segunda-feira, 6 de julho de 2015

E agora que.... ( ou... Nao chorem por mim )

                            
                                                                       
                                                            


               05 de agosto de 2015. Hoje morri aos 60 anos,  no Solar Guadalupe, Brasilia, numa maratona de Biodanca, chamada Inconsciente Numinoso. No final do trabalho, o didata nos disse... E agora que..... e devemos manter em mente o ocorrido e estarmos dispostos a sustentar as mudancas que comecaram ali.
Porem antes quero falar um pouco da vivencia.
               Ao chegarmos para o trabalho muitas duvidas.
Teve gente até que arriscou que depois dele seriamos capazes de ver nossa luz e a luz das pessoas de cara limpa.
Considero a Biodanca um trabalho serissimo de resgate da afetividade e por isso confio e me entreguei.
O trabalho compreende tres despedidas. A primeira consiste me despedir-se dos argumentos que nos impedem de melhorar. A segunda a despedida de pessoas (amores) vivos ou nao , aos quais ficamos presos, apegados, nao deixando que a vida flua com alegria.A terceira e a despedida de nos mesmos. Precisamos morrer para aquele sujeito que chegou la e dar espaco para o novo. Assim resume-se em decidir, aceitar e sustentar este novo ser.
               Acabei de me formar na Escola de Biodanca e percebo que ja nao sou a mesma. Muita coisa mexida. Muitos aspectos e atitudes deixadas de lado. Menos ansiedade e mais presenca me foram conferidos ao longo do processo.
               Tenho dito para meus amigos e familiares , ultimamente, que olhando para tras vejo que minha vida foi muito boa. Como se eu estivesse , finalmente, em paz com a vida e a morte. Serio.
               Ja tive muito medo de morrer, de fazer falta. Hoje ja nao vejo assim. Fiz tudo que podia ter feito. Casei duas vezes, tive filhos, netos e trilhei um consideravel caminho de auto aprimoramento. Sou melhor hoje aos 60 do que era aos trinta. Believe it or not. Sei o que estou dizendo.
               Voltando para a maratona passamos pelo primeiro portal da primeira despedida e foi tranquilo. Tambem ja fui de argumentar mais. Passamos pelo segundo que foi bem interessante.  Certas portas devem ser fechadas dentro de nos. Clarissa pinkolas nos lembra que alguem de 30 anos ja morreu varias vezes e que a cada morte deveriamos fincar um cruz no chao para que os fantasmas possam descancar e nao nos seguir vida a fora. Mas na hora de despedir me da vida cheguei a conclusao de que se a morte nos pega vivos fomos felizes.
               Acredite tem gente viva que ja morreu e nao sabe. Morreu para as novidades, para os novos amores e para, o que e pior de tudo, a vitalidade existencial. Ja nao fazem mais planos e nao vibram com a travessura de um neto.
Nao sei o nome da musica de fundo. Fantastica. Um requiem e a voz meiga e cuidadosa do didata nos induzindo a visualizar cada detalhe do processo. Como ele mesmo tinha prometido antes, facil e suave.Ja que tinhamos decidido morrer que nos dessemos uma morte agradavel. E assim foi. Cada qual escolheu um lugar e sentou-se ou deitou-se no chao , de olhos fechados e em silencio.
Tinha uma ideia do que aconteceria so nao sabia que eu ia estar me sentindo tao bem.
Vivi tudo que tinha para viver, eu repito. Mesmo aposentada quero comecar um trabalho de Biodanca social. Sonho antigo de mudar as coisas. Logo, estou viva. Que a morte nao me pegue num CTI.
Certa vez disse para minhas filhas que queria morrer num momento de planos de viagem e que depois eles dissssem.... Mamae tinha passagem comprada e hotel reservado e deve estar la agora. Isto significa morrer vivendo.
Problemas eu tive, mas, aqui entre nos, nao foram tantos . Afinal a vida nos suropreende com novidades dia a dia. Estejamos abertos, pois.
Quando a despedida terminou o silencio enchia nossos ouvidos de farfalhar de folhas e agua correndo. E me lembro de pensar. Sou natureza, assim como Deus. Isto e o inconnsciente numinoso. Algo que nos surpreende pela simplicidade. Afinal, segundo Carlos Garcia Deus, Luz, Amor e Transcendencia nao podem fazer parte do extraordinario, mas pequenas vivencias ordinarias do dia a dia. Nada fora de nos,para alcancarmos se formos merecedores, mas a divindade em nos.
Quero fechar com uma frase George Bataille em que ele diz que o maior erotismo e a confirmacao da vida ate  no momento da morte.
E peco ainda, nao chorem por mim quando eu me for deste plano para o outro.
Fui feliz demais para me sentir triste com a mudanca.
Bj no coracao de todos os que cruzaram e facilitaram o meu caminho me tornando, assim viva.