terça-feira, 23 de agosto de 2011

A avó nossa de cada dia

          Reencontro uma amiga e  apresso-me a  mostrar-lhe as mais recentes fotos das netas.Isso me lembra um dos hilários gestos de minha mãe.
Mamãe era encantada com minhas filhas. Em sua carteira voce encontrava alguns trocados, algumas moedas, nenhum cartão de crédito, e muitas fotos das netas.
 No caso dela a carteira era gordinha  não por causa de cartões, mas por conta das fotos de Bia e Marina. Bastava a mamae pegar um taxi e já ia puxando papo com o motorista com o intuito de mostrar-lhe seu pequeno album sempre à mão.
Era interminável a coleção de fotos tres por quatro que ela foi juntando ali. 
Vai daí que um dia num onibus no Rio de Janeiro ela sente de repente que lhe afanaram a carteira.
 Susto, indignação e escandalo se fazem presente.
Mamãe começa a gritar ao motorista que pare o onibus. Melhor, que ele siga direto para a delegacia:
Para! Para o onibus! Seu motorista para essa jeringonça, fui assaltada!
 Minha carteira não está na minha bolsa!
Tem certeza que estava com a senhora? pergunta o trocador.
Claro meu filho como eu poderia ter pago a passagem.
Calma senhora. Tinha documentos?
Sim, mas isto não é problema. Vou ao Felix Pacheco e tiro uma segunda via da identidade.
Senhora ligue imediatamente para o cartão de crédito e peça que cancelem!
Eu não tenho cartão minha gente.... Angustia.
Motorista,  direto para a delegacia!
 Senhora acalme-se.
 Acalmar-me e como fico eu sem as fotos das minhas netas? Risos.... Tristeza.
To passada, diz ela.
Elas são de Brasília. Bia a mais velha tem seis anos e a menor, Marininha tem tres anos. Estudam pela manhã. Bia  faz ballet. Marina karatê.
E por aí vai ( ou foi ).
Minha gente, diz  aos outros passageiros, se foi alguem que ainda não desceu disfarça deixa as fotos debaixo de um dos lugares e tudo bem. Morre aqui. Tem alguma graninha. Que fique com ela mas por favor não leve minhas fotos. Silencio....
Mamãe , que já estava de pé desde o momento em que tudo começou se abaixa e olha debaixo dos lugares. Nada!!! Angustia e indignação.
A estas alturas já quase chorava. Mas não chorou não. Pelo menos não no onibus. Esperou chegar em casa, pegou o telefone e ligou chorando para mim e para meio Rio de Janeiro.
Mas o que que vão querer com as fotos das meninas? perguntava ela.
Dia seguinte cedo vai ao correio. É costume no Rio que as pessoas deixem no Correio central documentos e carteiras extraviados.
Mamãe explica a situação para o primeiro que a atende e segue explicando tudo outra vez até chegar no quarto funcionário.
Um reboliço se faz no saguão do prédio com mamae desolada.
Até que aparece o herói, trazendo um envelopinho com o seu tesouro.
Mamãe se dependura no homem e chora agradecida, Depois pisca para a galera, junta todos numa rodinha e mostra foto por foto para os poucos interessados.
Ah minha filha. Ganhei o dia!
Tava carente, mãe? pergunto eu.
Carente? Não tava era passada com a perda. Não dormi, filha pedindo a Deus que resgatasse minhas fotos.
Mãe e a carteirade identidade? O CPF?
Ah sei lá. Amanha eu penso nisso! Lembra de O vento levou, filha?
Claro que lembro.
Pois é!!!
Porque?
Perdeu-as no vento?
Não me sacaneia, Angela!
O filme acaba com a Vivian Leigh dizendo..... Amanha eu penso.
Ahhhhhhhhhhhhhh, tá!!!
Dia desses Bia me deu fotos recentes das meninas e tive muita vontade que mamãe tivese um endereço lá no céu para que eu as enviasse.
Até porque no filme Nosso lar aparece um tipo de coletivo. Já imaginou mamãe fazendo outro escandalo desta vez num onibus celeste por conta de fotos das bisnetas???

2 comentários:

  1. Nossa... É a mesma coisa que ver sua mãe falando... rs Saudades.

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  2. Pois é menina.
    É o que todos dizem...
    Bjs
    Angela

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