quarta-feira, 23 de maio de 2012

Uma Highlander!!!

          Deixo a clinica onde Ximbica está hospitalizada há tres dias e pego a estrada de volta para casa. Ligo o rádio e está tocando a música Secrets of Philadelphia, ela mesma. A do filme, belíssimo por sinal. A musica fala de dor e abandono, medo e perplexidade. Neste momento decido que vou chegar em casa e escrever algo.
          Ximbica é uma Fox Paulistinha. A cadela mais dócil que já se viu. E uma guerreira. Ganhei Ximbica ja fazem dez anos e levei para a mamãe em Itaipava. Com mamãe ela se tornou uma Lady. Doce e obediente, diferente do Tixo, seu irmão que hoje é da Bia.
          Mamãe faleceu só com ela em casa e me contaram que ela não deixava o pessoal chegar perto. Sofreu, a coitada. Marina a trouxe para Brasília e ela tem sido sua companheira desde então. Já se vão seis anos.
          No ano passado Ximbica esteve internada por uma semana. Descobriram um cancer avançado e retiraram um de seus rins. Sobreviveu a trancos e barrancos vomitando dia sim dia não.
No final de semana passado Ximbica não levantava mais. Marina levou a para a Clínica onde estão tentando tirá-la do quadro de quase falencia do outro rim. 
          A medica nos diz que quarenta por cento do rim é uma pedra. A questão não é se ela vai ou não sobreviver. Ainda que sobreviva terá que ser acompanhada periodicamente. A questão é..... Quanta força pode ter esta cadelinha que é tão doce quanto valente?
Ela nos olha profundamente. Um olhar cheio de dignidade. Apenas se percebe o medo que sente porque as vezes os olhos aumentam de tamanho, como acontece quando eles, os cães, se sentem ameaçados.
          Olho para ela e digo a ela que a amo desde o dia que ela chegou para mim naquela caixinha de sapatos Orthopé. Uma marca de sapatos infantis. Ela parece dizer que sabe disso. Não é viagem minha. Juro!
          Procuro massagea-la carinhosamente repetindo quantas vezes for preciso o meu amor por ela.
          Uma das taxas que tem como numero de referencia 40 estava a 1020 quando ela chegou na clinica. O segundo exame já mostrou que desceu para 320. Durante a visita de ontem ela mostrava que queria chegar mais perto e quando eu peguei o celular para fotografá-la ela se ajeitou numa pose que sempre faz. Detalhe: Quando chegamos lá ela estava distante e totalmente estirada no colchaõzinho.
          Hoje o quadro já não foi mais tão leve. Estava com soro, alimentação pelo focinho e usava um colar Elizabetano para que ela não tentasse tirar os tubos como vinha fazendo.
          Já não é mais ela que meus olhos veem e sim uma Highlander, como bem disse a dra Katiane.
Falo mais uma vez para ela do meu amor que será incondicional ainda que ela não suporte mais as dores e queira ir.
         A letra da musica diz não ver anjos esperando por ele e choro pedindo a Deus que ela não sinta o abandono que a letra fala quando não estamos por lá. 
          Marina diz que quando ela se for não vai mais querer se apegar a cãozinho algum. Pergunto... Mas e os dez anos que ela nos trouxe tanta alegria e docilidade? Não valeram?
Valeram sim. E muito. Temos medo da perda. E sabemos que a dor dela é maior que a nossa pois é fisica, emocional e apavorante.
Peço a Deus que a passagem dela seja indolor e que ela se vá sentindo todo o amor que ela mereceu e merece em seu coraçãozinho.
          Que os anjos a recebam . Ximbica, nossa highlander.

Dois dias depois

Na sexta feira uma parada respiratória levou Ximbica de nós.
Foi um dia triste " pra cachorro"!!!
Pela manhã Marina foi ve-la e ela brincou um pouco. Deitou a cabeça na perna de Marina e ouviu desta que se ela estivesse cansada demais podia ir desde que fosse se sentindo amada.
havia uma possibilidade que ela viesse para casa no final de semana. Mais tarde fui ve-la com o Wilson e ela ainda respondeu um pouco a nossos afetos. Muito pouco. A tarde uma nova radiografia descartou a possibilidade de vir para o final de semana.
Diseram-nos que ela andou pela clinica livre dos tubos, fez coco, se alimentou e foi brincar de cavucar o chão, como sempre fazia.
E brincando.........
Penso que ela teve na visita de Marina a visita do anjo que eu pedi acima. Marina foi a pessoa que ela mais amou depois de mamãe.
Tanto com mamãe como com Marina ela conversava com o olhar.
Amanhã, dia 30 de Maio será cremada no Paraíso Animal.
Afinal..... os Highlanders costumavam ser cremados.
Preciso acreditar que a estas horas ela está feliz e sem dor embora  não possamos testemunhar o fato.
O sentimento que me vem é de desolação por não poder abraçar o inabraçável.
Como diz a musica.... to touch the untouchable sky.

     

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Fico pensando se é valido

          Não me cabe o papel de rabugenta, mas escrevo para inquietar, fazer pensar. Fazer o que se acredito no recurso???
          É sabido que a sociedade e a mídia projetam papéis algumas vezes nada verossímil à vida nossa de cada dia. E sabe-se também o quanto nós, os manipulados, nos esforçamos para nos adequarmos a imagem tão bem trabalhada(?!?)
          Observando outdoors e publicidades em revistas percebo claramente a que público se dirigem os mesmos.
           Falemos por exemplo da Terceira idade. Me recuso a chamá-la de Melhor idade. Me parece deboche ou premio consolação. Tendo a longevidade e a qualidade de vida aumentado (para alguns) graças à ciência e a comportamentos adquiridos nos últimos tempos o que vemos nos outdoors de planos de saúde, títulos de turismo ou implantes dentários são casais bonitos que aparentam realização ,saúde e paz de espírito de fazer inveja. Verossímil ou não me passam um sentimento legal. Tipo: É ... to chegando lá, mas não parece tão mal.
          O mesmo acontece com a imagem de quem está almejando a compra da casa própria  Geralmente casais jovens com filhos nos ombros em meio a uma natureza verdejante gargalhando de felicidade.
          Os dirigidos às mulheres entre 30 e 40 anos exibem mulheres poderosas, bem sucedidas na profissão empunhando bolsas como as das executivas Nova Yorkinas ou  sexualmente resolvidas haja visto os beicinhos ou olhares que traduzem prazer.  Geralmente... dressed to kill.
          O que me incomoda e entristece é ver as fotos que se dirigem aos mais jovens. Aqueles entre 16 e 22 (?) Mais ou menos. Estes que, via de regra, seriam os que poderiam exibir melhor saude e  alegria de viver nos aparecem com um olhar ora distante ora perplexo, frustrante e vazio, indiferente e alienado.  Sofridos enfim.
 Fico pensando.... ora que público tão desesperançado é este? Logo o mais jovem? Impossível. Penso nas minhas netas  brincando cheias de vida. O que acontece com a pós infância hoje em dia? Como educadora compreendo que é uma fase difícil para o adolescente, mas desesperança e alienação me incomodam . Muito. A ponto de me fazerem escrever um pouco.
           Me parece uma forçação de barra. Puxa vida! E se de tanto vermos tais imagens nos convencermos desta realidade doente?
           Sei não. Me lembro de , quando adolescente, haver uma propaganda de um tennis que tinha como refrão...." Pise firme que este chão é seu!". Ouvir aquele refrão me passava uma fé e uma força difícil de serem encontradas hoje. 
Uma pena!  para dizer o mínimo.?
Fazer o que?
Que tal começarmos a pensar um pouco?
Só uma sugestão. Rabugenta para muitos.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Onde tudo acaba em festa

          Nasci numa família festeira que gosta do"Chame gente". Logo, desde sempre convivi com pessoas de idades variadas em festas seja onde fossem. Alguém ia viajar a gente fazia um bota fora.
          Minha avó tinha uma tal de uma feijoada que ela chamava de Feijoada do seu Peru onde os dez amigos mais intimos não perdiam. A feijoada era itinerante, mas algumas vezes foi na nossa casa. Era um bando de velhos fantasiados com as mais diversas fantasias. Pedrita, Pierrot, Melindrosa e Palhacos se espalhavam no nosso jardim.
Uma das amigas da minha avó era muito criativa e inventava as próprias fantasias. Uma vez se vestiu de "Quem quer casar com dona Baratinha que tem dinheiro na caixinha". Vale ressaltar que ela esperava encontrar um namorado e creio que na caixinha dela tinha mesmo dinheiro. Uma piada! Ela tinha uma neta dois anos mais velha do que eu, a Manu.
          Minha dinda quando precisava levantar uma grana cozinhava para as pessoas. Assim... mesmo se não fosse aniversário de ninguém de vez em quando aparecia um grupo para comer da comida dela e, é claro, virava uma festa.
          Minha mãe gostava de festa com garçon. Quem não gosta, né mesmo? Muito bem. Meu avô Negão foi do Exercito e tinha trabalhado com um garçon competente à beça chamado, nada mais nada menos, que Jesus.
A primeira vez que ele foi a nossa casa quando tocou a campainha minha avó disse... Deve ser o Jesus! ao que eu perguntei... Mas ele não morreu e está no céu? Eu tinha cinco anos e meus pais tentavam incutir um pouco de religiosidade na gente.
Mas, voltando ao Jesus, este foi o primeiro homem que me serviu um drink socialmente. Ele estava servindo as pessoas e estendeu a bandeja para mim com um copinho servido de suco ( minha mãe não me deixava beber coca cola alegando pouca idade) e um guardanapinho dobrado como um triangulo que eu me peguei surpresa , mas que me envaideceu muito. Me senti adulta. Ameeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeei!
          Nas festas de natal meu pai, magro e sarado, se vestia de Papai Noel e colocava uns óculos escuros para tentar se esconder para que nós não o reconhecesemos. Me nego a crer que fosse uma versão tropical do Santa! Mas o mais animado do natal era o amigo oculto. Muito riso. Voce escolhia um presente e se não gostasse roubava um de alguem que já tivesse pego antes de voce. O que resultava em sorte para uns e azar para tantos outros.
Na Páscoa a gente procurava pelo coelhinho, mas ele nunca foi visto. Só os ovos ( não se pode ter tudo!). Dizem que os coelhos correm muito!!!
Na noite de Ano Novo tinha uma história de que um velhinho iria se despedir e iria chegar um bebe. Nenhum dos dois conseguiu chegar a minha casa uma vez se quer.
Chá de panela, chá de fralda, chá de casa nova.... Chá mesmo, a bebida, ninguem tomava. Mas era uma festa!!!
Minha madrinha aos trinta anos comemorou seu aniversário num restaurante. Os convidados foram fantasiados. Já a minha avó comemorou um de seus aniversários numa pousada. Mas não pareceu festa. Não como a gente estava acostumado.
Nas festas minha mãe caprichava na aparencia das empregadas. E teve até um ano que a babá se fantasiou numa das feijoadas da minha avó. E a Lilia ou a Luciana colocavam umas perucas da minha avó.
Dizem que aqui no Brasil tudo acaba em Pizza. É uma maneira de dizer que por maior que seja o problema o povo esquece comendo Pizza, o que mostra que o brasileiro tem fé na vida. 
Eu diria que na minha familia tudo acaba em comemoração. E, como a familia é grande acaba em festa.
É isso!!!
PS: Este texto é um rascunho de uma  provavel futura conversa. Ou ... não. Talvez nunca aconteça ou aconteça de maneira diferente. Tentei imaginar uma de minhas netas falando sobre suas infancias festivas.
Tim Tim!!!