Quem tem mais de cinquenta anos lembra do musical Horizonte Perdido dirigido por Charles jarrott, uma relançamento do filme de Frank Capra com trilha sonora de Burt Bacharach que conta a história de um avião que cai em alguma parte do Himalaia chamada Shangri-lá. Até hoje tem quem se refira ao filme chamando o de Shangri-lá. Tamanha foi a força das imagens e da mensagem de paz e amor do filme.
Lembro-me de sair do cinema adolescente que era, pedindo a Deus que um dia chegasse a um lugar como aquele cheio de paz e boa vontade onde a musica que dizia "Living together, working together oh loving together "garantia que a união faz a força" e outras coisas do genero. Eram os anos 70 e o tema estava em voga desde os 60. Precisei amadurecer e envelhecer para entender que Shangri-lá é muito mais um estado mental de moderação e aceitação, tão difícil para nós humanos, do que um lugar especial como aquele.
Depois de experimentar vários caminhos de crescimento pessoal e ler muuuuuuuuuuuito aconteceu de papai ,com mais de setenta anos, vir morar conosco. O que confesso, nem sempre é fácil.
Não sei se a vida o fez assim, mas percebo que assim como minha mãe e minha avó papai tem uma maneira de ver as coisas mais moderada e pratica do que eu. Percebo, por exemplo, que acontece o imprevisivel e enquanto eu fico dias questionando e tentando explicar ou entender as circunstancias, deperdiço uma energia enorme. Energia esta que os antigos poupavam(!?)
Domenico fica doente então eu ja penso no hospital no remedio, no médico e fico horas perguntando por que? Até que ele chega perto de mim e diz simplesmente_ Angela isso não dá em poste!. E então eu sossego.
Dias atrás eu enviei minha domestica, a super Lilia ,trabalhar na Bia. Assim o cardápio daqui de casa simplificou muito. Até que teve um dia em que minha ficha caiu. E me peguei falando com o Wilson que eu tinha muito que aprender com ele. Isso porque papai é do tipo que nunca viveu com mimos, o que fez com que ele achasse um lanche de mate e pão com requeijão uma refeiçao muito boa. Dia desses chegamos do médico e o que deu para sair de almoço foi um miojo e como eu tinha ovos cozidos na geladeira servi junto. Sentamos e eu disse _gente, amanha prometo que o almoço melhora. E papai repetiu como sempre faz. _Que nada. Está ótimo. Eu adoro miojo!
Quando não tem a gelatina que faço por causa dele que gosta de sobremesas e lhe entrego uma banana ele diz que está doce ou madurinha.
Nestas horas eu me pergunto se fui mimada o suficiente para ficar tão amoada e descontrolada com o imprevisivel. Precisa fazer um sermão da montanha por qualquer coisa???
Hoje é quarta feira; dia em que almoçamos na Bia. Depois do almoço estendemos um pouco e hoje em particular até as cinco e meia da tarde porque tinha futebol e ele e o Wilson queriam ver. Na saída da casa da Bia papai tropeçou num degrauzinho sinistro que tem lá e foi com vontade de cara no chão. Não preciso dizer o que foi isso para nós. Mertiolate, agua oxigenada, uma série de recomendações (esporros mesmo) e algodão e band aid aqui e band aid ali e senta papai e estica a perna papai e todo aquele banzé que pessoas controladoras fazem tão bem nestas horas. Pedi que ele levantasse devagar e se apoiasse em mim para irmos para o carro. Domenico está velho e como tal gosta de se sentir cuidado, mas acho que até para ele foi exagerada a minha agonia. Virou para mim riu e disse. Filha, aconteceu! Acabou!
É claro que eu podia ter entendido isso como um cala a boca pleeeeeeeeeeeeeeease, mas aprendi mais uma vez que estava levando aquilo tudo longe demais, uma vez que para o acidentado já tinha dado, como diz o gaucho. Virei para ele e disse._ É papai. Deu!
Entramos no carro e viemos para casa. Infelizmente do Lago para a Asa Norte eu já tinha esquecido que já tinha "dado" e fiz as recomendações de trocar de roupa porque tinha sangue e outras neuras mais.
Mas já foi alguma coisa, né mesmo? Já deu para escrever este texto e ouvir com mais aceitação quando ele respondeu que a roupa ele trocaria amanha porque já tinha ido ao banheiro e limpado as manchas de sangue da roupa. Simples assim! Eu podia dizer aqui que a atitude dele faz parte da sabedoria que se adquire ao longo da vida, mas penso que em não se tratando de falta de grana ele sempre teve essa atitude de Ok That's over!!!
Juro por Deus e por todos os santos e, como dizia quando criança, por minha mãe mortinha que vou tentar desesperar menos. Bem menos. E um dia chegar a um " Quase nada".
Amémmmmmmmmmmmmmm
Eu penso que chegarei nesse ponto daqui a pouco, mas acho difícil...hehehe...Acho que serei uma velha um tantinho rabujenta, saudosista, mas também contadora de histórias e coisas afins...Vamos aguardar...só o tempo dirá e só quem viver sobreviverá...
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