Tive a sorte de ter tido muitas bonecas na minha infancia. Tantas que um dia fui até indelicada com um amiguinho de escola. Explico. Eu estava no jardim de infancia e tinham gemeos na minha turma. Dois irmãos que, acreditem ou não, eram caidinhos por mim. Aquilo me incomodava demais porque eles me paparicavam e eu queria era ser livre para brincar e não usar o recreio para ficar conversando com eles. Até que a professora marcou um batizado de bonecas. Determinado dia poderíamos trazer uma boneca para a escola e fazer o batizado no recreio. Na vespera do dia D os dois vieram me perguntar se eu teria a boneca para levar, pois caso contrário eles poderiam trazer uma das bonecas da irmã deles. Ah mas eu enlouqueci com o gesto. Perplexa por não conceber que uma menina não tivesse bonecas, disse que tinha muitas e que não se preocupassem comigo. Me afastei deles e dei o caso e a amizade por encerrados.
Tive até pouco tempo duas bonecas que tinham a minha idade. Uma ganhei de minha tia Olga e a outra de minha tia Irene. A da tia Olga sumiu de minha casa misteriosamente há uns tres anos atrás, ficando apenas uma. Ou melhor, um. Um boneco.
Quando minhas filhas eram pequenas conheci umas freiras que renovavam as roupas de bonecas antigas e quis fazer uma surpresa no dia das crianças encomendando roupas novas para elas. Ficaram lindas mas a ideia não foi legal. Minhas filhas receberam o "precioso" presente com cara de quem está recebendo um prato com uma laranja de sobremesa em vez do brownie com sorvete tão esperado. Marina até reclamou dizendo que o boneco era homem mas usava baton. Ora o boneco tem cinquenta anos.Ainda é de baquelite. Não só tem a boca vermelhinha (bem natural) como tem as unhas pintadinhas de rosa. kkkkk. Enfim jamais estas bonecas poderiam ter o valor sentimental que tinham para mim.
Com o tempo levei o bonequinho para o sítio e deixei lá numa esperança remota de minhas netas brincarem com ele. Para minha surpresa , ano passado,encontrei-o jogado no fundo de um armário sem os bracinhos e com a cabeça descolada. Que desapontamento senti. Como? Quem? Não importa. Trouxe-o de volta para casa e fui correr atrás de um "Hospital de bonecas" como se chamavam na minha época os lugares onde se consertevam as ditas. Encontrei um lugar que se chama SOS Brinquedos e, aliviada, deixei o meu querido bebe para cirurgia. A moça que atende tá longe de ter feito Socila, mas no que demorei um pouquinho mais a dona chegou e percebeu o meu cuidado com o boneco. Perguntou se era meu, quantos anos tinha, etc...Mulher é fogo! Sempre sondano a idade da outra! Vá pentear macaco, pensei.
Pra encurtar o reparo que a mocinha tinha dito que ia demorar uns vinte dias ficou pronto de um dia para o outro porque segundo a dona da loja poderia acontecer algo com ele jogado lá na "fila do INSS" ( a prateleira da loja ). Pessoa de sensibilidade esta! Ok eu a perdoo. O que ela queria mesmo era saber de que década a boneca era. Eu teria dito boneco da estrela, anos 50. Ou ela que fosse procurar no Google José, ora.
Hoje cedo fui resgatar meu garoto. As roupinhas que elas tinham para vender eram muito simples, mas comprei um pijaminha mixuruca para que ele não fique com as partes expostas até eu encontrar uma roupinha legal.
Vim para casa dirigindo com ele no meu colo. Cheguei em casa e deixei-o num cantinho do meu quarto sentado esperando a próxima ida ao sítio para levá-lo de volta. Vai que "dá uma zebra" e as minhas netas um dia ainda o pegam para brincar. E que sejam mais educadas que a Marina e não debochem de seu baton e suas unhas tão naturais.
Termino este texto com vontade de gritar "SOS" para a saudade que sinto da minha infancia querida que os anos não trazem mais.( Casimiro de Abreu? )
Obs: Google José, meu parceiro, cedeu gentilmente a imagem do meu bebe ao texto. Do que sou muito grata. Ah se não fossem essas pessoas que trabalham nos bastidores!!!