quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Solidariedade ( mirim ) ?

               Conceitos de amizade, respeito, união, solidariedade e outros são introjetados primeiro pelos pais,depois pela a familia e, em grande escala, pela sociedade.
               A rede de supermercados Pão de Açucar patrocinou semana passada em Brasilia mais uma maratona Kids. Os pais inscreveram seus filhos e  na hora prevista estavam a postos com o propósito de incentivar e , quem sabe, iniciar seus filhos no esporte. Gesto inteligente se somados à participação dos mesmos na vida dos filhotes.
A meu ver havia mais de uma categoria. Uma para pequeninos, tipo Julie, 2 anos, e outra para maiorezinhos tipo 6 anos.
               Bia inscreveu as meninas e Mary e Serginho idem. Pais modernos que não abrem mão da qualidade de vida na educação das crianças.
               Julie soltou da mão do pai e ganhou distancia chegando em primeiro lugar, contou-me a mãe. Eu não estava lá. Qualquer exagero vem da parte dela, quero deixar bem claro. Afinal as pessoas me conhecem como alguem que para contar um conto aumenta um ponto. Uma baita injustiça social para com a minha pessoa.
Momentos depois foi a vez de Sofia , Alice e Amanda se posicionarem. Aquece daqui, aquece dali e foi dada a partida.
Amanda, muito afoita, já saiu em disparada , o que a fez bater de encontro com outra participante e cairem as duas. Determinada que é quis chorar, mas levantou e seguiu em frente. Cumpriu os 50 metros propostos.
Porém o motivo deste texto vem por observarmos a atitude da amiguinha Sofia. Do momento em que Amanda caiu Sofia seguiu correndo, porém de agora em diante olhando para trás como se estivesse dizendo algo tipo.... Bora Amanda! Levanta e vem! Poderíamos chamar sua atitude de solidariedade mirim, mas penso que não teve nada de mirim em seu gesto.
               Sofia , embora não pareça tem 5 anos. O mesmo tempo da amizade das duas. Se conhecem desde sempre. Convivem nos finais de semana, nas idas ao clube, nas viagens, nos teatrinhos e nas festinhas.
Uma amizade bonita de se ver. 
Parabéns Mary e Serginho pela atitude expressa por Sofia. Isso é trabalho de voces dois.
Parabéns Sofia pela atitude solidaria num momento em que muitos pensariam na propria pele.
E parabéns ao Pão de Açucar pela iniciativa de incentivar o esporte na nossa cidade.
A foto acima mostra Amanda, Julie, Sofia e Alice.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A boneca e a caminha curta

                   Havia em um sítio uma boneca de pano de pernas comprias que passava o ano esquecida dentro de um guarda roupa só saindo nas férias escolares quando as meninas procuravam por ela. Depois ela tinha onze meses para lembrar das brincadeiras das férias.
                    O sonho da bonequinha era ter uma caminha pois segundo ela ficar sentada o ano inteiro não era brinquedo. E a circulação?
Eis que um dia a avó das meninas dando um giro nos brechos da cidade encontrou um caminha antiga de bonecas. Dessas que de há muuuuito crianças vem usando para brincar.
A boneca criou vida e deu um salto de alegria quando viu a caminha.
Mas..... logo percebeu que a caminha era curta demais para ela. O que fazer se tinha pernas longas?
Dobrou para cá dobrou para lá e nada de se acomodar.
Voltou para a cama das meninas e ficou dias sentada novamente, mas desta feita.... pensando.
E se eu.... E se eu.... Imaginava colocar uma emenda na cama, mas e a estética?
Sabe como é ....essas bonecas são espertas. E para bonecas modernas a estética é tudo.
              Um dia a avó se apiedou da coitada sentada e a pos na caminha com as pernas para fora.
E disse a ela. Que tal ficar um tempo cuidando da circulação das pernas? Gente idosa.... Imagina se uma criança vai pensar nisso!
             Dizem que a noite as bonecas ganham vida de modo que durante as noites ela andava e rodopiava pela casa. Assim nossa amiguinha passava as noites experimentando novas posições.
Uma noite daquelas aconteceu dela deitar com a barriguinha para baixo e suspender as pernas do joelho para trás. Surpresa!!! A caminha serviu. Empolgada se exercitava durante a noite e quando o dia vinha clareando se deitava na posição encontrada e, pernas ao lel, encantava as crianças com sua criatividade.
           Até hoje há quem diga que um dia ela vai ter dores de coluna, mas as crianças respondem que se fosse para ela ter dores nas costas já teria tido nos tempos em que esteve sentada dentro do guarda roupa ou na cama das meninas. Criança tem fé na vida!!!
Se a boneca as dores sentiu ninguem sabe ninguem viu mas que as crianças muitas vezes são mais otimistas que os adultos? Ah isso elas são!
          Assim acaba esta historia quem quiser outra que sente em rodinha no chão e levante a mão. 

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Aniversário

                                                                         

N
o TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


15/10/1929

Meu poema favorito de Fernando Pessoa com o heterônimo de Álvaro de Campos