sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Um varal de cachorros

          E porque já escrevi sobre a Menina, o Tixo e a Ximbica, e não quero ser injusta me pego escrevendo sobre os cacchorros que já tive. Foram muitos.
          Miss, a que ria e mordia todos que fossem na nossa casa. A princípio recebia sorrindo, quando a pessoa virava de costas ela mordia. Mesmo. Foi numa dessas que ela arrancou o veu de uma freira que foi lá em casa. Mamãe sempre lembrava de como a freira rapidamente o recolocou. Tão rápido que nos frustrou, uma vez que não deu nem tempo de ver se ela era careca ou não. A dúvida continua. Serão as freiras carecas?
          Playboy, o mais inteligente de todos. Dócil, amigo, fanfarrão e amante de Angela. Acreditem se quiser, mas Playboy abria o portão. Me levava e me buscava no ponto de onibus para  a escola. O Miserinha. Ligava o ventilador e tinha mais filhos dele no Grajaú do que  de qualquer outro.
          Cotão e Graninha, dois pastores alemães que , segundo a mamãe cantavam ópera. Meus pais ouviam óperas nos finais de semana e eles dois uivavam muito. Também uivavam quando alguém morria. Era uma questão de uma ou duas horas e passava um cortejo fúnebre em frente da nossa casa.
          Reise e Chueca, duas foxes do balacobaco!
          Fafá, a amiga inesquecível.
          Polo e Lua, branquinhos e peludos a correr atrás das bolas que mano arremessava.
          Shakti do mano.
          Snoopy, o cão mal humorado mas lindo que era do meu pai em Itaipava.
          Snoopy, again, do meu irmão e da minha mãe em Itaipava. Um malandro. Fugia e ia para a casa da Fátima, nossa vizinha e amiga. A mãe dele era dela. Freud explicaria...
          Mulata Bossa Nova, a mais linda que tivemos. Seu nome era Susie, mas eu mudei. Ela parecia uma mulata de olhos verdes. Era amiga e pura candura. Enorme no tamanho e na meiguice. Me arrependo de te-la dado quando mamãe faleceu. Coisas de ordem prática. Uma pena!
          Arikanduva levou uma tamancada da Pat, com sua eterna TPM e, antes que se tornasse rotina, Marina deu para Carlos, o nosso porteiro da noite.
          E, Max José. Um pincher preto e manco. Querido até dizer chega. Entende meus gestos e se comunica comigo pelo olhar. Assim com o Tixo já viajou bastante com a gente de carro. Um doce! Late estridente  e forte, sem sair debaixo da coberta.
          Hans,o de  nome alemão, porque era do meu biso Johannes. O vovô João. Pai de Emília, là em Campo Grande. Um perdigueiro. A sombra do meu biso. Onde ele estivesse Hans estaria atrás. Sempre.
         Cachorro vai, cachorro vem a gente vai tentando entender o que seria das nossas vidas sem estes entes que só amor sabem nos transmitir.São alegres e incansáveis no amor aos donos. Acho que Deus mandou os cães para que nós, humanos, aprendessemos com eles o amor incondicional. Ou, para que um fotógrafo muito especial tivesse a idéia de fotografá-los num varal...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Por que Tixo?

           Tenho um cachorro em sociedade com a Bia. Um fox paulistinha. É! Aquele da propaganda da Skol! Para quem não conhece os foxes são uma graça. Na  casa dos outros. Digo que temos uma sociedade porque depois de Tixo ter comido tres cortinas, danificado dois tapetes e furado meu sofá favorito eu cheguei a conclusão que um fox não é cachorro de apartamento, o que lhe rendeu um belo de um upgrade uma vez que foi morar com Bia no Lago Sul. (Confira clicando na foto).
           Tixo José é irmão da Ximbica Maria a cachorrinha que era de mamãe em Itaipava e que agora reside com Marina em Brasília. Enquanto Ximbica é uma lady Tixo é um bad boy. A raça não é facil.
          Eu poderia escrever um livro apenas com as peripécias de Tixo em nossas viagens.  Por exemplo quando ele foi flagrado  num quarto de hotel em Itatiaia em cima da cama  lambendo a cara de um senhor pra lá de bebado e que, graças a Deus dormia sono tão profundo devido ao alto grau etilico que no dia seguinte, enquanto Tixo se aliviava no jadim,  lhe fez uma festa generosa com um sonoro " Bom dia, companheiro"! O poder que a cachaça tem de fazer amigos!
          Mas venho desta vez falar do nome Tixo. O nome vem da lembrança de Bia quando criança perguntando " ti ixo"? cada vez que queria perguntar-me " O que é isso"?
          Muita gente não entende bem quando dizemos o nome dele. Vai daí que tem gente que o chama de Tico, tem gente que o chama de Tisco e tem gente mais sofisticada, como o Luiz Alberto, um amigo nosso muito querido,  que uma vez enviando uma mensagem para a Bia escreveu Tyshu. Lembro me de pensar no momento que Tyshu Vysnu teria lhe caído muito bem, embora um pouco "caminho das índias" demais !
          De uma outra vez estávamos em  Ubatuba na casa de uma prima e o malandrete sumiu pela cidade; o que nos rendeu hora e meia de procura debaixo de um temporal de verão até ser localizado na varanda de uma casa  abrigando-se da chuva.
          Teve a vez que,  passando férias em Florianópolis, foi a praia conosco e entre um mergulho e outro não o vi na areia. Perguntado pelo paradeiro de  Tixo Wilson respondeu te-lo visto momentos antes trocando cheiradas com um São Bernardo, o que me deixou orgulhosa da educação que estávamos  lhe dando, uma vez que escolhia bem suas amizades.
           Angustiada e já chorando sigo perambulando pelas ruas perto da praia procurando e o encontro com outros quatro cachorros de rua, daqueles cheios de perebas nas orelhas, olhando uma destas televisões de assar frango tão comuns em padarias. Me acalmo e nem acho ruim quando Wilson o repreende na frente de seus amigos de malandragem perguntando-lhe onde estava o São Bernardo  com quem brincava momentos antes nos deixando tão orgulhosos de suas escolhas.
          Gente! Tixo não é mole não. E olha que o Luiz havia nos avisado que o fox é um cachorro muito esperto e que seria capaz de seguir o dono sem guia. Só se for o que  ele teve quando criança. O nosso  nos arrasta igual o Marley do filme fazia com seu dono. E olha  que nem cachorro pirata da feira do Paraguai ele é! Prefiro acreditar no seu pedigree e imaginá-lo pau a pau com o do Luiz. E decidir que só não conseguiu ser treinado porque o adestrador era picareta e só estava interessado na  grana.
          Qual outra explicação para que ele levante a orelha cada vez que a gente dá o comando de "MORTO"!(?)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Heróis do cotidiano

           constrangimento, medo, raiva, sentimento de incapacidade,dúvida, frustração. Seguimos cumprindo a lida com a sensação de que algo está errado e, somos severos demais para nos perdoar caso erremos, caso falhemos, caso não sejamos bem-sucedidos.
           E se errarmos outra vez? Quem vai nos perdoar neste mundo onde o feio e o mal feito não cabem?
           Que peso é ter que "matar um leão por dia" para mantermos  nossa dignidade.
           Quem além da terapeuta poderá ouvir de nós que erramos, que amamos capenga, que não estendemos a mão pra o vizinho ou que não sabemos onde pusemos nossos sonhos?
          Sail on silver girl...Dizemos a nós mesmos todos os dias.
          Mas, de onde eu parto? Ou de onde eu continuo? Desistir é perder o bonde. Nem pensar!
          Filosóficamente falando somos heróis do cotidiano.
          E eu que achava que para ser herói eu precisava defender causas, fazer a historia do país, inventar uma vacina qualquer. Quiçá vestir capa, como a Mulher Maravilha!
          Ok, eu já entendi. Afinal, não é tão complexo. Ou é! Ser herói é conseguir ir tocando a vida, sem esmorecer. Ser herói do cotidiano. Uma aventura!
          Chegar ao fim do dia inteira já é um grande feito. O desafio! A missão!
          E contar comigo...
          Sail on silver girl...
          Será que consigo? Assim sem capa?
          Ufa! God bless me!
          Hoje e sempre!
          Tá doido!
      
         
         
         
  

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A carta





            Qerida amiga

           Durante anos tenho tentado cuidar de voce e de sua vida. Consegui . Lembro da sua infancia quando o medo de nao ser aceita era constante em seu coracao, assim como o medo de decepcionar. Voce era diferente mas  ainda não sabia que essa diferenca viria a ser  a sua forca, o que lhe faria ser  tao especial .  Numa determinada idade ouvia constantemente que vc nao era a mais bonita da sala , mas todos queriam ser o seu melhor amigo. Te-la  no grupo. Lembra do dia em que a professora ligou para a sua mae para dizer que voce nao quis jogar queimado e sim futebol? Voce sempre foi autentica, o que muitas vezes te causou dor. Não desistiu e, do seu jeito, trilhou um grande caminho de conquistas, de amor e principalmente de humanidade. Suas mazelas fizeram de voce uma pessoa com luz, para cima, amiga. Alguém que acredit nos amigos. O outro é nosso reflexo. Te anima  fazer com que as pessoas se sintam bem. Estar mal com alguem faz voce sofrer , angustiar-se.
 Hoje me  incomoda ver que voce deixou de acreditar que é um espirito de luz. Voce é o seu carisma. Pense na pequena que adora sua companhia. Acordar de madrugada para conversar com ela  é prazeroso porque voce acredita que momentos especiais nao tem preço, mesmo que  tenham, para voce.Voce cresceu com o medo e a duvida.Quis  provar para as amigas e para a familia que poderia se envolver. Foi assim com o primeiro. E foi legal. Veio o segundo e voce sentiu na pele o que a economia de afeto pode fazer conosco. Sofreu, mas sabe chorar na hora certa, sabe sorrir e se resguardar quando  é necessario. Acredite, amiga, quando voce se permite ser voce mesma  é a melhor coisa do mundo. Conheceu gente da UNb e do Ceub e  ficou com alguns. Curtiu a vida e viajou muito. Voce gosta da vida!
          Entrou no Candanguinho indicada por uma  amiga de sua irma , que hoje faz parte da sua vida e está presente em quase todos os momentos da  tua vida. Ela quis que voce fizesse parte da vida dela. Do mesmo modo muitas outras pessoas  se aproximaram por conta da sua vontade de viver e do seu alto astral. Com o tempo percebeu que voce se bastava.Tinha seus amigos que queriam ter voce sempre ao lado.
           Quando voce  conheceu quem hoje se despede o que lhe impulsinou foi uma imensa vontade de cuidar, de dar um sentido à vida da pessoa. Voce deu  muito e de peito aberto. Experimentou então  a sensacao de estar apaixonada. Descobriu  coisas e ensinou outras.Voce tem o dom de acalmar e encantar coracoes. Soube afastar o medo com tanto amor que hoje os meninos tem o seu jeito , suas manias , sua vontade de viver. Apesar das dificuldades voce amou.  E agora percebe que precisa se afastar. Tá sofrendo.
          No curso que voce ministra ou  num  papo com algum amigo triste voce se envolve e se doa. Sempre  diz algo que as toca. Emana amor, entra na essencia do outro. Acredita no encontro, no chame gente e concorda que rir é  o melhor remedio. Lembra dos namorados da sua irma que adoravam voce? Lembra de dançar~lhes o Calypso?
           Os passes  que voce dá ajudam a curar, sua energia amorosa cura dores, angustias .
           Amiga,  porque sua energia nao está voltada para voce neste momento de dor? Não está com saudade de voce? Onde se esconde a minha amiga que entregava o dia e acreditava que tudo iria dar certo? Foi assim que passou no vestibular, empregou-se, comprou casa própria e hoje fala de energia eletrica sem se quer ter estudado engenharia.
          Seu curso é um sucesso porque emana humanidade e as pessoas estao cansadas e desacreditadas por serem tratadas como mercadoria barata. Voce nao quer que eles aprendam apenas a economizar energia.Quer que eles mudem suas vidas. Que busquem sua essencia .Voce consegue isso ainda que esteja passando pelo caos. Sofrendo. Guarda as lágrimas no bolso e segue na lida.
          Querida Towanda, coloque sua cabeca no lugar , busque a sua paz. Entrega e espera estar inteira para ir ter com os outros. Respeite-se  e volte a confiar na  vida. Assim como acontece quando entra um dinheiro extra e  tudo se resolv, né mesmo?. Entrega e confia. Confia e descansa.
           Nada podemos fazer para mudar o outro, mas podemos mudar a nos mesmos. Confie que de um jeito ou de outro voce vai ficar bem, a vida é justa. Quem semeia vento colhe tempestade. Não é o seu caso.
           Nos ultimos dias voce esteve em contato com inúmeras pessoas das quais muitas disseram que, de uma forma ou de outra foram tocadas por voce. Como? A área do curso é de exatas e não de humanas!(?)
          Assim, amiga deixe  que as pequenas coisas te toquem.  Escuta! Não temos o controle, acredite nisso!      
Por hora  nada pode  fazer ...apenas acalmar seu ser e buscar a sua paz. Logo a dor passa. Desfrute da sua companhia . Acalma seu coracao. Seus medos.Voce ficará bem. Nao espera atitudes dos outros e  nao se esqueca. Voce é diferente. Sempre foi.  Gente como voce não consegue entender a pequenez humana. Não se identifica com ela.  Acredite, amiga, amar voce é bom. Te- la na vida é uma dádiva.  Ouvir suas historias é divertido , estar em sua companhia é revigorante. Voce é amor...e isso ninguem poderá tirar-lhe. Lembra do Oswaldo? Metade de voce é amor e a outra tambem...Siga em frente e cuide-se. Se hoje  a dor e os questionamentos te atordoam amanhã pode ser que depare com o portal. Continua a caminhada. Saiba que aprendi a gostar de voce e hoje tenho orgulho do que voce construiu apesar dos pesares. A gente não  quer voce perfeita. A  gente  quer voce Marina .
          Beijo no seu coracao. Saudade de voce. Cuide-se e chore o que tem para chorar pois já sinto cheiro de riso no ar. Os grandes pedem socorro.Volte para  casa em busca de si mesma. Volte-se para voce. O resto a vida se encarregue. Sem lutas. Sem brigas. Chega  de lágrimas!
          Se perder-se também é caminho, achar-se pode ser a  chegada.
          Com todo o meu amor.
          Paz profunda!
          Marina.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O caderno, uma metáfora da vida

          Sou professora e como tal acompanhei a evolução dos cadernos. Hoje, verdadeiras obras de arte, capa dura e espiral. Nem  sempre foi assim. Mas não é sobre a aparencia dos cadernos que quero falar. Quero falar sobre o significado do caderno, sua mensagem, sua metáfora.
          Lembro de errar muito. Sempre. Meu pensamento é muito rápido e eu atropelava um pouco as coisas. Atropelava não, atropelo! As vezes isto tem um custo. Enfim, parece que estou vendo um filme. Eu levantava o braço para que a professora viesse a minha carteira para ver os erros. Quando eram tantos que ficaria difícil corrigi-los a professora me olhava e dizia: Vamos virar a página!? Ela mesma o fazia, alisava a nova página, ainda limpinha, e dizia: Pronto. Vamos começar de novo, com calma e com alma. Só depois que atuei como professora entendi a fala "com alma". 
          Penso que é dali que  vem a expressão "virar a página", ou "é página virada". Metáforas usadas para nos lembrar que muitas vezes teremos que recomeçar. Uma metáfora forte e sutil ao mesmo tempo. Forte porque todos nós tivemos  literalmente cadernos em maõs e sutil porque o convite a virar a página era um hábito, não uma punição, o que amortecia o nosso constrangimento. Me recordo de um sentimento gostoso que parecia me dizer que eu não estava de todo perdida,  ainda tinha uma chance. E eu seguia para a próxima página com a confiança que  o gesto da professora me proporcionava.
          Assim, o caderno me ensinou que os erros não precisam ser fontes de castigo. Mas uma nova oportunidade. Um recomeço! Afinal, "o erro tem que estar a serviço da aprendizagem"! Diz Fábio de Melo.
Tanto a aprendizagem academica quanto a da vida, aquela que nos faz ao mesmo tempo mestre e discípulo do cotidiano.
          Vale a pena conferir a letra da música "O caderno" de Chico e Toquinho. Ou a sua versão feita por Fabio de Melo.
          Saudades da carteira escolar e dos cadernos Avante!...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

De quando me joguei no mar

          1966...Naquela época era muito comum os colégios aproveitarem os dias comemorativos e levar os alunos para passeios, por exemplo.... em Paquetá. Este texto se dedica a contar mais uma de minhas aventuras. Desta vez acompanhada de Jayme, um dos primos que eu amava e queria por perto na minha juventude.
          Já falei antes que eu adorava menino? É. Eu achava as meninas um saco. Cobravam muito e não eram corajosas como os meninos, naquela época pelo menos.Eu achava menino o máximo. Eles podiam tudo. Eram inventivos e me protegiam em qualquer situação.. Até que...
          A escola do jayme ia levar a turma dele para passar o dia do estudante em Paquetá e cada aluno podia convidar alguém. Era comum entre nós dois um convidar o outro e o outro convidar o um. Ele falou comigo, que falei com minha mãe, que falou com o meu pai, que deu o dinheiro, etc...Fomos...
         O Jayme, talvez por ser super levado ou por ser menino e exibido parecia o dono da ilha, o que me deixava vaidosa de ser a escohida dele para o passeio.
         Sorvete, bicicleta, barco. . . Foi aí que o drama começou. Ele foi falar para a professora que íamos alugar um barquinho. Ela disse que custava dinheiro. Ele disse que tínhamos o dinheiro. Alugamos.Remamos, remamos e quase afundamos. Quem conhece Paquetá sabe que ali, acolá tem pedras que lembram ilhotas por todo lado.
          O barco estava se afastando muito rápido da praia. A professora foi ficando pequenininha. Lá na areia gritando, o que não dava para ouvir , mas podíamos imaginar, pelos gesto que fazia com os braços. Jayme, vamos voltar! Tá com medo? Não se garante? Claro que não! Já cansei de te dizer que não tenho medo de nada! Não parece!, é que  Jayme a professora tá do tamanho de uma mosca! E nós estamos navegando em círculos!
          Havíamos encalhado numa das pedras. Panico! Ele era bem intencionado e machão. Eu que me acalmasse porque ele tava pensando no que fazer. Numa estratégia. E..... me mandou pular no mar. Simples assim! Anginha pula e empurra o barco. Ora, vivíamos (se é que ainda não vivemos) num mundo masculino. A palavra de um menino valia mais do que a de uma menina. Pulei... Gente... eu to dizendo que pulei. Pode? Me lembro de beber litros da água salgada e suja de Paquetá. Não dava pé pra mim. Agitado, mas sem perder a pose, gritava. Anginha dá um mergulho dos bons até teu pé chegar no fundo,  impulsiona e quando subir empurra o barco. Primeira vez que me senti usada por um homem. Logo ele? O meu herói? O cara que me levou pela primeira vez à matine do Cine Bruni Grajaú? Como? Tava confusa demais para desobedecer. Me joguei no mar. Já cansada de movimentar o barco em circulos agradeci a Deus quando a professora, percebendo o perigo, mandou que o salva vidas fosse nos tirar de lá.
          Jesus, Maria e José! Passamos o resto do dia sentados na areia de castigo. Mas estávamos vivos, o que parecia irritar a professora que ficava repetindo. Podiam ter morrido! Merendamos o lanche que nossas mães haviam preparado e ficamos vermelhos do sol.
          Agora faço como minha amiga Ana Marta... Saudade de mim quando achava que sabia remar e que a praia tava perto. Como tudo tem dois lados, acho que valeu. Embora tenhamos ficado de castigo nos olhávamos com um sentimento de termos feito algo que os outros coleguinhas não ousaram fazer e, eu particularmente tive minha primeira lição de não confiar tanto em alguém, ainda que se tratasse de um homem.
          Voltei várias vezes a Paquetá com namorados. Olhava para a ilhota onde havíamos encalhado e ria, perplexa  mas orgulhosa, lembrando da vez que obedeci cegamente meu herói infantil...Criança faz cada uma!!!


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Luzes da ribalta

vidas que se acabam a sorrir
Luzes que se apagam, nada mais
É sonhar em vão tentar os outros iludir
Se o que se foi pra nós não voltará jamais
Para que chorar o que passou?
Lamentar perdidas ilusões
Se o ideal que sempre nos acalentou
Renascerá em outros corações.

Charlie Chaplin era ingles, mas se considerava "um cidadão do mundo."
"A vida é uma tragédia se vista de perto, mas uma comédia se vista de longe"
"A vida é maravilhosa se não se tem medo dela"
"Cada dia que passa sem um riso é um dia perdido"

Charlie Chaplin cresceu na miséria e viveu em instituições para crianças destituídas. Viveu assim a sombra e a luz. Dizia que a tragédia e a comédia nunca estão longe uma da outra. Sabedoria adquirida com sua própria vivencia de vida.
Luzes da ribalta  mostra claramente as crenças de Charlie Chaplin.
"Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente".
É incrível que pessoas que  tiveram  tantos motivos para chorar tenham feito do riso seu ofício. E nos deixado  músicas  como "Smile" como legado.

"Sorria mesmo que seu coração esteja doendo.
Sorria ainda que seu coração esteja partido.
Sorria"...

Pensando com os meus botões (um retorno)

Justo a mim coube ser eu mesma!
          penso, logo existo!
          Cá com os meus botões..
          Tenho sangue portugues correndo nas veias.
          Mas eu chego lá. Sou esforçada!  
          Já consigo postar meus textos sem a mestra Bia.   
          Cresci.....
          Dilíííííssa!



                                                                                                       

O tal do dolo

          como é difícil e, ao mesmo tempo importante, que ajamos com dolo.
          Recebi mais um email da Ana que me fez pensar. E, como sempre, por causa de uma palavrinha apenas.Aprendiz das letras, lá vou eu como um Sherlock Holmes empunhando uma lupa, pensar no tal do lodo.
          Não que eu ache ruim este mental todo, mas às vezes o exercício cansa. Ou não. E ainda te dá material para mais uma conversa.
          Anos atrás conversava com a Bia sobre a adolescência e a necessidade que o jovem tem de impor sua maneira de ser aos pais sob pena de não o fazendo, tornar-se um mero repetidor dos mesmos.Lembro me de na hora pensar na “demarcação de território” assunto que a Clarissa disserta tão bem.E pensar comigo mesma ser saudável tal atitude.
          Escarafunchando mais um pouco pensei ser na adolescência que se vai adquirindo o tal do dolo. É o tempo no qual agimos com vontade própria. Agimos então, em decorrência da própria decisão. E os pais? Enlouquecem. Afinal vinham até então mantendo o “controle” das coisas. Será?
          Dolo, doloso (linguagem usada na Justiça referindo- se por exemplo a um crime), adolescer, adolescente...Penso ser muito tênue este momento. Lembram do índio queimado vivo por adolescentes em Brasília? Um momento difícil.Talvez o mais difícil para os pais. Momento em que o dolo pode se tornar doloso, num piscar de olhos.
         Só não podemos temer a hipótese e seguirmos a vida como papagaios a repetir gestos e palavras sem que coloquemos a nossa marca, a nossa impressão. Cautelosos, sim. Alias, sempre! Do contrário pagaremos um preço altíssimo.
          Dia destes num almoço  de domingo, conversávamos sobre as possibilidades de ação. Lalá perguntava se não seria melhor agir com impulso. E tentava convencer a Ju, que é mais moderada. Conversa vai , conversa vem, a coisa ficou mais ou menos como receita. Vive se com impulso desde que este não nos torne kamikazes e vai se alternando com moderação, desde que esta não nos mate antes da hora.
          Ponderando, ora aqui ora acolá, quem sabe a gente segue com o tal do dolo. O dolo bom, eu diria. Aquele que faz com que a gente se sinta eterno adolescente. O mesmo que fez com que Lalá me trouxesse do Canadá uma plaquinha discarada que diz:" I'm still a hot babe, but now it comes in flashes." Moderados ousados???

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Senta-te aqui que quero falar-te!

          E agora, gentil senhor, vá te chegando por que quero falar-te. Não te demores ou terei que puxar tuas orelhas pela 2° vez. Senta-te perto e ouve esta gaiata  com atenção, já que a vida ainda te permite ouvir.
Bem sabes que minhas lembranças são tuas também como são teus, alguns gestos meus; mas não me olhes assim. Brinco apenas. Não te pavoneies caso eu o elogie um pouco. Te aquieta e ouve só com o coração.
          De ti herdei os olhos estranhos, de encantos tamanhos, como cantava outrora a musica.Herdei o nome, graças à Deus, numa versão feminina inteligente e sábia. Já imaginastes tu me chamando de Domingas?
          Carrego também esta vaidade que às vezes, me faz menor. Ah... e o raciocínio rápido... matemático, pragmático.O bom caráter e o zelo extremo para com os nossos.
          Contigo aprendi a gostar de tango, fado e filmes, bolero, café e cigarro.Aprendi a gostar da língua portuguesa e a usar dicionários numa rapidez precisa.Aprendi a implicar com quem arrastasse os pés perguntando às pessoas se estavam cansadas.
          De ti peguei o habito de ouvir repetidamente as musicas que gosto a ponto de mamãe pedir para parar antes que o disco furasse.De tanto ouvir-te dizer que “quem conta um conto aumenta um ponto”, não fugi à regra e aumentei pontos e pontos inúmeras vezes em minha narrativas.
          A melancolia, ora fugaz ora preguiçosa, que se instala, quando saudosos, lembramos do passado.      A teimosia e uma certa cafonice.
          A mania de querer por a alma em tudo o que se faz, desde escrever cartas para o papai Noel ate sair pra comprar uma samambaia num domingo quando se preparava um bom cozido. E por quê? Porque uma “casa portuguesa” sem samambaia é inconcebível. Menos, vai!
          E o tom dramático ao ouvir qualquer música mais triste que nos lembrasse os nossos?A Severa, por exemplo. Te falei que estive no Severa em Lisaboa?  Que saudosismo o nosso, né mesmo? Somos meio que Marialbas, embora já não frequentemos a noite tanto assim.
           Herdei de ti a vontade de aprender e a escuta atenta que isto requer. Ainda me lembro de você me perguntando algo sobre os templários e da tua atenção ao que eu explicava.
           Sou distraída como você. Lembra te do guarda-chuva perdido12 horas após teu velho pai te-lo comprado?
          Algo tem que você não precisava ter me passado. Pra que mudar tanto de idéia ou de propósito ou de rota ? Que inquietação é esta? Há quem diga que somos incoerentes ou imprevisíveis.  E por quê temos que defender uma tese, caso venhamos a comer algo mal feito; como os quindins em Brasília? Não os experimente! São de matar qualquer desavisado.
          Poderíamos continuar aqui a ponderar semelhanças, não fosse a pressa que se instala estes dias.
          Assim deixo-te agora prometendo voltar  noutra hora,se tivermos sorte, noutro lugar. Eu volto. Volto para te buscar.

Cadê nós?

          Ora, quem não se lembra das nossas avós batendo na casa da vizinha a pedir dois ovos pra um bolo?
O mundo evoluiu e essas avós que cozinhavam e usavam óculos e avental felizes de ouvirem as novelas de radio em cadeiras de balanço se foram.
          Mais tarde as avós, leitoras de “Cláudia” buscavam mais. Tocavam piano e se intelectualizavam no Scuf. Faziam nossas fantasias juninas ou de anjinho para as festas escolares infantis. Uma ocasião especial e nos presenteavam com um belo vestido feito na velha máquina Singer.
          Carmem da Silva, uma das maiores jornalista que este país já teve, dizia que estas mulheres tinham de ser de circo; adestradas na infância.
O fato é que para nós, mulheres, ser criativa é atributo.Somos multi facetadas.Ou melhor,antenadas e articuladas, para usarmos palavras atuais. 
          Uma pena que o que antes tenha sido uma tentativa de preservar à saúde rumo à longevidade hoje tenha se tornado a busca frenética de uma juventude mal fabricada.
         É claro que uma dieta balanceada ou aquela pintura nos cabelos  nos cai bem, fazem parte. Assim como um bom creme de corpo.Vá lá. O problema é querer aparenta 40 anos estando com 60. Matemáticamente, não dá. Porque não pormos  nossa energia em algo menos utópico?
Apontem-me no   mundo de hormônios artificiais, botox e cirurgias plásticas um rosto bonito como tinham nossas mães em ocasiões especiais. Uma ruga, bem hidratada com maquiagem suave é apenas uma ruga. Qual o problema?
Os cabelos de hoje lembram cabelos de bonecas . Os rostos estão disformes. Os óculos escuros cresceram e mais parecem black outs a nos colocar no anonimato.
A maquiagem é definitiva e, ao sair do banho embora os cabelos estejam despenteados a maquiagem se impõe ao rosto molhado. Intacta!
As roupas mudaram. Não importa mais o tecido, o corte, o caimento. Tudo isto é relevado se a roupa te deixar mais jovem do que sua irmã mais nova ou tão jovem quanto sua filha.
As ruas se tornaram passarelas de mal gosto. Jeans apertadíssimos . Tamancos altíssimos. Brincos enormes, bustos exagerados, unhas verdes ou azuis e blusas cada vez mais transparentes. A gente não consegue mais ver a pessoa que tem por trás da produção, o que me faz perguntar: Cade nós? 
         Minha amiga Darcy diz que, algumas coroas, seriam capazes de beber  leite em pires para se convencerem de que são gatinhas.
         É constrangedor percebermos que estamos nos escondendo dentro de um corpo que mais parece casa antiga em permanente reforma.
         Amigas, nem só de prozac vive um ser humano! Mais aconselhável seria que trocássemos a fluoxetina por uma longa escuta, escuta de nós mesmas. Que tal refletirmos sobre a menopausa e fazermos dela nossa conselheira? Refletir sobre a vida que se viveu e a que ainda se vai viver.
          Érico Veríssimo tinha uma mulher encantadora e, já idosa, perguntaram-na como ela via a velhice; no que ela respondeu: -“Acho ótima; Até porque a alternativa é a morte”.
          Chega de tentar estender uma mocidade artificial. Cada coisa no seu tempo. Assim como a Fernanda,  a Lya Luft e tantas outras que estão envelhecendo com tanta classe e tanto carisma.
         Que tal  um brinde a cada etapa  vivida com a dignidade que vem da certeza de termos somado? Santé!!!

domingo, 12 de setembro de 2010

Hoje no escuro



Hoje no escuro me acho, me agacho, fico ali...
Porque já tentei encher meus escuros da luz da ilusão,
e nada enxerguei.
Me agacho por que preciso estar do tamanho que me sinto
Nem maior, nem menor.
Ou, porque ainda tenho medo.
Mas, Já não fujo.Fico ali.
E, ensaio viver
Perder,
Merecer,
Me ouvir,
Pra me achar.
E se me ouvindo, me acho
Já não sofro por me agachar.
Já não preciso fugir.
E, por não mais precisar fugir,
Fico ali...
Feito feto espero  um renascer.
Nascer de mim mesma
Dos meus escuros
Parir me.
Fico ali...

Alugo um "pedaço do paraíso" na serra

       
         Itaipava, Petrópolis, RJ. Chalé Nyübu. Quarto, sala, cozinha, banheiro e varanda. Localizado no Sítio Do arco da velha. A uma hora e meia do Rio, o sítio oferece piscina, churrasqueira, campo de futebol Society, casinha de bonecas e um pequeno play ground. Alugo para  temporadas, feriados e finais de semana. Delicie-se com as fotos.
          TRATAR pelo telefone: (61) 91535167

sábado, 11 de setembro de 2010

O tempero é a alma da cozinha

          Tais um caso do arco da velha. Numa das vezes que estivemos em Itaipava tia Irene, minha madrinha, veio estar conosco por uns dias.
           Muito prestativa que é foi logo se oferecendo para fazer uma torta de espinafre. Receita que ela faz desde que eu me entendo por gente e que é uma delícia.
          Negão estava saindo e perguntou-lhe se precisava de algo. Sempre faz isso. A tia foi logo dizendo: “ ah, meu filho, já que vai na rua trás mostarda em pó para a torta. O tempero é a alma da cozinha, né mesmo?” Confesso que estranhei. Pensei: “ Nossa que exótico!” Lá se foi ele . Obsequioso, como sempre.
          Duas horas depois nada de voltar. Vai que o celular toca : Oi, amor, escuta uma coisa eu não to achando a mostarda. Já estou em Petrópolis e nada. Petrópolis fica a trinta kms de casa. E o coitado tinha ido de venda em venda procurando a mostarda, em pó. Teve até um lojista, o filho do seu Ailton, que disse estar em falta no momento. Um excelente negociante. Quem sabe numa próxima vez? Não é à toa que tá no ramo há mais de quarenta anos. E Negão seguiu buscando o que nunca iria encontrar.
          Digo a tia que ele não está encontrando a mostarda em pó, no que ela responde: Mostarda? Pra que Mostarda? Tia, você encomendou e Negão é obediente. Tá até agora procurando. Não filha, não é mostarda é noz moscada. Tico deve ter saído e Teco deve ter cochilado. Desculpe filha, acho que troquei os nomes.
          Risos. Até hoje! Toda vez que a recebemos e que ela vai para a cozinha fazer a torta Negão pergunta: Tia, compro mostarda em pó ou noz moscada serve? kkkkkkk
          Nada como ter estado no exército por quarenta anos para entender que se roda o mundo, se for preciso, para obedecer uma ordem. Diz Negão... Risos
           Em particular, discordo da tia. A experiencia de vida me faz apostar que a fome é o melhor tempero.Mas já que um dia lutamos tanto pela liberdade de expressão, é ajuizado que a exerçamos, né não?


Por quem os sinos dobram?

    Tava aqui pensando como é reconfortante ouvir sinos tocando. Daí lembrei de igreja, de missa, de órgão, do Miserinha e lembrei que numa postagem anterior prometi voltar e contar mais uma historia.
          Lá no Miserinha tínhamos aulas de canto. (Pode?) As aulas eram no adro da capela. Lá no alto, onde ficam os órgãos numa igreja.
          A professora era a irmã Rutinha. Uma irmã velhinha surda e Pequena, de andar lento e cabisbaixa. Igualzinha a irmã Dulce. Como era lenta no caminhar, já cansado pela idade, muitas vezes nosso grupinho chegava à capela antes dela só para desafinar o órgão; o que fazia com que a irmã tivesse que sentar e reafinar o instrumento. Fazendo com que as teclas graves voltassem a soar graves e as agudas voltassem a soar agudas.
          Por tudo isto a gente adorava as aulas de música porque eram como uma pausa no academicismo do quadro negro. E, ainda tínhamos que nos deslocarmos do pavilhão das salas para a capela, o que não deixava de ser uma aventura pelos jardins ensolarados do colégio.
          Naquela época haviam lançado um brinquedinho simples que era um saquinho de pano , do qual soava uma gargalhada escandalosa cada vez que se apertava determinado ponto do saquinho.
          Ora, o grupo era criativo. Logo decidimos levar o dito saquinho para a capela. Depois de afinar o órgão a irmã, já sentada, olhava para trás e acenava com a cabeça sinalizando estar pronta. Concordávamos com a cabeça e, no momento em que ela se virava de costas para nós, a gargalhada vinha estridente confundindo a pobre velhinha que levantava, ollhava uma por uma e se espantava de não nos surpreender rindo, enquanto o saquinho escondido debaixo de um dos bancos gargalhava sem parar.
           Nestes momentos tinha sempre uma aluna mais saliente ou mais corajosa que dizia para a irmã que a risada vinha lá de baixo. Do pátio. A irmã se arrastava até a janelinha e pedia silencio com um “psiu!” fraquinho, enquanto com agilidade desligávamos o dito saquinho.
          Assim foi que um brinquedo bobo conseguiu criar uma cumplicidade no nosso grupo da qual tenho saudades. E assim foi que no dia do meu casamento me emocionei quando o órgão soou os primeiros acordes. E assim é que, neste momento, me pego pensando na irmã Rutinha e me ponho a rezar por sua alma. Que ela descanse em paz num lugar de música suave vinda de algum orgão bem afinado... Assim seja!



O jardineiro fiel


     
    Do arco da velha tem jardineiro novo. Jordeny. Chegou quietinho e quietinho faz seu trabalho. Anda devagar porque já teve pressa. Faz um ano que está com a gente. O sítio é outro. O jardim agora pulsa. Tem vida! Tem cores! Tem alma!
          Jordeny e Marisa. Sua companheira. Aos poucos foram conquistando nossa confiança. Hoje o sítio sobrevive com o zelo dessas duas pessoas. Ele planta da Lavanda à abóbora, do cheiro verde à taioba . Nas horas vagas pinta portão, muro e chalé. Troca porta, faz cerca,limpa piscina .Alimenta as cadelas, Vyrna e Menina. E cria um galinho lá no fundo do quintal.

          Atende os hóspedes sempre com cara boa e muita humildade. Corre na venda de bicicleta para prover o que for preciso. Colhe jabuticaba e,quiçá, lava o carro que estiver sujo no pátio. Fala pouco. É circunspecto. É fiel. É leal. O tipo de gente rara estes dias.

          Marisa abre a casa, bate os travesseiros, os cobertores, bate bolo de fubá e passa um café. Prepara um caldo para a noite e deixa as camas arrumadas com perfeição. Tem aquela cara boa que o povo do interior costuma ter. É cuidadosa com a casa, com os filhos e com o que fala. Ponderada, eu diria. Já entendeu que o silencio vale ouro.

          Duas pessoas com quem conto a qualquer hora. Gente simples. Duas pessoas buscando o pão de cada dia aqui no Arco da Velha. Com a gente. Duas pessoas buscando Deus nos domingos à noite. Duas pessoas buscando o futuro dos filhos no suor da luta, no suor das massas e das maçãs. O que me faz lembrar a música e concordar com a letra que diz ser preciso a paz pra poder sorrir. Ser preciso a chuva para florir.





O Miserinha

          Colégio Nossa Senhora da Misericórdia. Bairro do Andaraí. O Miserinha. Nome carinhoso dado pelas alunas que nele estudavam. Diferente do Companhia de Maria,conhecido por sua rigidez e madres austeras e antiquadas, o Miserinha era um colégio feminino, privilegiado por sua paisagem quase bucólica e famoso pelas freirinhas que nele trabalhavam. Todas muito meigas e de pensamento avançado para a época. Razão pela qual minha mãe concordou, depois da minha insistência, que eu fosse estudar lá. Mamãe não gostava de freiras. Tinha sido aluna pobre de colégio de freira e sofrido o preconceito na pele. Não queria isto para mim.
          O ano era o de 66 ou 68 e o Rio vivia o auge da ditadura. Eu tinha primas e amigas que já estudavam lá e amavam o colégio. Até hoje me vem a lembrança dos corredores encerados e limpos. Do silencio e do badalar do sino da capela. Ali dentro se experimentava a paz. Ou, pelo menos, eu a experimentava. Um sentimento, como diz o meu livreiro de Itaipava, de sentir que a vida tava em ordem. Fui muito feliz com aquelas freiras.
          Eu me via como uma adolescente meio que saliente. Ou, mais autentica. Graças à Deus sempre pude ser eu mesma. Resultado talvez de uma educação mais aberta, menos rígida. Minha mãe era dada a diálogos. Amava a proposta de Summer Hill. Tinha um pensamento à frente do seu tempo. Lá em casa se conversava sobre tudo, o que resultou numa relação “arejada”, muito diferente da que eu via nas casas das minhas amigas.
          Sendo assim eu não precisava fingir que gostava das aulas de religião. Preferia, por exemplo, bater papo com a Irmã Maura. Uma noviça legal à beça de conversar com adolescentes. Havia com ela uma identficação que me punha a imaginar como ela teria se tornado freira e parado ali. Pessoa tão aberta que era. Querida mesmo.
          Tinhamos um grupinho, é claro. Uma por todas e todas por uma. Assim foi que um dia entre uma aula e outra o nosso grupinho estava no corredor esperando a aula de religião que acontecia numa sala à parte no final corredor. Aquele dia tava tão legal que imaginei um desperdício estragá-lo com uma aula tão monótona. E, fui mais longe. Assim que a irmã passou por nós e entrou na sala vi a chave na porta e a tranquei. Ingênua, pensava estar tudo resolvido. Lembro-me das colegas sorrindo com um riso nervoso, o que estranhei. Afinal eu as tinha livrado daquela coisa “cacete”, como se dizia na época.
         Segundos depois entendi o nervoso delas quando ouvi o chocalho da madre superiora. Explico. Esta andava com um molho de chaves junto a cintura, se é que se pode chamar assim, que quando caminhava nos corredores silenciosos fazia chocalhar como uma cobra.
          Ela foi chegando mais perto, mais perto e a chave da sala queimando na minha mão fechada. Em pânico arremessei a chave pela janela do corredor que dava para um terreno cheio de mato. Estava Salva! Pensava eu. E pra explicar que a irmã estava lá dentro porque o vento bateu a porta? Costumo dizer que eu tive uma vida muito boa. Diferente do que eu esperava, a madre superiora não me constrangiu com sermões. Mas, alegria de pobre dura pouco, me chamou na sala dela para conversar e insistiu em chamar mamãe no colégio que , por sua vez insistiu em chamar um chaveiro e deu por resolvida a questão. “Não se fala mais nisto.Tenha uma boa tarde, irmã!”
          Não me lembro de, em casa, ter ficado de castigo por causa da “gracinha”, nem de ter sido repreendida. No fundo no fundo acho que mamãe entendeu o meu gesto e, não deixou de apreciá-lo; uma pequena vingança por ter sofrido humilhações nas mãos de religiosas quando criança. Pelo resto da vida sempre que o assunto era juventude ela contava o caso, com um brilho cúmplice nos olhos, e, aqui entre nós, muita galhardia.
          Anos depois voltamos ao colégio pois queria casar-me na capela do Miserinha. A madre superiora, já mais velhinha, não me reconheceu (não falei que tive uma vida boa?).Talvez já fosse o Alemão, mas quando eu disse meu nome ela deu um sorriso enigmático ,daqueles que você não sabe se trouxe lembranças boas ou ruins, e apenas repetiu... Angela de Frias...Pôs a mão no queixo, me olhou nos olhos e, diplomáticamente, exclamou: É um prazer casar uma ex aluna na nossa capela. Não preciso dizer como eu e mamãe saímos do colégio. Cabeças erguidas, sentimento de ter contribuído para a ordem e o progresso da sociedade do Rio de Janeiro. Tudo muito civilizado...

          Quando entrei na igreja de véu e grinalda não era apenas a Angela de 23 anos. Trazia comigo outras Angelas conhecidas dos tempos de colégio. Companheiras dos tempos de folguedos. Chorei de emoção com os primeiros acordes do órgão. O velho órgão. Mas esta é uma outra história. Para uma próxima postagem. Aguardem!

Itaipava, Petrópolis, RJ, again...

   
   Setembro de 2010. Em Itaipava outra vez. E, como não poderia deixar de ser andei visitando minha amiga Marta. Falei de Marta rapidamente numa postagem anterior. Marta, mulher de Fernando, é a dona de uma das lojas mais queridas de Itaipava. A Sun guardian. Nenhum nome poderia descrever melhor a proprietária. Marta é assim: meio que sol , meio que guardiã. Vive alegre. Tem um sorriso e um jeito de ser que a tornam a própria guardiã. Guardiã da alegria, do bem receber os clientes e amigos. Uma figura!!! Fala à beça. Mas não fala apenas com a boca. Fala com o coração. Mistura assuntos, atende os clientes e ainda faz graça. O Astral!!! 
        Sua loja é um encanto. Logo que você chega ela já aponta uma cadeira como se antes de vender, preferisse criar uma intimidade confortante com você. Fernando é mais reservado, o que dá a Marta total espaço para que sua performance aconteça, cada dia de uma maneira diferente. É, porque ir à Sun guardian é se permitir, antes de tudo, uma pausa. Aquela pausa suave embalada por uns CDs que Marta escolhe à dedo, tocando baixinho e que acompanham tão bem os incensos a queimar e os sinos que soam aqui e acolá.
      O tema principal da loja é a decoração de jardins. Embora não se possa passar batido pelos objetos de decoração dispostos ali. Marta e Fernando participam da Master Casa com terraços incríveis. No ano passado tive a sorte de estar na serra na época do evento e pude apreciar o terraço que eles bolaram usando as quatro estações como tema. Belo!!! Este ano não deu, mas vi a foto na revista Master Casa Ambientes. Lindo! Como sempre.
      Agora Itaipava tem uma novidade. É que Marta abriu, no mesmo complexo de lojas, um café. O nome? Sun guardian momentos. Segundo ela um lugar para a gente momentear um pouco e ainda tomar um café, chá ou chocolate saboreando uma torta, um biscoito, um pumpernickel(?) Só a Marta mesmo! De quebra os chocólatras ainda podem comprar balinhas e chocolates importados para os netos ou quiçá um item decorativo. Um xamego!
     “Abafa o caso”, diz ela quando te promete um desconto ou facilita a compra de algo em sua loja. Demais, te abraça, te deseja sorte, pede para você voltar para conversar noutra hora ou olha para o céu levantando os braços dizendo: “Hare Baba”! Te leva até a saída, te apresenta aos lojistas vizinhos, te aponta um novo restaurante, te dá um beijo e te deseja um ” Até o futuro!” E , muito agitada que é, faz um test drive de volta a loja...Uma figura!
     Estando de passagem pela serra vale a pena conferir. SUN GUARDIAN decoração de jardins. Estrada União e Industria, 10.550 lojas 7 e 8. Tel: (24)22226354 -Ou nos endereços thesun@uol.com.br ou ainda thesunguardian@redetaho.com.br