domingo, 31 de outubro de 2010

The answer my friend

Incrível como a dor pode nos aproximar.
Nos fazer estagiar em várias tribos.
Buscar respostas e compartilhá las em emails.
Beber até cair ou virar vegetariano ou Budista.
Querer ir a Machu Picchu ou à Califórnia.
Buscar respostas fora de nós, lá na Índia, como no filme comer rezar e amar.
Ou  ousar vasculhar-se até acha-las  dentro de nós,
como propoe Roberto no poema de Gasparetto.
O ser humano é inquieto e se questiona.
Posso ouvir Bob Dylan, Janis Joplin ou Joan Baez
How many roads must a man  walk down
before they call him a man?
How many years can a mountain exist?
before it's washed to the seas?
Seguir questionando e ter como resposta o próximo verso
The answer , my friend, is blowing in the wind
The answer is blowing in the wind.

Assegurar-se no inesperado

Então eu estou aqui                                                
e você também
Me permita ser o seu espelho esta noite
E cantar em mim o teu encanto,
tua estranheza e teu espanto
Como quem sabe que no fundo
que não há distância neste mundo,
pois somos uma só alma
Me permita ser esta noite
a voz que te canta e se encanta de ti
Que te faz sentir-se e parar,
como quem volta pra casa
e resolve se amar
Somos livres e não possuímos as pessoas
Temos apenas o amor por elas e nada mais
É preciso ter coragem para ser o que somos
Sustentar uma chama no corpo,
sem deixar a luz se apagar
É preciso recomeçar no caminho que vai para dentro,
vencendo o medo imaginado,
assegurar-se no inesperado,
confiando no invisível,
desprezando o perecível,
na busca de si mesmo
Ser o capitão de nossa nau
E no mais terrível vendaval
Na conquista de um novo mundo
mergulhar bem no fundo
para encontrar nosso ser real
E rir, pois tudo é brincadeira
Que cada drama é apenas o nosso modo de ver
Por que a vida só está nos mostrando
aquilo que nós mesmos estamos criando
com nosso poder de crer.
(Luiz Antônio A.Gasparetto)
Texto enviado para Marina por Roberto Ramos, um amigo especial do Maranhão.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

E se eu...

E se eu voltasse a ter cinco anos...iria estar com os ciganos mais vezes? Chupar uvas com o Mauricinho e deixar lhes generosamente as cascas?
E se eu tivesse dez anos novamente atravessaria a Quinta da Boa Vista com meu irmão e meus colegas provocando os casais de namorados? Será? Será que o Astor carregaria novamente a minha pasta escolar, não sou do tempo da monhila, para que eu corresse das situações difíceis que nos colocavamos?
E se aos doze me visse novamente nas aulas de canto, será que eu voltaria a desafinar o orgão do Miserinha?
Será que entraria na furada do Jayme em Paquetá?
E se tivesse novamente dezoito...Faria  outra vez aquela permanente nos cabelos para me sentir inserida no movimento Tropicália?
E se eu voltasse a ter vinte e oito será que eu tentaria o terceiro filho?
E se aos trinta eu abrisse mão de viajar sem as meninas e morar no exterior tres meses sem elas?
E se eu voltasse a ter trinta e sete... pediria para ele ficar?
E se eu tivesse novamente quarenta e sete encararia a relação com o Negão? Me casaria aos cinquenta novamente?
E se eu tivesse me mudado para a casa?
E se eu acordasse e percebesse que fora um sonho, tentaria dormir de novo para que o sonho continuasse?
Penso que sim. Fecharia os olhos bem depressa e tentaria voltar ao sonho. Poder visualizar tudo outra vez ao vivo e a cores. Cada detalhe, cada música de fundo... Downtown, San Francisco, Sem lenço e sem documento, California dreaming, Sacrifice, Enya, Kitaro....
E se eu conseguisse trazer o sonho pro dia a dia.
E se eu não tivesse curtido tanto?
E se eu ainda não quiser vestir o chinelinho?
E se eu quiser voltar a ser gente?
E se eu quiser ir pelas escadas?
E se eu quiser ir pelo elevador?
E se eu decidir comer menos salada e mais sorvete?
E se eu não abrir mão de viver?
E se eu discordar do absurdo?
E se eu não tivesse trocado de ideia?
E se eu tivesse mudado de vida
E se eu...
E se...
E...

domingo, 24 de outubro de 2010

Breakfast time

          Negão não devia, mas gosta de comer e come muito. Em casa a gente consegue segurar um pouco, mas viajando vira um furduncio gastronomico.O processo é muito louco. Se ele visualiza uma mesa farta começa a salivar. Ganha brilho nos olhos.
          Ora, os hotéis tem que tentar justificar o preço que cobram. Sendo assim uma das maneiras escolhidas é oferecer um café da manha bem completo para que o hóspede já comece o dia esquecendo o que pagou. Né não?
          Geralmente o Negão se serve de mais ou menos uns quinze itens do café da manha. Se for no Reino Unido então não abre mão das carnes, do feijão e dos ovos. Asim ele fez nesta ultima viagem com Bob e Concita. Atéque no quinto dia teriamos que tomar o café mais cedo porque iriamos fazer um passeio de barco e  teriamos que estar no Pier as dez horas.
           Nos despedimos de Bob e Concita no elevador, depois do jantar. Durmam bem! Amanha as oito! Entro na suite e ouço o Negão dizer que no dia seguinte ele iria tomar um café reforçado porque não sabia a hora que iriamos almoçar. No que eu pergunto: Como assim? O que voce tem feito desde o dia que saiu do Brasil tem sido dieta? ? ?      
          Porém, sempre há um porém, no terceiro hotel que ficamos o nosso pacote não incluia o British breakfast, mas o Continental. Lembrem se que o Continental é muito mais completo do que um café da manhã em nossas casas, mas o Negão entristeceu. Ficou com aquela cara de  cachorro que caiu do caminhão de mudança. ´
A energia de desapontamento chegou em mim, no Bob e na Concita. A guisa de estímulo nos forçamos a resignificar a  situação explicando para ele que o hotel era moderno, com ares de Spa e que os funcionários mostravam um enorme cuidado com a nossa saúde protegendo o nosso colesterol. Risos. Ele acalmou um pouco. Chegou até a concordar. Mas, e tem sempre um mas, ontem reviamos as fotos pela enésima vez e me surpreendi com o Negão dizendo que só tinha uma queixa da viagem. Ele não ter provado de um paozinho de chocolate que Edimburgo oferecia. Pode?
O nosso muitíssimo obrigada ao President London Hotel pelo cuidado e zelo por nossa saúde. Creio que posso falar pelos quatro. O hotel oferece café da manha digno de um Spa cinco estrelas sem cobrar extras por isso. 
Gente bacana! Negão que o diga. kkkkk

sábado, 23 de outubro de 2010

Over 55 ?

          Deixei de pintar meus cabelos. Parece que envelheci. Será? De repente as pessoas estão mais cuidadosas comigo. É claro que as vezes isto é ótimo. Pago meia no cinema, me dão o lugar numa sala de espera, etc... Mas daí a me olharem e me dizerem que eu devo ter sido muito bonita começa a incomodar.
          Recém chegada da Europa tenho que assumir que economicamente é legal ter os cabelos grisalhos. Tirei vantagem dos cabelos nos museus, galerias e restaurantes uma vez que os "over 55" tem certas regalias por lá.
Mas é duro viver num país onde a maioria ainda pinta os cabelos. Hoje fui ao cinema. Compramos duas meias. A mocinha legal ou realista(?) não me pede mais identidade. O duro foi ouvir do porteiro do cinema que a sala tinha elevador! Gente eram só dois lances de mais ou menos dez degraus cada para chegar na sala 8. Olho pro negão, pisco e respondo ao rapaz: "Valeu, mas tudo bem com as escadas".
          Passar pelo Conic? Nem pensar! Gente demais me oferecendo empréstimos miraculosos. Se ainda pintasse os cabelos talvez não me abordassem. Quer dizer estou focando os cabelos grisalhos porque sou otimista e prefiro acreditar que meu rosto ainda não denuncia   mais do que meus 55. Ou denuncia?
É difícil ser grisalha antes dos setenta. Voce ainda não se sente velha mas as pessoas te veem assim. Fazer o que?
Semana passada fomos ao cinema. Compramos os ingressos e fomos ao cafezinho ao lado. Neste meio tempo o Negão perdeu um dos ingressos. Voltamos ao guiche e explicamos o fato. Não tivemos que comprar outro. A moça foi super simpática gritou de lá para a moça que recolhe os ingressos. "Deixar  o casal de idosos entrar. Tudo certo!" É mole? Idosa é" la santa madressita que te ha parido", pensei eu. Não que seja uma doença envelhecer, mas "idosa"? Menos!!!
Voltando ao cinema de hoje, quando saímos encotramos uma amiga "dos velhos tempos" com a filha. Uma alegria tão grande tomou conta de mim que eu diria que ganhei o dia não fosse o embaraço do qual me vi tomada quando quis perguntar pelo marido, pelo filho, pelo pai e senti medo. Medo do pai já ter morrido e o marido infartado ou separado. Tenho o raciocínio rápido e engatilhei um " Como vão todos?" e ouvi que o marido estava bem, o pai ainda vivia e o filho havia casado. Ufa!
          Outro dia, numa loja de calçados, buscava algo baixo, confortável. Trabalhei trinta anos no salto, pra mim deu. Agora posso usar os mais baixos. A mocinha num tamanco de deixar Carmem Miranda com inveja insiste em trazer sapatos altos. Explico que agora que aposentei quero estar de férias, à vontade; não adianta, escuto a seguinte pérola: " Ah mas não é porque aposentou que vai andar relaxada". Negão, meu fiel escudeiro, me puxa para fora da loja tentando me poupar. Ou poupar a moça. Ele me conhece e percebe que sai da loja com a boca cheia de palavras. Com ar de relaxada tava ela com aquele tamanco vulgar. Oh coisa feia o tal do tamanco! E quanto mais alto, pior. Belem belem nunca mais eu to de bem. Negão, me leva embora daqui agora, please! Faz de conta que eu nunca entrei nesta espelunca!!!
          Convivo com algumas pessoas que, embora tenham a minha idade ou mais insistem em me saudar com um -"Como vai a senhora?" Come on, pega leve!"
 Graças à Deus ainda tem muita gente que me trata por Angela. Minha massagista, alguns lojistas, colegas da Bio, amigos das minhas filhas...
          Embora tenha nascido na década de cinquenta nunca chamei minha mãe ou minha avó de senhora, gesto comum na época. O respeito que sentia por minha avó, minhas tias, minha sogra e minhas professoras  universitárias estavam muito além de um pronome de tratamento.
          Dia desses bia tentava me convencer a fazer psicologia. Me lembrei de Vera, minha amiga irmã que resolveu voltar para a faculdade e se surpreendeu quando no primeiro trabalho de grupo percebeu as colegas chamando a de tia. Vera é bastante assertiva e bastou uma reuniãozinha para mostrar as colegas que não era por aí.
          Ana Marta conta que quando estudava artes  no Dulcina se surpreendia com algumas colegas dizendo ser  estranho ter  uma colega com a idade das mães delas. Mas não é de dar preguiça uma maldição destas?
          Reconheço que o tema é complexo. Uma coisa é perceber o guardador de carros me chamando de colega e não gostar. Que me lembre não fiz faculdade ou trabalhei com ele. Outra coisa é ouvir o meu porteiro me chamar de Dona Angela. Acho legal.
          Faço aqui um apelo aos  que perambulam por este blog. Quando estiverem em dúvida se me tratam por voce ou por senhora lembrem se que senhora tá no céu! Gosto de ser tratada pelo meu nome, Angela, ou por voce. Do mais a mais, como diz a Ana "nunca fui santa", pra que tanto "respeito", tanta mesura ? Prefiro que repeitem  minhas ideias, opiniões e atitudes, nem sempre comuns.
 Me sentirei  mais inserida, seja lá no que for.
P.S.  Envelheço e, ocultamente, resplandeço! ( Affonso Romano de Santana)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O sagrado e o profano

                                                                            
       sou uma pessoa que gosta de pensar e de convocar sua tribo a pensar junto. Assim sendo gostei muito de ir ao vernissage das minhas amigas Ana Marta e Francisca Caravellas.
          A primeira expos o profano. Já a segunda expos o sagrado. Ambas com maestria. Belo trabalho. Trabalho interessante e ousado o de juntar essas duas extremidades que permeiam nossas vidas. Bonito também porque nos tira da zona do conforto e nos faz pensar.
          Me pego imaginando como Ana teve que lançar mão de sua parte sagrada, para trabalhar o profano com tanta competencia. Estes últimos dias  percebi  a trabalhando com dedicação "sagrada".
Já  Francisca mostrou no seu discurso ser adepta incondicional do sagrado. Coerentes, ambas, nas suas escolhas se dedicaram a dar o melhor de si mesmas ao mundo da arte.
          Geralmente  fazemos nossas escolhas a partir de um contraponto. Não terá a nossa Francisca tido que encarar o profano para optar pelo sagrado? Só posso optar pela luz depois de ter vivenciado a escuridão, e vice versa.
          Hoje profano, amanha sagrado. Corpo e alma  integrados  seguimos experimentando as dualidades que a vida  propõe. Nossa alma usando nosso corpo para se expressar.
          Parabéns Ana, parabéns Francisca pela coragem, pela parceria, pelo respeito, pela maturidade e determinação que mostraram com o trabalo. Quero ser como voces quando crescer.
A quem interessar possa a exposição estará até o dia  30 de outubro no espaço Ary Barroso do SESC de Brasília na 504Sul. Vale conferir!

domingo, 17 de outubro de 2010

O portal

Ela dizia. No sonho ela dizia_ " Mais dois passos e ela passa pelo portal". Dúvida, medo, incredulidade, fé...
Do mais era cansaço. Das noites mal dormidas. Da ansiedade que nos rouba a alegria de viver. Da incerteza. Do vazio.
Do mais era a dor do parto ( verbo partir, primeira pessoa do singular, presente do indicativo) e, também do parto (atitude de expelir alguém de dentro de si mesma com  dores e ais).
Do mais era a tristeza, a solidão rondando o coração, a frustração gerada pelo desamor.
Do mais era a eperança de tudo se arranjar, de não ter sido em vão.
Do mais era aprendizado. Maturidade. Desafio. Desabafo.
Havia o sonho, um talvez, um vamos lá, uma promessa.
E era tão pouco. Dois passos...Motivação para continuar. Sombra e luz.
 Preciso conseguir. Mover me com  alma. Por minha criança no altar. Dois passos e alcanço. 
A prece. A praia. A vontade. Seja feita a tua vontade,Pai. Deixar morrer para renascer. Cruzar o portal.  
Silencio...Terei alcançado?
Vazio... Tábula rasa...Sinais vitais...
Ergo a criança do colo na entrega de um abraço. Aceitação. Calmaria.
A mim  me observo, gestação e construção de mim mesma.
Segue a vida, segue a marcha, o chame gente. Não estou só. Engatinho, experimento passos, ouso caminhar.
 Coração em paz. Uma paz profunda. A paz que vem de  não ter desistido de mim.
Algo me chega aos ouvidos. " O Buda..."
Eu sei.  Sempre soube...Não to só. Tenho a mim.
E sou muitas... Posso ve-las, olhos marejados de emoção.
Pilares da  minha existencia.
Faces de minha construção.
Eu.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

"Pai, me ajuda a olhar"

          Recebo um email de Bia falando sobre a relação pais e filhos. Respondo o email dizendo que muito da confusão que esta relação se tornou nos últimos tempos acontece porque os adultos confundem as palavras autoridade com autoritarismo.Ninguém quer posar de autoritário, mas  e quanto a exercer sua autoridade? Que tal tentar, pelo menos?
          "Pai, me ajuda a olhar!" pediu um menino de quatro anos ao pai, quando este pela primeira vez o levou para ver o mar. Como diz Lya Luft "esse episódio, quase cena de filme, é um dos mais emblemáticos que conheço para nos referirmos à autoridade necessária para cuidar e orientar, também ensinar".
          Muitas vezes trocando ideia com Marina percebo que o que ela me pede, embora nas entrelinhas, nada mais é que eu a ajude a olhar. Olhar a situação. Olhar no sentido de  postar os olhos com atenção sobre algo ou alguém para então aprender, compreender, formar um julgamento, uma opinião.
Ora para se ajudar a olhar precisa-se ter autoridade. Não falo de uma autoridade comprada na feira das vaidades,de um posto ou um cargo, experiencia passageira. Falo da autoridade de quem já viveu um pouco mais. Os pais, muito mais do que o cara legal, devem ser alguém a quem vc recorrerá para ter uma boa escuta, e uma boa palavra. Isso ajudará a olhar não só o grande oceano que é a vida como também os próprios limites, o que os fará, no mínimo mais humildes. É claro que a vida segue e um dia serão estes filhos que estarão ajudando os menores a olhar oceanos futuros.
          Se abrirmos mão da complexidade  do raciocínio adulto e analisarmos a situação com os olhos da simplicidade, concordaremos que um adulto, por ser mais alto que uma criança, terá uma visão de maior alcance que esta.
          Nossa missão ou papel mais importante  talvez seja este de emprestar nossos olhos aos filhos, amigos e familiares sempre que solicitados; ou não. Olhar junto uma situação promove a parceria, a escuta, o diálogo, a troca, a relação.
          Quantas vezes estive insegura quanto ao que olhava mas não pedi ajuda porque entendia que se o fizesse estaria passando recibo de "menos sábia" (será?). Enquanto posava de Deus em atitudes como esta deixei de crescer na minha humanidade. Encolhi porque restringi a experiencia a uma só ótica. Perdi o bonde que é poder trocar e sair acrescida, amplificada, expandida.
           Quanto a autoridade penso que deveria ser a última coisa a ser  evitada por nós que queremos parecer modernos; afinal precisamos de pai e mãe até quando adultos, não é mesmo? Ao longo da vida entendi a autoridade toda vez que cedi o meu lugar no onibus a uma senhora, toda vez que cuidei dos meus cadernos e toda vez que prendi o riso numa hora imprópria. Atitudes que fizeram da criança a mãe da mulher que sou hoje. Sou professora, embora aposentada. Me nego a dize-lo no pretérito, assim como me nego a considerar-me ex aluna de qualquer coisa. Sou aprendiz da vida. Isto sim. A vida é construção. E  uma andorinha só, não faz verão! Olhemos juntos, pois. Você me ajuda?
          

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Por que o frango atravessou a estrada? Filosofando...

     

Algumas respostas:

PROFESORA PRIMÁRIA: Porque queria chegar do outro lado da estrada.
POLIANA: Porque estava feliz.
FAZENDEIRO: Por causa que arguem deixou a porta do galinheiro aberta.
PLATÃO: Porque buscava alcançar o Bem.
ARISTÓTELES: É da natureza dos frangos cruzar a estrada.
MOISÉS: Uma voz vinda do céu bradou ao frango: cruza a estrada. E o frango cruzou a estrada e todos se regozijaram.
MARTIN LUTHER KING: Eu tive um sonho. Vi um mundo no qual todos os frangos serão livres para cruzar a estrada sem que sejam questionados seus motivos.
MAQUIAVEL: O frango cruzou a estrada. A quem importa o porque? Estabelecido o fim de cruzar a estrada, é irrelevante discutir os meios que utilizou para isso.
FREUD: A preocupação com o fato de o frango ter cruzado a estrada é um sintoma de sua insegurança sexual.
EINSTEIN: Se o frango cruzou a estrada ou a estrada se moveu sob o frango, depende do ponto de vista.
HEMINGWAY: "To die. Alone. In the rain."
SARTRE: Trata-se de mera faticidade. A existência do frango está em sua liberdade de cruzar a estrada.
PINOCHET: El se fué, pero tengo muchos penachos de el en mi mano!
ACM: Estava tentando fugir, mas já tenho um dossiê pronto comprovando que aquele frango pertence a Jorge Amado. Quem o pegar vai ter que se ver comigo.
NIETZSCHE: Ele deseja superar a sua condição de frango para tornar-se um superfrango.
SÓCRATES: Tudo que sei é que nada sei.
PARMENIDES: O frango não atravessou a estrada porque não podia mover-se. O movimento não existe.
GILBERTO GIL: Essa coisa do frango que atravessa algo nos remete à questão do almoço dominical que mainha preparava na minha infância. Tem algo a ver com a baianidade da menina malemolente atrás do frango. Por outro lado essa coisa da estrada é de uma anterioridade que se firmou numa canção que fiz com o Caetano, na casa de Pepeu, lá no Pelo.
JOÃO GILBERTO: Ah, insensatez...
SURFISTA: O bicho atravessou, cara. Bicho manêro, aí. Demaaaaais... Só.
(Resenha de material tirado do Google)

Passports, please!


                                                                                  
          Não impina, não. Vai como os outros! Diziam os antigos. Em se tratando de viagens, não dou conta. Preciso ir além do que o turismo vende. Graças a Deus! Assim não fosse não teria chegado a Evora em Portugal, Santiago de Compostela na Espanha, Notting Hill com sua adorável Portobello Road em Londres e a deliciosa Inverness, vizinha de Aberdeen na Escócia.
          É claro que é lovable viajar e ver tudo que o turismo nos reserva nas grandes capitais. Percorrer as ruas de Lisboa e ver o quanto aquele povo sabe ser cortes e querido. Fotografar cada monumento nas esquinas de Madri. Ficar de queixo baixo com a cidadania do povo de Edimburgo. Testemunhar o mal gosto do inglês de Londres... Mas é claro que Cancun dá de dez na Cidade do Mexico, assim como    Inverness nos tira o fôlego com  seu misterioso Loch Ness , suas belas casinhas de muros baixos e seus Bed and Breakfasts. Notting Hill é um paraíso a parte da grande Londres. Portobello Road é qualquer coisa “out of this world”. Com seu flea market cheio de intelectuais barganhando,  por exemplo um pôster de Bonequinha de Luxo; suas casas vitorianas e suas calçadas largas, seus cafés italianos e seus jardins nos remetem a um tempo em que a vida humana era considerada mercadoria de luxo. Saudades...
          Inverness, a capital das Highlands, nos abre um cenário de filme onde a principal característica é o feeling que se instala de que “a vida está em ordem”. Nós, brasileiros que convivemos com o caos nosso de cada dia  quedamo nos mexidos e melancólicos. Bate uma  admiração meio que inveja da dignidade daquele povo que não é brinquedo!
          Santiago nos ensina a humildade e o acolhimento que os peregrinos merecem depois da caminhada de 800 kms. Sua catedral é minha favorita pela acolhida que nos reserva na missa do meio dia. Diferente de Westminster Abbey  espetacular por sua pompa e circunstancia.
          Costumo dizer que tenho dois momentos de prazer quando viajo. Um quando saio com o coração cheio de expectativas. E outro quando estou voltando para a santa terrinha que é meu berço, minha origem e minha casa. Gente, como é bom voltar para casa!!! Chegada a poucos dias do Reino Unido, na véspera  do regresso já queria estar voltando cheia de saudades das netas, das filhas e dos gramados da cidade que escolhi pra viver. Amo o meu Rio de Janeiro incondicionalmente, mas a vida me trouxe para Brasilia onde tenho vivido com a qualidade de vida, que acredito merecer.
          Fotografa daqui, filma dali, monumentos e cidades em pano de fundo e nós, brasileiros corajosos e irreverentes, como figuras sorridentes ou chorosas. Sim. Porque quando se está feliz também se chora. E muito...
          Me vem à mente quatro brasileiros (Wilson, Concita, Bob e eu) num trem de Inverness para Edimburgo. Em frente a mim e Wilson um simpático casal de escoceses me pergunta se tenho algum problema. Digo que não e explico que choro por deixar Inverness, me perguntam de onde venho . Respondo que venho do Brasil e começo a sorrir como quem se orgulhosa por conhecer a fama do povo brasileiro de ser alegre. Como não se-lo se temos praia, carnaval, futebol e samba no pé? São três dias de folia e brincadeira para tudo se acabar na quarta feira...      
            Mas como "sempre não é todo dia", me pego ora assistindo ora protagonizando crises e aflições. Mas, na maioria das vezes, tenho a sorte de assisti-las saboreando uma pizza no Fratello. Por que não? É nosso jeito de ser. Nós, brasileiros, somos assim.. Nossa alma é forte o suficiente para acreditar que as coisas se arranjam. Com o tempo elas se arranjam. E quem sabe a gente sai pelo mundo viajando outra vez.
           Mil vezes amém digo a mim mesma cada vez que ouso ir um pouco além do comum. Amém cada vez que  não "vou como os outros". Algumas vezes na vida há que se impinar e ser feliz a nosso bel prazer. Amém!!!

                                                                                                                                                              

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

226 Grajaú - Largo da Carioca

          Moça do Grajaú. Não precisa dizer mais nada. Aos dezoito anos havia começado a trabalhar e honrar seus compromissos. Levantava-se cedo e encarava o ônibus lotado para às oito horas estar na repartição. O Rio de Janeiro ainda não tinha metrô. Trajava um terninho que era seu uniforme. De pé do Grajaú ao Largo da Carioca de segunda a sexta não tinha graça alguma, assim como não tinha graça alguma os engraçadinhos que se aproveitavam das moças que não conseguiam um lugar para sentar e aproveitavam para tirar uma casquinha.
          Num dos ombros a bolsa à tira a colo. No outro o cansaço de ir segurando lá em cima tentando um equilíbrio perdido. Muitas vezes se tirasse o pé do chão seguia com ele no ar. Impossível tentar recolocá-lo no chão. Vou numa perna só, pensava. Pelo menos não perdi o ônibus.
          Checa a mão no alto e sente falta de seu relógio de pulso. Presente de quinze anos presente de sua avó. Olha de soslaio e percebe que o bonitão que se dava bem às suas costas era um negão. Não quer escândalos. Vira-se discretamente e diz. Devolve meu relógio. Como? Pergunta o negão. Põe o relógio na minha bolsa quietinho, seu palhaço!
          Com parte da dignidade recuperada segue tranqüila até a esquina da Presidente Vargas com a Rio Branco. Desce. Sacode os ombros para que o blazer volte a cair naturalmente. Surpresa! Seu relógio está no pulso. Era um seiko dos pequenos, daqueles que a correia abre à toa. Aliviada imagina que o mesmo havia escorregado para o cotovelo e estivera oculto pela manga do blazer.
            Minha carteira?! Pensa imaginando ter sido vingada por sua insolência. Olha dentro da bolsa e percebe algo brilhando. Confusa remexe um pouco e dá de cara com o enorme relógio masculino. Oops! Constrangida percebe ter assaltado o negão!
           Tenta uma saída. O ônibus já vai longe. Esperançosa pensa na oportunidade de reencontrar o sujeito. Em vão segue buscando-o dia após dia no ônibus. Mas o pobre homem segue perdendo a hora até perder o emprego e quiçá a vontade de se encostar em outra no futuro. Não numa moça do Grajaú! Cidade grande tem cada uma!!!