaria... A Angela da Dona Ilse tá de volta... Penso: não preciso nem ter o dinheiro para pegar o jornal. To em casa.Fico pensando....Somos mais que nós mesmos. Muito mais....Tantíssimos que nem imaginamos. Aqui a separatividade tão pontuada por Deepak Chopra quase inexiste.A gente aqui se expande e deixa de ser uma pessoa  a parte para ser um micro universo.
       Janeiro tá chegando e com ele a família toda.... Logo vou estar ouvindo.... É a Bia... filha da Angela, A Marina neta da Ilse ou, melhor, A Amanda e a Jully, netas da Angela....
 Passado abrindo caminho para o futuro. Assim segue a marcha, assim caminha a  humanidade no compasso dos nossos  coraçoes..
Fica a pergunta: O que um motorista de taxi tem em comum com um engenheiro de portos?
Resposta: A capacidade de me enraizar despertando em mim minhas velhas e minhas crianças, me contextualizando num campo familiar...
     Volto para Brasilia mais uma vez com um sentimento de pertinencia que me faz lembrar a frase de um personagem de Mia Couto ..."Não se preocupe com o meu coração, doutor. O que me ancora é a lembrança. Minha mulher ainda lembra de mim."