É sabido que o carioca usa expressoes que nenhum outro povo usa.
Minha tia Olga é uma destas pessoas cheias de caras e expressoes para se comunicar. Aliás, tia Rosa, sua irmã, também era. Tia Rosa já foi citada numa postagem anterior. É aquela do texto entitulado Blá blá blá. Comigo não, violão! entrava em quase cem por cento de suas falas.
Mas voltemos à Olguinha. Esqueci de dizer que tia Olga é a mãe do Jayme, meu primo citado na postagem De quando me joguei no mar.
Conviviamos muito na casa de tia Olga e eles na nossa.
Quantas e quantas vezes ouvimos as duas ( tia Olga e mamãe ) falarem algo, digamos...sigiloso, na nossa frente (ainda crianças) e depois uma olhar para a outra, como que lembrando que nós estavamos presentes. Era então que ouviamos da tia: " Voces aí.... boquinha de siri, hein??? Olha lá!"
Tio Jayme, seu marido, era carioquíssimo neste ponto. Morávamos no Grajaú. Bairro pequeno burgues (na época). E a gente sabe que o carioca divide o Rio em dois. O Rio e o Estado do Rio (o suburbio) para quem é de lá. E ainda tem aqueles que costumam dizer que tem o Rio pra cá do tunel e o pra lá do tunel.
Recordo tio Jayme usando muito a expressão.... Não é Irajá??? quando queria uma confirmação. Uma das maneiras do carioca provocar o suburbano. Ou a pergunta.... E aí, abafou? ( referindo-se a termos feito sucesso com uma roupa nova, um discurso ou no preparo de alguma receita para um jantar)
Tia Olga e mamãe bordavam e costuravam como estilistas e quando cansavam davam uma pausa para um café ou um copo de água. Lá da cozinha olhavam para a costura e perguntavam: Tá bonito, gente??? E eu respondia: Tá bonitinho! No que minha tia retrucava perplexa: Bonitinho é pau... Tá lindo!!!
Deixa só eu contar uma coisinha que não tem a ver com expressoes mas que tia Olga me lembrou hoje por email.
Quando as duas iam à Casa Itamar, na Saens Penna comprar tecidos e a tia escolhia algum tecido listrado ou xadrez, minha mãe já ficava agitada. É porque perfeccionista que era, a tia queria casar sempre as listras e os xadrezes. E é lógico que o fato envolvia comprar mais tecido. E o papo na loja ficava mais ou menos assim:
_Olga para que isso tudo de tecido?
_Ora, Ilse, para casar.
Naquela época estavam começando os desquites e separaçoes no Brasil e mamãe respondia:
_Olga que agonia de querer sempre estar casando é esta? Todo mundo esta separando!!! É ou não é?
(O Irajá ficava subentendido, é claro.)
Mais um casinho a parte das expressoes. Tio jayme , como bom morador do Rio gostava de tomar uma cervejinha no bar da esquina. E as vezes demorava um pouco, atrasando o almoço de domingo; o que deixava tia Olga.... uma onça! Então ela reclamava que ele tinha demorado no buteco e que era um buteco horroroso, etc etc etc. Até um dia que ele reagiu dizendo não se tratar de um boteco xexelento coisa nenhuma. Foi quando ouvimos da tia...... Verdade Jayme. É refinado que mais parece uma casa de chá! Risos....
Tem uma expressão que ela usava que eu nunca entendi. As vezes nas férias dormiam um pouco a tarde e quando tia Olga acordava costumava dizer que estava com gosto de guarda chuva velho na boca, Como assim(!?) Melhor não perguntar. Bizarro demais!!!
Hoje são recordações. Boas! Melhor.... excelentes! Mamãe já se foi e mal falo com tia Olga. Ultimamente temos nos falado por emails. O que resultou na iniciativa de postar este texto.
Recordações das mulheres que foram. Das mães que eram capazes de tirar o filho da escola se a reclamação em relação a um de nós ferisse seus brios.( Ver postagem entitulada O miserinha )
.Mulheres que trabalharam, foram a cinemas, criaram seus filhos, ampararam vizinhas em suas angustias, fizeram o melhor olho de sogra já degustado no Rio de Janeiro, desenharam os mapas que tinhamos que fazer no ginásio, Nos levaram aos primeiros bailes de carnaval, depois acompanharam os nossos cursos superiores e mais tarde acenderam velas e fizeram promessas a cada entrevista para emprego ou concurso feito por nós, os filhos. Bordaram enxovais,vestidos de formatura, vestidos de noiva de netas e cuidaram de nossos filhos sempre que puderam.
Ainda ontem falavamos por email e chegamos a conclusão de que fomos ou somos muitas. Somos tantas...
_C'est la vie! diria tia olga. Enquanto minha mãe diria. _Bora em frente que atrás vem gente!
Ou " É, vou me embora dar jeito na vida!
Alguns ela conseguiu. Outros... alguém dará.
E como a vida acontece sempre assim na terra como no céu. Faço um brinde às duas mulheres multifacetadas que foram Olga e Ilse.
A minha mais profunda reverencia a estas duas mulheres que foram, antes de mais nada..... sábias.
PS : Mamãe é a mais baixinha na foto acima